AGOSTO 2011
CáLCULOS RENAIS
A Litíase urinária, doença mais conhecida como cálculos renais ou “pedra nos rins”, descrita já nos artigos mais antigos da Medicina, afecta cada vez mais pessoas, predominantemente nos países ocidentais e industrializados. Vários factores  podem estar na origem desta situação: metabólicos, ambientais, hereditários, dietéticos (dietas ricas em proteínas e gorduras e fraca ingestão de líquidos). O Dr. Manuel Serrão, médico especialista em Urologia, alerta para a necessidade de prevenir esta doença e de procurar tratamento em tempo útil.

Qual é a incidência da Litíase urinária em Portugal?
Segundo algumas estimativas, cerca de 1 a 2 por cento da população mundial sofre de cálculos renais, sendo o homem o mais atingido. A faixa etária mais afectada situa-se entre os 25 a 50 anos, o que provoca absentismo, com consequente diminuição da produtividade laboral. Cerca de 20 por cento da actividade de um Serviço de Urologia de um Hospital em Portugal tem a ver com o tratamento da litíase.

Qual o mecanismo que provoca a litíase, as vulgares “ pedras nos rins”?
As “pedras dos rins”- cálculos renais: são estruturas pétreas constituídas por sais que se eliminam na urina e que podem aparecer em qualquer parte do aparelho urinário. Existem duas teorias que explicam a formação dos cálculos: ou por aumento da saturação urinária em sais eliminados pelos rins (cálcio, oxalatos, fosfatos...), ou então, por défice na urina de substâncias inibidoras da cristalização, ou seja, inibidoras do processo de formação do cálculo. Entre estas substâncias, encontramos o citrato, o magnésio ou o pirofosfato. Convém ter em atenção, que algumas destas substâncias inibem a formação de cálculos com uma determinada constituição química, mas podem favorecer o aparecimento de cálculos com outra constituição.

Quais são os tipos de cálculos mais frequentes?
Em Portugal, os cálculos mais frequentes são os de oxalato de cálcio e os de fosfato de cálcio. A seguir, vêm os de ácido úrico e depois temos os de cistina e os de xantina, que são extremamente raros.

Quais os factores mais vezes incriminados nesta situação?
Além de algumas situações particulares que se relacionam directamente com perturbações metabólicas e hereditárias, a doença litiásica está em muito relacionada com o estilo de vida das pessoas, nomeadamente com alimentação pouco saudável, deficiente ingestão de líquidos e sedentarismo. Vários acontecimentos ao longo do tempo vieram confirmar estes dados. Vejamos, por exemplo, o que aconteceu durante a II Guerra Mundial e nos anos seguintes, altura em que o acesso a uma alimentação rica em gorduras e proteínas era difícil, pelo que se fazia uma alimentação “pobre” e se bebia muitos líquidos: a incidência e prevalência da litíase urinária diminuíram de forma importante. Pelo contrário, com a melhoria das condições de vida das populações verificada ao longo dos últimos 30 a 40 anos, tanto em Portugal como no resto do mundo industrializado, em que as pessoas passaram a ter acesso a uma alimentação mais rica e a um certo número de facilidades, levando à diminuição da actividade física diária (sedentarismo), o aumento da litíase urinária foi evidente. Outros factores, nomeadamente os climáticos, também têm influência. Climas quentes em que as pessoas têm maior perda de líquidos, levando a uma maior concentração e saturação urinária em sais, levam a que estas fiquem mais predispostas à formação de cálculos. O mesmo mecanismo aplica-se às pessoas cujas profissões exigem permanência em ambientes quentes.

O que é possível fazer em termos de prevenção?
Já falámos da importância da alimentação: esta deve ser racional, variada, sem exageros calóricos, com poucas gorduras, poucas proteínas, pouco sal e pouco açúcar. Já abordámos também a importância da ingestão de água - as pessoas que apresentam maior risco devem beber o suficiente para depois urinar um litro e meio de urina ao longo de 24 horas. Assim, conseguirão ter uma urina suficientemente diluída, impedindo o processo de cristalização e formação de cálculos. Por vezes, basta beber um pouco mais de líquidos para atingir este nível, uma vez que também ingerimos água através dos alimentos que consumimos. Portanto, contrariamente ao que algumas pessoas pensam, não será necessário ingerir dois ou três litros de água por dia. Já falámos também da importância de combater o sedentarismo fazendo exercício físico de intensidade moderada, mas regular - andar a pé é um bom exercício. Depois, caso estejamos perante um indivíduo que já teve um cálculo renal, podemos indicar medidas profilácticas de acordo com a sua composição: por exemplo, caso se trate de um cálculo de oxalato de cálcio, podemos indicar ao doente para evitar os alimentos ricos em oxalato e em cálcio: leite e derivados, chocolate, etc. Se for um cálculo de ácido úrico, aconselhamos uma alimentação pobre em proteínas, nomeadamente evitando carnes vermelhas ou mariscos, bem como bebidas brancas. Existem também tratamentos medicamentosos que serão indicados caso a caso pelo médico.

Portanto, é importante o doente estar bem informado acerca desta doença?
É fundamental que o doente esteja informado sobre mecanismos de formação dos cálculos, de maneira a alterar convictamente o seu estilo de vida, prevenindo assim futuras ocorrências. Em termos de prevenção, o papel da rede de cuidados de saúde primários é fulcral, uma vez que o médico de família conhece o doente, tem uma relação mais próxima com ele e sabe qual é o seu estilo de vida. Quando um doente chega  a um serviço de urgência e é feito o diagnóstico de cólica renal provocada por um cálculo, tirar a dor é muito importante mas não é tudo. É fundamental uma avaliação do aparelho urinário no sentido de ver se a situação está completamente resolvida ou se sé necessário algum tratamento específico. Um cálculo encravado num uréter, se não for tratado atempadamente, pode levar à perda de função do rim homolateral. Além disso, um cálculo renal tem sempre que ser visto como um sinal de uma doença subjacente: a doença litiásica.

Que tratamentos estão disponíveis actualmente?
Na presença de um doente com um cálculo, por exemplo, no uréter, devemos tirar a dor e implementar medidas facilitadoras da eliminação espontânea do cálculo. Algumas situações resolvem-se sem necessidade de recorrer a técnicas invasivas, mas há outras situações que precisarão de intervenção. Cabe ao urologista saber quando deve intervir, bem como a técnica que será utilizada, sendo que esta irá depender de factores como o tamanho do cálculo, a localização, o grau de obstrução à corrente urinária que provoca e se é visível ou não ao Raio X. Até aos anos 80, o tratamento consistia na cirurgia clássica. Nos anos 80, surge a Litotrícia Extra Corporal por Ondas de Choque (LEOC),que torna possível fragmentar cálculos  à custa de ultrasons emitidos por um gerador externo ao organismo e sem necessidade de anestesia. Mais recentemente, foram aperfeiçoadas as também modernas técnicas endourológicas, permitido o uso de fibras Laser Holmium que fragmentam e pulverizam os cálculos, tanto do uréter como do rim.
 
Quais são as possíveis consequências de não procurar tratamento?
Imaginemos, por exemplo, um cálculo completamente obstrutivo no uréter: provoca dor, mas o mais grave é levar à perda de função do rim obstruído. Claro que esta é a consequência mais grave e felizmente pouco frequente, mas fica o alerta de que uma situação simples, como uma pequena pedra num rim ou num uréter, pode ter consequências graves se não for avaliada e tratada.


 


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