OUTUBRO 2011
A FEBRE
Dra. Sofia Ferreira – Farmacêutica
sofia.ferreira@farmaciadocanico.pt

Febre, ou pirexia, é a elevação da temperatura corporal acima de valores normais para o indivíduo. Por regra, considera-se febre quando temos temperatura: superior a 37,8ºC, quando medida na boca; superior a 37,2ºC se medida na axila; superior a 38,2ºC, se medida no ouvido; no caso das crianças até 5 anos, superior a 38ºC se medida no recto.

A manutenção da temperatura corporal em valores normais (homeotermia), resulta de um equilíbrio frágil entre a produção de calor, através do nosso metabolismo interno (que resulta num aumento de temperatura) e as perdas de calor, principalmente através da pele e vias respiratórias (que diminuem a temperatura corporal).

 Este processo de regulação de perdas de calor é mediado pelo centro termorregulador, situado numa zona do cérebro chamada hipotálamo anterior. Este centro funciona como um termostato, procurando sempre um equilíbrio entre as perdas e produção de calor, de modo a manter a temperatura corporal interna estável em torno dos 37ºC.

A febre resulta de um desequilíbrio ao nível do termostato hipotalâmico, ocorrendo, após um estímulo, um aumento do limiar hipotalâmico, ou seja, o ponto de equilíbrio da temperatura eleva-se para níveis mais altos (o termostato é reajustado para patamares superiores) e no sentido de diminuir as perdas de calor pelo organismo, de modo a atingir e manter o novo limite de temperatura assumido pelo centro hipotalâmico, o organismo reage de modo a diminuir as perdas de calor e manifestam-se, no indivíduo, sintomas que tendem a evitar essas perdas de calor, entre eles:

- Arrepios (o individuo sente frio);
- Tremores (são activados mecanismos de contracções musculares involuntárias);
- Vasoconstrição dos capilares cutâneos (ou seja, redução do fluxo sanguíneo da pele, diminuindo a quantidade de calor dissipada a este nível pelo organismo).
Tudo isto resulta numa poupança de energia, com aumento de temperatura corporal.

A febre é um sintoma e não uma doença. É um sinal de que o sistema imunológico está a tentar combater uma doença ou agressão ao organismo, sendo parte de uma reacção de protecção. O mal-estar que a acompanha faz com que o indivíduo poupe energia e descanse.

Quais os factores que interferem com a regulação da temperatura corporal, de modo a provocar o seu aumento?

Em situações normais, a temperatura corporal não é afectada por mudanças ambientais, mantendo-se constante graças a este mecanismo de regulação. No entanto, ela segue um ritmo circadiano, variando ao longo do dia, sendo mais baixa de madrugada e ao início da manhã e com o seu pico ao entardecer (por volta das 17horas), podendo atingir os 37,7ºC, mas geralmente, não varia mais do que 1,5ºC. Também nas mulheres a temperatura corporal é mais elevada e varia consoante a fase do ciclo menstrual.

Na presença de agentes agressivos vindos do exterior ou produzidos pelo próprio organismo, o sistema imune é estimulado, havendo produção de substâncias pirogénicas pelos macrófagos (células de defesa). Estas substâncias agem de modo a proporcionar a libertação de prostaglandinas que vão actuar no centro termorregulador (hipotálamo), fazendo, deste modo, com que o seu limiar de temperatura aumente.

Como o organismo das crianças desconhece praticamente todos os tipos de agentes potencialmente agressivos, estas são muito mais susceptíveis a desenvolver febre, pois quando o agressor invade o corpo da criança, este logo desenvolve resposta imune pela produção de prostaglandinas. É por este motivo que, muitas vezes, as crianças fazem febre e os pais não sabem muito bem porquê.

De entre estes factores capazes de estimular o centro termorregulador são de salientar:

- Factores extrínsecos (externos ao organismo): aqui incluem-se as infecções causadas por bactérias, vírus, protozoários, fungos, parasitas, e outros corpos estranhos, nomeadamente alergéneos (reacção alérgica), lesões no hipotálamo (devidas a traumatismos ou um AVC por exemplo), uso de certas drogas, excesso de exercício físico, excessiva exposição ao sol, etc.
- Factores intrínsecos (provêm do interior do organismo): aqui podemos referir doenças imunológicas (do sistema imunitário), alterações em órgãos ou tecidos, cancro, distúrbios hormonais, etc.

O tratamento de modo a controlar a febre, é feito com a administração de medicamentos denominados antipiréticos (medicamentos para diminuir a temperatura corporal), sendo o mais comum o paracetamol.

Todos estes esforços já referidos, feitos pelo organismo para conservar e produzir calor em situações de febre, mantêm-se até que o sangue que irriga o hipotálamo consiga atingir o limiar de temperatura definido por este. Depois, quando o termostato volta ao seu valor normal, o corpo elimina o excesso de calor através da pele e suor.

O termómetro é o aparelho padrão usado para medir a temperatura corporal - antigamente existiam os termómetros de mercúrio, agora proibidos pela toxicidade deste. Hoje em dia, existem termómetros analógicos (de coluna) com outras substâncias (nomeadamente gálio) e os termómetros electrónicos.

A medição rectal é considerada a mais precisa para determinar a temperatura corporal, principalmente em crianças (aqui devemos manter a ponta do termómetro no recto durante cerca de 2 minutos), apesar de ser mais comum a medição axilar (manter o termómetro na axila apertado pelo braço contra o tórax durante cerca de 4 minutos).

Na boca, devemos colocar o termómetro sob a língua, fechar a boca e aguardar cerca de 3 a 5 minutos.

Na medição da temperatura no tímpano (ouvido), é importante ter em atenção que pode haver uma grande variação, mesmo entre as medidas dos dois ouvidos. É importante repetir várias vezes as medições até confirmar os valores e usar sempre o mesmo ouvido.


 


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