NOVEMBRO 2011
A AGRESSIVIDADE NA CRIANçA
Enf.ª Vera Lúcia Gouveia Pestana - Especialista em Saúde Infantil e Pediatria
veralgouveia@gmail.com

Quando se fala em comportamentos agressivos na infância, tal como o bater ou as tão habituais dentadas, podemos considerá-los como uma forma de comunicação associada à manifestação duma emoção forte (sobrecarga emocional). As crianças mais pequenas não têm inibições; expressam os seus sentimentos naturalmente e com facilidade. A forma de como as crianças lidam e vivem os muitos sentimentos que a vida lhes proporciona, fá-los-á adultos com maior ou menor capacidade de controlo das suas emoções. Numa primeira abordagem, uma criança que agride poderá necessitar de mais ajuda e atenção do que propriamente a que foi agredida. Orientou mal a manifestação da sua emoção e isso pode assustá-la.

Uma criança nunca é feia, má, ciumenta, destravada, egoísta, ou ciumenta. Devemos também evitar comparações do género: “és muito pior que o teu irmão”, “és mesmo desarrumado” ou “és uma peste”. A criança pode parecer discordar, mas aceita-a com tristeza e concorda com ela. “Tu és adulto, por isso, deves saber o que dizes”. Conscientemente ouvem, inconscientemente desenvolvem um sentimento de inferioridade que poderá levá-los a muitas inseguranças futuras. Em vez disso, podemos dizer: “tiveste um comportamento feio (ou destravado ou egoísta ou ciumento), mas eu sei que não és”. Adultos, pais e educadores, para ajudarem uma criança a se controlar, têm primeiro que ter o domínio de si próprios e agir calmamente. Uma criança rejeitada sente uma enorme necessidade de ser tranquilizada e se não o for, usará as tropelias como forma fácil e rápida de chamar a atenção e até mesmo como arma. Acredito que quase todas as crianças são muito amadas, mas muitas delas não o sabem. Peritos na matéria afirmam que cada olhar, som ou palavra pronunciado fica alojado para sempre no nosso cérebro, juntamente com as emoções que experimentamos nas mesmas ocasiões.

Mas como proteger as crianças agredidas sem rebaixar as agressoras?

Em primeiro lugar, a criança tem de aprender a acalmar a intensidade e o desconforto físico que acompanham um sentimento de agressividade (abraçar, pegar ao colo poderá ajudar), de modo a preparar-se para a tarefa seguinte: compreender a origem desse sentimento e perceber se é possível fazer alguma coisa e o quê, para tratar as causas. Eis mais algumas dicas que poderão ajudar a criança a alcançar isto:

•    Ajudá-lo a falar daquilo que realmente sente e as razões porque sente é primordial. Se forem muito pequeninos, depois podem fazer desenhos. Com muito tacto e delicadeza, insista com elas para que usem as palavras em vez de acções. Devem dizer em voz alta porque estão zangadas e porquê.
•    Ensine-o a se controlar sozinho. Demos como exemplo: ”sabes que não podes fazer isto, o teu amiguinho está a chorar e está muito triste…tenho a certeza que para a próxima irás conseguir te controlar (faça-o sentir que acredita nele). Agora ficas aqui um bocadinho e quando estiveres mais calmo voltas a brincar. Se voltares a fazer terás de voltar para aí novamente até conseguires te controlar”. Uma boa alternativa aos gritos e às bofetadas, sem dúvida. Um castigo que a mortifique de culpa poderá ser demasiado, negando o que fez, em vez de aprender com o sucedido. Cada criança tem o seu próprio ritmo de aprendizagem. Para algumas poderá levar mais algum tempo do que para outras. O ritmo delas poderá não coincidir com o que nós gostaríamos.
•    Ajude-as a ligarem os seus sentimentos às razões que os explicam. Fale com elas para descobrir o que está por trás das suas explosões. As crianças pequenas precisam muitas vezes de ajuda para descobrir o que foi que correu mal. Por exemplo: comece por: “estás zangado com o Pedro por ele te ter tirado o camião?” Com um pouco de paciência, serão depois capazes de explicar o que está a correr mal e porquê, em vez de agirem impulsivamente.
•    Dê-lhes a saber que os seus sentimentos foram tidos em conta e aceites (mas nem sempre poderão alterar as coisas). De novo poderá ser exemplo: “Tens todo o direito de estar aborrecido porque eu não estava a prestar atenção, mas agora estou.” Ou então: “Eu sei que estás cansado de esperar, mas tem mesmo que ser”.
•    Ensine-lhe mostrando directamente que morder (ou bater, etc.) não é uma forma aceitável de lidar com a raiva. Enfrente directamente o assunto, mostrando-lhes as consequências (duma maneira geral, procure usar as palavras). Por exemplo: “Não podes implicar com o teu irmão”. Explicar que para o irmão também não está a ser fácil. Explicações como: “Já viste se fosses tu a levar a dentada!” poderá não ter muitos resultados até em crianças com dois anos. Segundo Piaget, as crianças têm um pensamento egocêntrico, sem capacidade, portanto, de se colocar no lugar dos outros, existindo um realismo intelectual sem raciocínio. A partir dos quatro anos, apesar de ainda manter esta característica, ela já consegue lidar com os sentimentos com menor dificuldade, tendo mais facilidade em dar a conhecer as suas necessidades. Antes dos dois anos, a explicação deverá ser mais simples, com breves avisos colocando os limites e ensinando-a a se confortar (um brinquedo, o dedo para chuchar ou algo parecido). Ela olha-a com gratidão como se dissesse: “quando me descontrolar posso contar contigo”. Por vezes, um discurso claro para nós, poderá não o ser para as crianças.
•    Ajude as crianças a dizerem aquilo que querem. A maior parte das vezes choramingam por aquilo que não querem.
•    Mostre-lhes o que devem fazer a partir do seu próprio exemplo. É mais provável de que venham a fazer aquilo que ao pais fazem, do que aquilo que os pais lhes dizem para fazer.
Assim, certifique-se de que constitui para elas o modelo que deseja que elas imitem. Quando estiver zangado, diga-o com voz firme; mostre-se zangado em vez de perder completamente a cabeça. Depois de ter aliviado a irritação, esqueça o assunto, de maneira que elas percebam que ao expressar a raiva (duma forma aceitável) ela desaparece. Por exemplo: “Estou furioso….por não teres feito o que combinamos. Estou muito zangado. Afinal o que se passa?” Podemos estar muito zangados com os nossos filhos sem os insultar ou humilhar uma única vez. Limite-se a dizer directamente aquilo que sente e a falar das suas razões.

O autocontrolo aprende-se muito mais facilmente quando as crianças se sentem incondicionalmente amadas com pais e educadores firmes, justos e ao mesmo tempo carinhosos, com ideias claras e comunicação eficaz.

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