MAIO 2011
FISIOTERAPIA E PREVENçãO DAS DORES NAS COSTAS DESDE A IDADE ESCOLAR
Dra. Matilde Andrade e Dra. Filipa Abreu
Fisioterapeutas

Num momento em que Portugal atravessa uma crise financeira grave com consequências importantes na vida económica das famílias, é necessário continuar a dar prioridade à saúde e fazer tudo para garantir que, a todos níveis da sociedade, indivíduos e instituições, compreendam a importância dessa prioridade.

O aumento do número de desempregados, a diminuição dos fundos financeiros destinados à protecção social, pensões e na própria despesa dos cuidados de saúde, poderão levar os indivíduos a negligenciar os cuidados de saúde, o que pode reduzir drasticamente a capacidade de prevenção e de intervenção precoce sobre os problemas.

Isto torna-se ainda mais significativo se considerarmos a tendência actual para o envelhecimento das populações e o aumento das doenças crónicas. Actualmente, na Europa, 97 por cento das despesas com a saúde são devidas ao tratamento e apenas 3 por cento à prevenção (Organização Mundial de Saúde, 2010).

Uma mudança no sentido de robustecer a prevenção permitirá a obtenção de mais ganhos de saúde e, naturalmente, também ganhos económicos. Além disso, a prevenção evita o sofrimento e promove a qualidade de vida dos indivíduos, das famílias e das comunidades.

É realmente fundamental incutir a responsabilização individual no que diz respeito aos cuidados de saúde e incentivar a vontade política para promover um “impacto na Saúde Pública”, tendo como prioridade a obtenção de melhorias na saúde de toda a população a curto, médio e longo prazo.

Saúde equivale a riqueza, a prosperidade. Investir em saúde é investir nas famílias e na economia. Um país, uma região, que se proponha promover a saúde, deve mobilizar a participação directa da comunidade, envolver as escolas, os serviços de saúde, a comunidade de pais, os voluntários, as empresas e todos os parceiros.

A maior parte dos problemas de saúde e dos comportamentos de risco, são associados ao ambiente e aos estilos de vida, que poderão ser prevenidos ou significativamente reduzidos através de Programas de Saúde Escolar efectivos.

Os estudos de avaliação do custo-efectividade das intervenções preventivas têm demonstrado que 1 € gasto na promoção da saúde, hoje, representa um ganho de 14 € em serviços de saúde, amanhã (in Plano Nacional de Saúde Escolar).

Mundialmente, estados e investigadores estudam a forma mais eficaz de minimizar os custos elevados que reportam à crescente prevalência das lombalgias (dores nas costas) (Tulder, M.; Koes, B. 2004).

Vários programas para a prevenção têm sido implementados na idade adulta, embora estudos concluam que a implementação de programas de prevenção primária na idade escolar possam a vir dar resultados na diminuição da prevalência das algias vertebrais sentidas ao longo da vida (Cardon et al, 2004).

As escolas têm um enorme potencial para ajudar os estudantes a desenvolverem conhecimentos sobre a sua saúde. Uma educação precoce traz vantagens a longo prazo, e uma grande parte da população pode ser instruída.

É importante que a educação postural comece numa fase precoce da infância porque os hábitos posturais adquiridos nos espaços de aprendizagem e o desconhecimento da biomecânica trazem consequências prejudiciais para o crescimento da população estudantil, com repercussões na idade adulta

Segundo a OMS, os programas de educação para a saúde, realizados nas escolas, reduzem os problemas de saúde, aumentam a eficácia da participação dos adolescentes nos programas e promovem simultaneamente, o desenvolvimento e enquadramento social (Jones et al., 2004).

Várias abordagens já foram utilizadas para prevenir a dor lombar nas crianças: a maioria poderá ser denominada de educacional, porque as intervenções consistiram num variado número de horas de ensino, com ou sem exercício associado, tendo sido demonstrado que várias intervenções melhoraram o conhecimento específico sobre o cuidado com a coluna vertebral (Cardon et al., 2002; Mendez & Gomez-Conessa, 2001; Vicas-Kunse, 1992; cit. por Cardon & Balagué, 2004).   

Segundo o estudo desenvolvido por Cardon et al (2002), com crianças entre os 9 e os 11 anos, em que foi implementado um programa de promoção da saúde e prevenção de algias vertebrais durante um ano, de cariz educacional, verificou-se mudança de comportamento face ao que foi transmitido pelo referido programa.

Também no estudo desenvolvido por Noronha e colegas (2008) foi demonstrado que programas educacionais com o objectivo de promoção de saúde em ambiente escolar, dirigidos aos comportamentos relacionados com as posturas e com a utilização das mochilas, apresentam resultados favoráveis no que diz respeito à aprendizagem dos mecanismos para prevenir as algias vertebrais.

Assim, a escola é considerada o contexto ideal para a prevenção de algias vertebrais, uma vez que tem o potencial de optimizar as condições ambientais em relação à sobrecarga da coluna vertebral e para se facultar feedback acerca da boa mecânica corporal, sendo possível atingir uma grande percentagem da população. Por conseguinte, os resultados da intervenção neste contexto, tendo em conta a idade dos participantes, desempenham um papel chave nas acções de prevenção de algias vertebrais (Cardon et al., 2007; Cardon et al., 2004).

Estes resultados poderão ser potencializados alargando a intervenção também aos professores.

