SETEMBRO 2011
INTEGRAçãO SENSORIAL
Enf.ª Regina Freitas - Especialista em Saúde Infantil e Pediatria
reginacelia@sapo.pt

Sabemos que é através dos sentidos que vamos interiorizando informações e que vamos percebendo o mundo que nos rodeia. Quando estes falham ou ficam alterados, o acesso ao mundo fica perturbado, não possibilitando a correcta percepção e interacção.

A integração sensorial é uma forma de intervenção utilizada pelos Terapeutas Ocupacionais e pode ser descrita como o processo pelo qual o cérebro organiza as informações, de modo a dar uma resposta adaptativa adequada, organizando assim, as sensações do próprio corpo e do ambiente de forma a ser possível o uso eficiente do mesmo no ambiente. As nossas capacidades de processamento sensorial são usadas para a interacção social, o desenvolvimento de habilidades motoras e para a atenção e concentração.

O Processamento Sensorial inclui a recepção de um estímulo físico (Registo Sensorial), a transformação do estímulo num impulso neurológico (Orientação), e a percepção (Interpretação), ou seja, o consciente experiência as sensações e em seguida organiza uma resposta adaptativa adequada e executa-a. As funções de processamento sensorial ocorrem num continuum e de uma forma rápida e inconsciente (um exemplo deste processo é a reacção após tocar numa superfície quente).

Todos temos dificuldade em processar determinados estímulos sensoriais (um certo toque, olfacto, paladar, som, movimento, etc.) e todos temos preferências sensoriais. Só se torna um transtorno do processamento sensorial, quando estamos em extremos do continuum, ou seja, torna-se uma "experiência perturbadora”, com flutuações imprevisíveis e com um impacto significativo sobre a capacidade de desenvolvimento ou funcionamento diário. É essa ruptura que gera uma disfunção neurológica chamada Distúrbio do Processamento Sensorial.

Quando existem distúrbios sensoriais, estes podem afectar negativamente o desenvolvimento e as habilidades funcionais, quer sejam no comportamento, motoras, cognitivas, quer sejam ao nível emocional. De acordo com Kranowitz (2005), a predisposição genética, as circunstâncias pré-natais, a prematuridade,   a excessiva ou insuficiente estimulação, períodos longos de hospitalização ou institucionalização, são algumas das prováveis causas de alteração do processamento sensorial.

 Uma Perturbação Sensorial poderá:
- Afectar o comportamento da criança (por exemplo: impulsivas, desatentas, distraindo-se facilmente);
- Prejudicar os seus movimentos (nível de actividade alto ou baixo, descoordenado ou desajeitado, caindo e tropeçando frequentemente);
- Influenciar a sua capacidade de aprendizagem (dificuldade em concentrar-se, perturbar-se com os ruídos, distrair-se com estimulação visual);
- Influir na sua relação com os outros e a sua auto imagem (dificuldade em relacionar-se com crianças da mesma idade, demasiado sensíveis ou críticos, demasiado ansiosos ou receosos, tendendo a isolar-se ou frustrar-se facilmente). Pode impedir uma criança de brincar e de experienciar as interacções fundamentais para a aprendizagem e interacção social.

O  medo, ansiedade ou desconforto que acompanham estas situações quotidianas podem perturbar significativamente as rotinas diárias no ambiente familiar. Além disso, os ambientes escolares e sociais podem conter estímulos físicos que muitas vezes causam sofrimento significativo a essas crianças.

Os pais podem ter dificuldades em lidar com os problemas decorrentes do processamento sensorial, muito antes das crianças ingressarem no ensino escolar! Estes distúrbios podem tornar-se mais evidentes quando a criança entra numa creche e podem persistir na idade adulta.

A função principal dos sistemas sensoriais é realizar a tradução da informação contida nos estímulos ambientais (externos e internos) para a linguagem do sistema nervoso (sentir calor, detectar odores desagradáveis, etc.).

As alterações podem ocorrer num ou em todos os sistemas sensoriais, incluindo táctil, auditivo, visual, gustativo, olfactivo, proprioceptivo e vestibular.

São esses sentidos que devem ser olhados com cuidado:

- Táctil: o sentido do tacto; resposta dos receptores da pele sobre o toque, pressão, temperatura, dor e movimento dos pêlos sobre a pele.
- Auditivo: contribuição relativa aos sons, a habilidade de perceber correctamente, discriminar, transformar e reagir a sons;
- Oral: Relativo à boca, a habilidade de perceber correctamente, discriminar, processar e responder aos paladares ou a estímulos dentro da boca;
- Olfactivo: relativo ao cheiro, uma habilidade de perceber correctamente, discriminar, processar e responder a diferentes odores.
- Visual: relativo à vista, a habilidade de perceber correctamente, discriminar, processar e responder ao que se vê.
- Vestibular: situado no ouvido interno responsável sobre as reacções ao movimento e equilíbrio.
- Proprioceptivo: o sentido da "posição"; como o cérebro interpreta a posição do corpo, peso, pressão, alongamento, movimentos e alterações na posição. A capacidade de perceber espacialmente, cada segmento corporal em particular ou o corpo como um todo, tanto em situações estáticas, como nas actividades que demandam movimento (dinâmicas).

Todos temos alguns tipos de preferências sensoriais e talvez até leve um caso de "disfunção". No entanto, é a frequência, intensidade, duração e impacto funcional desses sintomas o que determina a disfunção.

Muitas crianças com alterações sensoriais a nível táctil, usarão somente as pontas dos dedos, quando brincam com areia, cola, tinta, comida. Assim, o seu jogo é limitado, tal como a sua capacidade de exercer experiências de aprendizagem. Podem ficar com medo, evitar actividades, retirar, ou actuar como seu corpo responde. Tem tudo a ver com a maneira como o sistema nervoso interpreta as sensações de toque e estimulação.

Para concluir, é importante reter que:
- A integração sensorial é uma desordem neurológica, não tem a ver como o facto de ser uma criança mimada, um produto de má parentalidade, criança desafiadora ou de uma doença mental!
- Trata-se de reacções a estímulos sensoriais específicos. É sobre como essa entrada é feita, organizada e utilizada para interpretar o seu ambiente e fazer o corpo reagir, pronto para aprender, mover, regular os níveis de energia e emoções, interagir e desenvolver-se adequadamente.
- Se conhece ou observa uma criança com um distúrbio do processamento sensorial. Quando os sintomas da disfunção de integração sensorial aparecem, procure o apoio de um profissional de saúde. Como acontece com qualquer problema, a chave é descobri-lo para que possa começar a tratá-lo o mais precocemente possível!

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