MARçO 2012
FISIOTERAPIA RESPIRATóRIA EM CRIANçAS
Dra. Catarina Castro – Fisioterapeuta
reabilitesse@sapo.pt

As doenças respiratórias (DR) infantis têm verificado uma crescente incidência que se relaciona, por um lado, com a evolução dos germes responsáveis pelas infeções respiratórias e, por outro, com fatores ambientais como o tabaco, o ar condicionado e a poluição (Postiaux, 2000). Devido a aspetos estruturais do seu sistema respiratório e a predisposições genéticas, as crianças são particularmente vulneráveis às infeções respiratórias, sendo as bronquiolites e as pneumonias as mais frequentes e mais graves (Postiaux, 2000). Em Portugal, 30% das crianças têm doenças alérgicas como a rinite e a asma afeta 15% da população infantil . A cada ano, no mundo, 15 milhões de crianças com menos de 5 anos morrem de doenças respiratórias (Postiaux, 2000). Assim, as doenças respiratórias, além de uma questão de saúde pública são, em termos socioeconómicos, um problema que não pode ser ignorado.

A fisioterapia ou cinesioterapia respiratória tem sido amplamente utilizada com o intuito de facilitar a eliminação das secreções respiratórias, diminuindo o esforço respiratório e melhorando os parâmetros de oxigenação (RPA, 2000). Comumente, a intervenção nas doenças respiratórias infantis aparece associada à administração de aerossóis, cujos objetivos são a fluidificação das secreções, a hidratação da mucosa e a deposição local de medicação (Abreu & Lopes, 2006). Porém, actualmente o fisioterapeuta dispõe de outras técnicas, ditas modernas, cuja eficácia tem sido demonstrada, nomeadamente:

- Desobstrução Rinofaríngea Retrógrada (DRR) com instilação de soro. Esta técnica destina-se à criança com menos de 24 meses. Consiste na introdução de soro nas narinas da criança, mantendo a sua cabeça em ligeira extensão. Aguarda-se pelo final da sua expiração para lhe fechar a boca com a mão, induzindo uma inspiração forçada ou fungar. Esta técnica produz uma redução da tosse e febre, restabelecimento da ventilação nasal, bem-estar geral do bebé e retorno à alimentação normal (Postiaux, 2000; RPA, 2000).

- Expiração Lenta Prolongada (ELPr). Esta é uma técnica passiva de ajuda expiratória aplicada ao lactente. O fisioterapeuta coloca uma mão sobre o tórax e outra sobre o abdómen e exerce uma pressão lenta e sincronizada das duas mãos, durante e até o máximo de expiração (Postiaux, 2000). A efectividade desta técnica é determinada pela auscultação pulmonar ou simplesmente pelo aparecimento de tosse espontânea, que revela mobilização das secreções de distal para proximal (Postiaux, 2000).

- Tosse Provocada. É utilizada principalmente no lactente incapaz de cooperar com uma tosse activa. É desencadeada, habitualmente, no final da inspiração ou início da expiração, por uma pressão breve exercida pelo polegar colocado transversalmente na traqueia (Postiaux, 2000). 

Em quadros clínicos particulares, pode ser necessário recorrer à aspiração, oral ou nasal. No entanto, a sua utilização deve ser extremamente criteriosa e a última opção na desobstrução das vias aéreas já que, quando mal realizada, pode provocar lesão/irritação da mucosa (Postiaux, 2000). 

Outro aspecto fundamental que não deve ser esquecido pelo fisioterapeuta é a Educação aos cuidadores, de modo que estes consigam identificar sintomas, sinais de alarme e intervir em segurança. Até aos 6 meses, a criança tem dificuldade em respirar pela boca, respirando principalmente pelo nariz. Os cuidadores deverão, por isso, conhecer os sinais que indicam obstrução nasal, de forma a agirem atempadamente, evitando quadros de dificuldade respiratória. São sinais de obstrução nasal: a criança manter a boca aberta, procurando respirar pela mesma; interromper com frequência a alimentação; ressonar demasiado durante a noite; apresentar rinorreia anterior (corrimento nasal) (Postiaux, 2000). 

A fisioterapia respiratória deve ser realizada preferencialmente meia hora antes das refeições ou, pelo menos, uma hora e meia após as mesmas, sendo que a duração total da sessão não deve exceder os 30 minutos (Balachandran, Shivbalan, & Thangavelu, 2005). Deve, ainda, ser executada com a criança no colo do fisioterapeuta ou da mãe, posicionada de modo a que a cor facial e a respiração possam ser verificadas com frequência (Balachandran, Shivbalan, & Thangavelu, 2005).

É de salientar que a aplicação de qualquer uma das técnicas supracitadas deverá ser efetuada por um profissional habilitado para o efeito, neste caso, um fisioterapeuta.
Em suma, atendendo aos elementos epidemiológicos e de morbilidade apresentados, e à efetividade demonstrada pelas técnicas acima referidas, o recurso à fisioterapia respiratória na criança deverá ser uma prática cada vez mais frequente no nosso país.


 


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