JUNHO 2012
O DESAFIO DE QUEM CUIDA DE CRIANçAS COM ALERGIA ALIMENTAR
Enf. Fernanda Vila
nanda.vila@sapo.pt

Todos nós idealizamos um filho perfeito. Passamos mais ou menos nove meses a sonhar. De que cor serão os olhos, os cabelos, a quem se parecerá, terá bom feitio, será atleta? Será inteligente, será menino, ou menina? Chega finalmente esse dia tão esperado e eis que supera todas as nossas expectativas! É o ser mais lindo na face da terra! Ser mãe é a maior realização que uma mulher pode ter! Passamos assim alguns meses a contemplar aquele ser. É uma grande nostalgia! Tudo parece estar perfeito. E eis que um dia, após a ingestão do leite artificial ou papa láctea, os primeiros sintomas aparecem. Após observação no Serviço de Urgência é-nos dito que provavelmente o bebé apresenta alergia às proteínas do leite de vaca! A nossa ansiedade dispara, mas ainda ficamos com uma ligeira esperança de que isto tudo não passe de um equívoco. É neste momento que começam as análises, as picadas, enfim a dor dele e a nossa.

Os resultados da análise confirmam todas as nossas dúvidas. Aí o mundo cai novamente em cima de nós! Afinal, o nosso filho tem uma alergia às proteínas do leite de vaca! Ficamos em choque e só perguntamos porquê? Os membros da família apresentam vários graus de negação adaptativa quando percebem o impacto que o diagnóstico tem sobre as suas vidas. É uma fase que pode durar dias a meses, algumas vezes ainda mais. A negação é considerada uma reposta normal a qualquer tipo de perda.

A presença de um irmão doente quando existem outros irmãos saudáveis desencadeia um sentimento de isolamento e de deslocação da díade/criança doente, uma vez que esta requer cuidados de atenção especial. Por vezes, pode resultar em menos atenção dada aos outros filhos, por parte dos pais. Perante esta situação, é prescrito um leite hidrolisado, ou seja, sem proteínas do leite.

Afinal, este tratamento parecia tão simples: evicção das proteínas! Se retirarmos as proteínas do leite, o bebé terá um desenvolvimento igual aos outros! Tudo muito bem durante um, dois anos, mas se a alergia continua e a criança começa a ter uma alimentação mais diversificada, onde estão esses alimentos? Quais são os alimentos que não têm leite na sua composição? Como fazemos essa evicção? Como podemos ir de férias? Como lidar diariamente com esta situação? Qual o papel da escola? Que respostas temos para os nossos filhos? Como vivemos com estas inseguranças e estes medos? Esperamos um ano por uma boa noticia e novamente as respostas são as mesmas. O seu filho mantém a alergia, vamos fazer novas análises para o próximo ano!

Ora, a alergia alimentar é uma resposta clínica anormal atribuída à ingestão, contacto ou inalação de comida, derivados e aditivos alimentares. Resumindo, a alergia alimentar é uma reação alérgica que é desencadeada por um determinado alimento. Desta forma, a criança alérgica pode reagir à ingestão do alimento, ao contacto, ou por inalação. 

O consumo de alergénios alimentares, muitas vezes de uma forma oculta em alimentos processados industrialmente, tem contribuído para o aumento de reações alérgicas graves que decorrem de uma forma acidental. 

A alergia alimentar na criança tem implicações a vários níveis:
Saúde (riscos de reações graves, riscos de défices nutricionais, como por exemplo défice de proteínas).
Económicos (custo das dietas alternativas, inexistência de produtos para consumo).
Sociais e psicológicos (dietas especiais, risco de ingestões inadvertidas, integração no meio social).

Deste modo, as crianças com alergias alimentares precisam de uma vigilância maior por parte dos cuidadores, profissionais e familiares. 

Papel dos pais e educadores

Os pais devem ler sempre os rótulos das embalagens dos produtos de consumo, bem como produtos de higiene e beleza, pois muitas vezes contêm componentes alergizantes.
Ensinar à criança a não aceitar comida sem os pais conferirem.
Comunicar a situação à instituição onde frequenta a criança. É fundamental comunicar também com a pessoa responsável pelo refeitório. 
Na escola, esta criança deve fazer as refeições em conjunto com as outras crianças. O importante é colocá-la com colegas mais “responsáveis”, para que não haja ingestão/contacto inadvertido do alimento a qual é alérgico.
Inteirar-se dos aniversários dos colegas para que a criança também coma algum alimento. Ainda há crianças que são afastadas da sala no momento de partir o bolo, pois nada podem comer! Posteriormente, vem a prendinha para casa cheia de guloseimas, que novamente não pode comer. E a criança volta a perguntar: o que é que posso comer? Os pais devem ter sempre um bolo sem proteínas lácteas. Deve estar congelado às fatias para poder levar para estas ou outras ocasiões. 
É fundamental proporcionar alternativas alimentares. 

A criança com doença crónica poderá ter repercussões negativas na autoestima individual e familiar, provocando sentimentos de inferioridade e abandono, que são uma ameaça à qualidade de vida. A criança vai crescendo e está constantemente a perguntar: posso comer? Não! E isto, posso comer? Não! Cresce a ouvir diariamente “não”. São crianças com autoestima baixa. 

Os pais têm um papel fundamental na alimentação destas crianças com alergias. Se existem restrições alimentares, logo terão que ser criativas. Não podem oferecer um determinado alimento, então oferecem outro. Porque não procurar receitas novas e começar a apreciar novos sabores? Se um bolo leva leite, então podemos substituir por sumo, por leite de coco, etc. Se leva margarina ou manteiga, podemos substituir por banha de porco. Vamos cozinhar para todos e vamos saborear em família. 

Não esqueçamos a festa de aniversário destas crianças. Vamos proporcionar alimentos sem restrições, afinal elas são os aniversariantes! Já basta as festas que elas frequentam, em que não podem comer quase tudo o que está nas mesas. Com criatividade, conseguimos ricos lanches, é preciso é não desanimar. 

Em relação às férias fora de casa, é sempre preferível ir para um hotel com kitchenette. Comer em hotéis e restaurantes é sempre complicado, porque há sempre um risco de ingestão inadvertida. 

Apesar destas dificuldades, os pais devem proporcionar todos estes momentos de socialização e lazer. Deixá-los ir a festas e convívios com outras crianças faz parte da socialização da criança. Devem levar sempre a sua merenda e verificar previamente quais os alimentos que podem ingerir.

As crianças/jovens com alergias alimentares são especiais/iguais se todos os profissionais trabalharem em equipa e com objetivos comuns para que cresçam com autoconfiança e autoestima, de forma a que um dia sejam profissionais competentes e decididos.


 


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