DEZEMBRO 2011
DOENçAS DA TIRóIDE
A tiróide desempenha um papel fundamental na regulação do metabolismo e no bom funcionamento do nosso organismo. A Dra. Maritza Sá, Médica Endocrinologista, fala em entrevista das principais doenças relacionadas com a tiróide e esclarece alguns mitos sobre esta glândula.

O que é a tiróide?
A tiróide é uma glândula que se localiza no pescoço, logo abaixo da maçã-de-adão. Pesa em média 25 gramas e existe em todas as pessoas: esse é um ponto que é fundamental sublinhar, porque infelizmente existe alguma confusão em relação a isto. Há pessoas que se referem à tiróide como se fosse em si uma doença, o que não é o caso. A glândula tiroideia produz duas hormonas, a T4 e a T3, e estas são reguladas por outra hormona da hipófise, que é a TSH. Estas hormonas exercem funções na regulação de todo o organismo. Todos os órgãos dependem desta glândula, quer falemos da função do aparelho cardiovascular, do aparelho intestinal, etc.

Quais são os principais problemas de saúde associados à tiróide?
Temos de diferenciar entre os bócios e as alterações da função da tiróide, nomeadamente o hipotiroidismo e o hipertiroidismo. O bócio consiste em qualquer alteração do tamanho ou da estrutura da glândula: pode ser um bócio difuso, em que há um aumento generalizado, não havendo formação específica de nódulos, ou então podemos ser confrontados com nódulos, o que é muito mais frequente. No hipotiroidismo, há uma diminuição da secreção das hormonas T3 e T4, sendo a sintomatologia variada: pode surgir intolerância ao frio, pele seca, cansaço, queda de cabelo, unhas e cabelo quebradiços, obstipação, alterações da tensão, frequência cardíaca baixa, voz rouca e pastosa, e um inchaço generalizado no corpo, acompanhado de um ligeiro aumento de peso. Já no hipertiroidismo, ocorre um excesso de produção das hormonas T4 e T3, o que leva a sintomas como emagrecimento, intolerância ao calor, sudorese profusa, tremor fino das extremidades, alterações ao nível do trânsito intestinal, com a ocorrência de diarreia, nervosismo, irritabilidade fácil, para mencionar apenas os mais comuns.

Qual destas doenças é mais comum?
Os nódulos da tiróide são uma das patologias mais frequentes, havendo estatísticas segundo as quais afectam 12 por cento da população. São muito mais frequentes no sexo feminino que no masculino, com uma relação que chega a ser de 10 para 1. Os nódulos são tipo “caroços” que aparecem dentro da glândula, podem ser sólidos ou líquidos e, na maioria dos casos, são detectados através de ecografias que são pedidas por outro motivo. Quando os nódulos têm menos de 1cm de diâmetro, praticamente não há malignidade. No entanto, em alguns casos, pode haver uma tendência para os nódulos crescerem ao longo do tempo, pelo que é importante haver uma monitorização após a sua detecção. Podem aparecer apenas um ou vários nódulos, motivo pelo qual existem as designações bócio uninodular e multinodular. Quando os nódulos são grandes, pode ocorrer dificuldade em engolir ou pode haver um desvio com aperto da traqueia, levando a que os doentes se queixem de falta de ar. Se no caso dos nódulos sabemos que uma percentagem significativa da população é afectada, já no caso do hipertiroidismo e do hipotiroidismo não dispomos de dados concretos. No entanto, sabemos que existe uma maior propensão para estas doenças afectarem doentes do sexo feminino, sendo que esta vai aumentando com a idade. 

