JANEIRO 2012
OS MEDOS NA INFâNCIA
Dra. Carina Freitas – Médica Pedopsiquiatra

O medo é uma emoção básica saudável importante para o desenvolvimento psicoafectivo infantil. O medo pode ser desencadeado por situações reais de percepção de perigo ou do desconhecido, ou pode ser fruto da imaginação das crianças. Pode manifestar-se fisiologicamente (coração palpitante, calafrios, suores nas mãos, sono agitado, incontinência urinária, diarreia e dor de barriga) e por alterações comportamentais (imobilidade, fuga, crise de choro, gritos e resistência).

Embora o crescimento de cada criança seja único, é possível identificar uma associação entre a idade/estágio de desenvolvimento da criança e o aparecimento de determinados medos. A frequência e a intensidade como são sentidos variam individualmente, de acordo com o temperamento da criança e dos pais, e de outros factores externos.

Existem medos reais que são importantes para a sobrevivência da criança (medo das alturas, escadas, piscinas, animais selvagens e ladrões), e que devem ser encarados com naturalidade, pois são medos protectores e que levam ao evitar dos estímulos que os desencadeiam. Têm a função de alertar e proteger a criança dos riscos oferecidos.

Entre os medos mais comuns, de salientar, durante o primeiro ano de vida, o medo dos adultos estranhos e do afastamento das figuras de referência (pai, mãe, prestador de cuidados). Por volta do segundo ano, é frequente o medo do escuro e o medo de dormir, associados à angústia de separação/abandono. Mais tarde, entre os três e os cinco anos, aparece o medo dos monstros e dos fantasmas, em parte desencadeado pelas histórias que as crianças ouvem e assistem. Por volta dos seis anos, coincidindo com o início da vida escolar e ao longo do seu percurso, surgem medos ligados a esta nova etapa da vida, bem como aos desafios a ela associados. 

Estratégias para ajudar pais e crianças

Os pais devem aprender a aceitar os medos, encarando-os como uma etapa natural de crescimento e amadurecimento emocional dos filhos;
Os pais devem fazer uma reflexão sobre o seu discurso e sobre os seus medos, analisando o modelo que representam para as crianças. Por vezes, a ansiedade dos pais é transmitida aos filhos;
Identifique a origem do medo, estando atento aos sinais demonstrados pela criança e incentivando-a a falar e a explicar os seus temores. O diálogo serve de alívio (diminuindo a intensidade do medo), além de promover uma maior aproximação e cumplicidade entre pais e filhos;
Seja compreensivo e respeite os medos da criança. Evite subestimá-la ou ridicularizá-la sozinha ou à frente de terceiros. Evite compará-la com outras crianças que não têm medo, nem falar diante de terceiros como os medos da criança o/a preocupam;
Conte histórias que falem sobre os medos e formas de os ultrapassar, apoiando-se em livros e em vivências pessoais. Se os pais relatarem à criança que também passaram por situações semelhantes, esta sentir-se-á apoiada e aceite, confiante na possibilidade de vencer os seus medos;
Torne as situações previsíveis, de modo que a criança possa controlar a ansiedade despoletada por situações novas: se ela vai a uma consulta médica ou ao dentista explique-lhe o que vai acontecer;
Se necessário, ofereça objectos para a criança se sentir mais segura, por exemplo na hora de dormir sozinha;
Não se esqueça que os medos protegem os seus filhos dos perigos diários, e esclareça sobre os medos reais para que a criança construa noções de perigo;
Incentive-a a ser autónoma e a ter um comportamento exploratório (acautelando obviamente os riscos). Assim, está a ajudar a desenvolver um sentimento de confiança e auto-eficácia, de que a criança é capaz de realizar as tarefas do dia-a-dia com sucesso;
Não utilize o medo como estratégia educativa. Por exemplo, evite ameaçar uma criança com um monstro que virá se ela não se portar bem, pois estará a reforçar o medo; 

De um modo geral, à medida que a criança vai crescendo e adquirindo a correspondente maturidade cognitiva e emocional, encontra estratégias eficazes e maior autocontrolo para lidar com os medos, diminuindo estes de intensidade. Na maioria dos casos, os medos acabam por desaparecer, resultando na promoção da autonomia da criança. Superar o medo é crescer emocionalmente.

Contudo, se o medo começar a interferir muito negativamente nas rotinas do dia-a-dia da vida da criança, possuindo uma dimensão persistente e patológica, condicionando a sua auto-estima e confiança, e se os pais sentirem que já não conseguem ajudá-la, deverão procurar profissionais especializados (pediatra, pedopsiquiatra, psicólogo), antes que a situação evolua para uma fobia.




 


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