ABRIL 2012
DILATAçãO E TORçãO GáSTRICA
Dr. Paulo Araújo – Médico Veterinário
vetfunchal@mail.telepac.pt

A dilatação e torção gástrica, vulgarmente conhecida apenas por torção gástrica, é uma patologia digestiva que se caracteriza por uma acumulação anormal de ar no estômago, seguida da sua torção sob o seu eixo longitudinal. Esta síndrome é mais frequente em raças de grande porte e com o peito profundo, em que os ligamentos hepatoduodenais e hepatogástricos apresentam geneticamente uma maior laxidão, como por exemplo, o Grand Danois, o Pastor Alemão, o Setter Irlandês, o Dogue de Bordéus, o S. Bernardo, o Serra da Estrela, mas também já foi descrita em raças de porte médio, embora com uma incidência muito inferior.  

Apesar da causa específica permanecer desconhecida, existem factores que definitivamente contribuem para o seu aparecimento, como sejam, exercício físico intenso antes ou logo após as refeições, dietas com constituintes altamente fermentáveis (feijão, grão, rações pobres em fibra), administração de uma única refeição diária, aerofagia provocada por stress e ingestão muito rápida da comida.

Quando ocorre a acumulação de ar no estômago, este tem tendência para rodar sobre si próprio com obstrução do cárdia e do piloro, contribuindo assim para o contínuo aumento da sua dimensão. Esta rotação do estômago leva também à deslocação do baço e dos seus vasos, ocorrendo a congestão do baço e necrose da parede gástrica. O fluxo da veia cava e porta também ficam comprometidos, diminuindo assim o retorno venoso e redução acentuada do débito cardíaco, com o aparecimento de arritmias cardíacas graves. Esta estase sanguínea e consequente hipoxia (falta de oxigénio nos tecidos) conduz ao aumento da absorção de endotoxinas bacterianas, com o animal a entrar em choque profundo e conduzindo à sua morte. 

Os principais sintomas desta síndrome são: aumento súbito e evidente do volume abdominal, palidez das mucosas, tentativas infrutíferas de vomitar, flatulência, hipersalivação, dificuldade em respirar e agitação inicial seguida de depressão. O animal deve ser levado o quanto antes ao seu veterinário assistente, que deve proceder a uma fluidoterapia agressiva de forma a corrigir as alterações metabólicas e electrolíticas e descompressão gástrica através de uma sonda oro-gástrica. Após a estabilização do canídeo, é necessário realizar uma cirurgia que consiste na recolocação do estômago na sua posição anatómica normal e sutura da região do antro pilórico à parede abdominal (gastropexia). Esta cirurgia evita que o estômago sofra torções futuras, mas não evita que possam ocorrer dilatações gástricas. 

Uma vez que se trata de uma situação grave, que necessita de intervenção veterinária urgente e com elevado risco de vida para o animal, a prevenção assume primordial importância. Assim sendo, existem alguns conselhos úteis que contribuem de uma forma efectiva para a diminuição do aparecimento desta patologia, por exemplo: alimentar o animal várias vezes ao dia (mínimo duas vezes), evitar que a refeição principal seja a nocturna, controlar a ingestão de água após as refeições, evitar o exercício físico intenso ou situações de stress antes ou logo após as refeições e colocar a comida em suportes, de modo que o cão não tenha de se baixar muito para comer. 

Para concluir, sempre que suspeitar que o seu animal esteja a desenvolver um quadro de dilatação e torção gástrica, não hesite em contactar rapidamente o seu veterinário, pois alguns minutos podem fazer toda a diferença entre o sucesso ou insucesso do tratamento.


 


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