Estão identificadas as causas que levam às doenças da tiróide?
Há um maior agrupamento familiar, pelo que é provável que o factor genético seja importante. Antes, o défice nos níveis de iodo era muito frequente no bócio endémico, mas hoje em dia já não é tão frequente. O principal meio de consumo do iodo é através do peixe, todos os frutos do mar, mas há zonas em que a água e o sal já são iodados, para evitar situações de falta de iodo na população. Curiosamente, no último estudo nacional feito sobre o tema, veio-se a verificar que na Região Autónoma da Madeira há um défice do nível do iodo, o que foi um resultado bastante inesperado, tendo em conta factores como a proximidade do mar, por exemplo. O hipotiroidismo, regra geral, é provocado por uma Tiroidite de Hashimoto, em que há uma inflamação crónica da tiróide. Já o hipertiroidismo pode ser provocado ou por um nódulo funcionante ou por uma Doença de Graves, que é uma doença auto-imune, em que há um aumento generalizado da glândula. Nesta última o mecanismo é complexo, mas sucintamente, nestes doentes há anticorpos que vão estimular a glândula tiroideia levando a que esta comece a produzir em excesso.

É comum os doentes ficarem bastante tempo por diagnosticar?
É bastante comum, sobretudo no hipotiroidismo, se bem que hoje em dia, as pessoas já estão mais atentas. Muitos colegas de outras especialidades encaminham o doente imediatamente para um endocrinologista quando vêm algum indício de que se pode tratar de um problema na tiróide. A este nível, a rede de cuidados primários tem desempenhado um papel importante.

Quais os tratamentos disponíveis para estas doenças? 
No hipotiroidismo é usada a levotiroxina e o doente tem de fazer tratamento toda a vida. No hipertiroidismo, também é possível fazer tratamento farmacológico, com o metimazol, para diminuir a produção das hormonas por parte da tiróide. Quando estamos perante um bócio nodular tóxico, o tratamento pode ser com iodo radioactivo ou cirúrgico, sendo este último o tratamento mais usado; se houver contra-indicações para a cirurgia temos de optar apenas pela terapêutica farmacológica. No caso da Doença de Graves, regra geral, o tratamento é farmacológico. Depois, suspendemos o mesmo e vemos os resultados. Caso a doença volte, ou optamos por novo ciclo de tratamento médico ou poderemos ter de optar pela cirurgia ou pelo tratamento com iodo radioactivo.

Quais são as consequências de não se procurar tratamento?
No caso do hipertiroidismo, caso o doente não seja tratado poderá ter taquicardias e arritmias, levando a que acabe no Serviço de Urgência do hospital. No hipotiroidismo, a ausência de tratamento pode levar, no limite, ao coma e até à morte, embora isto seja raríssimo hoje em dia. De resto, sublinho que o custo dos medicamentos não é elevado, pelo que não é por aí que as pessoas deixarão de poder tratar os problemas na tiróide, mesmo tendo em conta a situação de crise que afecta o país, influenciando negativamente o poder de compra de muitas famílias. 

Ao nível do estilo de vida, há alguma coisa que os doentes possam fazer?
Infelizmente, não. Apenas no caso do hipertiroidismo há uma coisa que as pessoas devem ter em atenção: é preciso que evitem todas as situações que possam levar a uma sobrecarga de iodo, como por exemplo, exames radiológicos em que se usam contrastes iodados. Devem também ser evitados determinados fármacos que têm uma grande quantidade de iodo. De resto, o uso destes medicamentos em excesso pode mesmo despoletar o hipertiroidismo em pessoas predispostas.

Há quem diga que os indivíduos que aumentam muito de peso podem ter problemas na tiróide. Esta noção é correcta?
Muitas vezes, as pessoas associam o aumento de peso com alterações da função da tiróide. É verdade que no hipotiroidismo pode haver um aumento de peso, mas este é discreto em comparação com o aumento de volume: podemos estar a falar de um aumento de dois a cinco quilos, por exemplo. O doente sente-se sobretudo inchado, uma vez que existe retenção de líquidos, quase como se fosse um edema subcutâneo, com o volume a ocupar muito espaço. Há quem associe a obesidade com alterações discretas da função tiroideia, sobretudo da hormona T3, que justificam a descida do metabolismo, o que faz com que as pessoas não consigam perder peso. No entanto, quando uma pessoa tem um aumento de peso significativo num espaço de tempo curto, por exemplo 20 kg ou 30 kg num ano, raramente isso se deve a alterações na função da tiróide.


 


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