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O cio nos gatos nem sempre é algo agradável e desejado pelo dono, pelo que algumas recorrem a anticoncepcionais para os seus gatos, sendo estes facilmente encontrados em clínicas veterinárias e farmácias e até mesmo, muitas vezes, prescritos por veterinários.

Mas é fundamental alertar sobre os riscos na utilização desses produtos, pois muitas pessoas administram os anticoncepcionais pensando ser esta a opção mais segura e menos dispendiosa, sem saber os perigos em que incorrem os seus animais de estimação.

Os anticoncepcionais podem ser encontrados sob a forma de comprimidos ou injecções e tendem a retardar ou suprimir a fase de aceitação sexual dos animais além de incómodos como o sangramento nas cadelas.

Existe uma fase certa do ciclo do animal para se aplicar o anticoncepcional. Na cadela, é mais fácil identificar essa fase, mas na gata, por ser um animal que apresenta vários cios por ano, é bastante mais complicado. Muitas pessoas aplicam a medicação sem saber o período certo, o que pode acabar por trazer mais problemas. 

Muitos donos aplicam a medicação quando o animal já está no cio, o que é extremamente prejudicial para a saúde das fêmeas. Para além disso, é muito comum gatas prenhas receberem a medicação porque os seus donos desconhecem que estas estão gestantes. Na totalidade destes casos, os fetos irão morrer, ficando retidos no útero até que ocorra uma grande infecção, colocando a vida da gata em perigo. 

Na infecção uterina, o útero pode ficar repleto de secreções, aumenta muito de tamanho e o organismo começa a absorver o conteúdo purulento (pus), levando o animal a uma intoxicação por toxinas bacterianas. Se esta for diagnosticada a tempo, é possível o tratamento cirúrgico, que consiste na remoção do útero (esterilização), associada a uma terapia com antibióticos (piómetra). Por ser uma situação de emergência, coloca a vida do animal em grande risco. As complicações dessa infecção uterina podem incluir septicemia (infecção generalizada) e insuficiência renal, podendo levar à morte.

Outra grave complicação são as neoplasias mamárias (tumores de crescimento não controlado, rápido, desordenado, infiltrativo e destrutivo), que geralmente são malignas e requerem tratamento cirúrgico bastante invasivo e, em alguns casos, tratamento quimioterápico.

Os anticoncepcionais predispõem também o animal a doenças endócrinas, como o hiperadrenocorticismo, e promovem resistência insulínica, fomentando o surgimento da diabetes mellitus. Também pode ser observada falha, ausência ou descoloração do pelo no local da aplicação da injecção na cadela.

Como sempre, o recomendado é a castração, mas existem pessoas que são contra esta medida, por pensarem que “maltrata”  ou "mutila" o animal. No entanto, não tomam em consideração a verdadeira mutilação que se verifica quando é necessária uma cirurgia de remoção uterina emergencial por infecção, um piómetra ou numa mastectomia radical por tumor mamário.

De qualquer forma, castrar ou não é opção de cada um, mas o uso de anticoncepcional é algo incerto, não seguro e até fatal. Não adianta fazer comparações com o anticoncepcional humano, uma vez que este é um medicamento totalmente diferente (e muito menos dar anticoncepcional humano a uma cadela ou gata).

As gatas reproduzem-se de três em três meses, e as cadelas de seis em seis meses. Em seis anos, uma cadela e seus descendentes podem gerar milhares de filhotes, estimativa que aumenta muito quando se trata de gatos.

Quando saem às ruas para "dar uma voltinha", estão sujeitos a muitos perigos. Há doenças de cães e gatos que não são evitadas pelas vacinas e cujo tratamento é difícil e caro, isto quando não são fatais.  

No caso dos machos, também é aconselhável a castração desde pequenos, pois as fêmeas quando entram no cio produzem feromónas que deixam os machos inquietos, como se fossem eles próprios que estivessem no cio.

A falta de informação sobre os benefícios da cirurgia mantém o preconceito sobre a castração, que é a única solução definitiva para o bem-estar dos seus animais de companhia, quer sejam eles machos ou fêmeas.

Quanto mais precoce for a esterilização do animal, maior a garantia de todos os benefícios. A cirurgia de castração pode e deve ser feita antes da idade adulta (antes do amadurecimento dos hormónios sexuais) - a partir dos cinco meses de idade.

Todos animais recebem anestesia antes da operação, portanto não sentem qualquer tipo de dor. Os cuidados com o pré-operatório exigem apenas algumas horas de jejum. Os cuidados pós-operatórios são essenciais para o sucesso da cirurgia: devem ser dados os medicamentos prescritos pelo veterinário, para além de seguir todos os passos indicados.

Os benefícios da castração são muitos. No entanto, esta ainda é um tabu na nossa sociedade.