Dr. Eduardo Hernandéz Loreto – Médico Veterinário convetcanico@gmail.com Nos primeiros tempos, a afinidade entre os homens e os animais domesticados teve fins fundamentalmente funcionais. Os cães vigiavam propriedades, campos e povoações, assistiam no pastoreio e na caça. Já os gatos eram bem-vindos por auxiliarem no controlo dos ratos e outras pragas. No entanto, sempre houve pessoas interessadas na defesa dos direitos dos animais. Já dizia Voltaire, famoso filósofo francês do seculo XVI: “Que ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que os animais são máquinas privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre da mesma maneira, que nada aprendem, nada aperfeiçoam! Vê com os mesmos olhos esse cão que perdeu o amo e procura-o por toda parte com ganidos dolorosos, entra em casa agitado, inquieto, desce e sobe e vai de quarto em quarto e enfim encontra no gabinete o ente amado, a quem manifesta sua alegria pela ternura dos ladridos, com saltos e carícias. Responde-me, teria a natureza entrosado nesse animal, todos os órgãos do sentimento sem objectivo algum? Terá nervos para ser insensível?”. Hoje em dia, a situação da relação entre o homem e os animais é bem diferente, graças a um processo conhecido como humanização: os animais de estimação estão cada vez mais perto das famílias e conquistam seu espaço de membro. A convivência já é tão próxima que alguns estudos estatísticos afirmam que na Europa e nos Estados Unidos, a percentagem de donos que consideram os seus animais de estimação como membros da família já chega aos 30%. Esta situação traz consigo as consequências próprias do relacionamento humano: temos como exemplo o facto de que os nossos bichanos chegam a sofrer de doenças típicas dos humanos como a ansiedade, depressão, colesterol, obesidade, alguns tipos de diabetes, entre outras. Mas não só os animais são afectados, sendo que o desaparecimento físico dos nossos estimados companheiros acaba por afectar psicologicamente os donos. Da mesma forma que a morte um familiar é quase sempre um acontecimento inesperado e traumático, a morte dos animais de companhia é considerada por muitos donos como a perda de um membro da família. Devemos lembrar que a sua esperança de vida é inferior à nossa e a mesma é variável. Nos cães, as raças mais pequenas por norma apresentam uma esperança de vida que é sensivelmente o dobro da dos cães de maior porte. Já nos gatos, a esperança de vida depende das raças: por exemplo, os gatos de raça Persa apresentam uma esperança de vida inferior àqueles que não têm uma raça definida. A Eutanásia Eutanásia é um termo cuja etimologia vem do grego (eu + tanatos), que significa boa morte ou morte sem dor. A prática da eutanásia é suportada pela teoria defendida na Declaração Universal dos Direitos dos Animais, que advoga pôr termo à vida do animal quando este apresenta uma doença incurável ou está submetido a intoleráveis sofrimentos físicos. Artigos da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, relacionados com a morte de um animal: Artigo 3º A) Nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a actos cruéis. B) Se for necessário pôr fim à vida de um animal, este deverá de ser inanimado instantaneamente sem dor e de modo a não provocar-lhe angústia. Artigo 11º Todo o acto que implique a morte de um animal sem necessidade é um biocídio, isto é um crime contra a vida. Artigo 13º O animal morto deve de ser tratado com respeito. A eutanásia nos animais de companhia está justificada somente nos seguintes casos: - Doenças incuráveis em que a qualidade de vida do animal esteja de tal maneira comprometida que a solução mais humana é efectivamente pôr termo ao seu sofrimento. - Quando o nível de agressividade de um animal é de tal forma elevado que impossibilite o convívio do animal consigo próprio, com outros animais ou com as pessoas. A concretização de uma eutanásia é o acto médico mais repulsivo que um veterinário pode realizar, uma vez que significa que já não há mais nada a fazer para solucionar o caso apresentado. Certos proprietários são absolutamente contrários a essa prática, mas a pergunta fundamental é: estará certo deixar um animal prosseguir a sua existência quando está a passar por um sofrimento de tal maneira cruel que a terapêutica não é capaz de atenuar? Também existem pessoas que pensam que têm o direito de pôr termo à vida do seu animal, por qualquer motivo de menor importância. No entanto, tal como indica o Artigo nº 11 da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, isso seria um biocídio. Para além disso, os profissionais da medicina veterinária obedecem a um código de ética, que os impede de realizar eutanásias que não estejam plenamente justificadas. O Luto Todas as pessoas que alguma vez foram tocadas pela dedicação afectiva de um bichinho de estimação também experimentaram a dor da perda, pelo que a elas dedico estas palavras. O luto é uma tristeza ou uma sensação profunda de pena em consequência de uma perda, é um processo de sofrimento geralmente relacionado à morte de um ser amado, neste caso o nosso bichinho. Lidar com a perda de um animal de estimação muitas vezes não é fácil, nem deveríamos tentar passar por cima do processo natural da tristeza. Lembremo-nos sempre que não estamos sozinhos. O luto tem várias fases, que são: Choque, Negação (incredulidade), Sofrimento, Recuperação e Aceitação. O luto é admirável e é próprio dos humanos, não sendo antinatural ou embaraçoso. |