Segundo Cardon et al., (2001), directrizes específicas transmitidas aos professores, com o intuito de promover comportamentos posturais adequados na sala de aula, através da aplicação dos princípios adquiridos, demonstraram efectividade junto dos alunos. Para além de que, o estudo levado a cabo por Cardon et al (2007), concluiu que os professores deverão ser incluídos num programa de prevenção de algias vertebrais, uma vez que a instrução e participação dos professores promove a continuidade do programa através de iniciativas que visam incentivar o dinamismo postural na sala de aula.

Evidência epidemiológica indica que nas crianças e nos adolescentes a prevalência ao longo da vida para algia vertebral varia entre 13 a 51 por cento e o ponto de prevalência encontra-se entre 1 a 31 por cento (Harreby et al., 1999; Jones et al., 2004). Para a maioria das crianças, as experiências de dor vertebral são de natureza não específica e benigna (Jones et al., 2005), não levando a restrição funcional nas suas actividades de vida diária (Jones et al., 2004; Staes et al., 2003).

No entanto, a investigação epidemiológica estabeleceu uma amplitude de 7 a 27 por cento de crianças com dor lombar recorrente (Harreby et al., 1999), nas quais se detecta uma redução  da qualidade de vida com maior recurso a serviços médicos e consumo de analgésicos (Harreby et al., 1999).  

Diversos estudos apontam consistentemente que as algias vertebrais detectadas durante a infância e adolescência estão significativamente relacionadas com a dor vertebral na fase adulta (Brattberg, Troussier & Salminen, 1999; Feldman et al., 2001; Harreby et al., 1999).

Posto isto, diversos autores recomendam o desenvolvimento de investigações em estádios iniciais do problema no sentido de se determinar o possível papel da prevenção precoce (Cardon, Clercq, De Bourdeaudhuij, 2000; Troussier et al., 1999)

As algias vertebrais na adolescência apresentam potencialmente múltiplas causas, incluindo influências hormonais, “development growth suports”, influências psicossociais, características antropométricas e performance muscular, carga educacional e influências ambientais (Nissinen et al., 1994; Balagué et al., 1995; Salminen et al., 1995; Burton et al., 1996; Duggelby & Kumar, 1997; Harreby et al., 1997; Grimmer & Williams, 2000; Feldman et al., 2001; Steele et al., 2001; Ebbehoj et al., 2002; Grimmer et al., 2002; Hakala et al., 2002; Groholt et al., 2003; Brattberg, 2004; Iwamoto et al., 2004; Milanese & Grimmer, 2004).

Esta componente multifactorial inerente ao desenvolvimento de dor vertebral durante a infância (Jones et al., 2005) complica a determinação dos factores predisponentes e medidas preventivas. No sentido de se desenvolver evidência relativamente à prevenção precoce de dor lombar, é essencial compreender-se os factores de risco modificáveis e os resultados de intervenções “baseadas na escola”. (Cardon & Balagué, 2004).

A literatura indica que o ambiente escolar expõe a criança a possíveis factores de sobrecarga no que concerne ao tempo na sala de aula, às más posturas (Knight & Noyes, 1999; Murphy, Buckle & Stubss, 2004) e à ausência de mobiliário escolar adequado (Limon, Valinsky & Ben-Shalom, 2004; Milanese & Grimmer, 2004; Panagiotopoulou et al., 2004; Parcells, Stommel & Hubbard, 1999).

Por conseguinte, o sistema escolar representa o contexto ideal para optimizar as condições ambientais relativamente à carga vertebral e para se facultar feedback adequado no que concerne ao bom funcionamento do corpo. Outra vantagem inerente à prevenção neste contexto diz respeito ao facto de que quase todas as crianças podem ser abrangidas.

As guidelines Europeias estipularam a necessidade de se desenvolver estudos que abordem a intervenção baseada na escola e as limitações metodológicas dos estudos realizados (COST B13, 2006).

Na Europa, a prevalência da lombalgia (dor nas costas) foi dimensionada entre 80 a 90 por cento na população adulta de ambos os sexos com idades compreendidas entre os 30 e os 50 anos, tendo sido sublinhado o valor da prevalência na adolescência que pode atingir os 39 por cento (OMS).

De entre os factores de risco mais relevantes, foram mencionados a utilização de cargas pesadas, o trabalho manual, trabalhos que obrigam a rotação/inclinação do tronco, vibrações mecânicas de baixa e média frequência transmitidas ao corpo inteiro, bem como o sedentarismo, a obesidade, a osteoporose, a corticoterapia e alguns factores psico-sociais.

Na União Europeia, as lombalgias são a doença músculo-esquelética (DME) dominante, constituem a maior causa de absentismo e são responsáveis por 49 por cento das ausências ao trabalho e por 60 por cento das Incapacidades Permanentes Parciais. O seu impacto sócio-económico encontra-se estimado em 240 biliões de euros (incluindo custos directos e indirectos) valores estes que são consistentes com os 1,5 a 3,0 por cento do Produto Interno Bruto que esta patologia se pensa representar.

Em Portugal, de acordo com um estudo recente, estima-se que 36 por cento da população adulta (cerca de três milhões de portugueses) sofra de dor crónica. As principais causas de dor referidas são, por ordem decrescente: as patologias osteoarticulares em particular as lombalgias (dores nas costas), a osteoporose, os traumatismos, a artrite reumatóide e as cefaleias. Dos doentes com dor crónica, 55 por cento apresenta lombalgias como queixa dominante.

Em Portugal o impacto sócio-económico das lombalgias (dores nas costas) encontra-se estimado em 2 biliões de euros (Min. Saúde 2009).

Em resumo: na UE e em Portugal, as lombalgias (dores nas costas) são a principal doença musculo-esquelética e representam uma patologia extremamente frequente desde a adolescência. Têm factores de risco variados, nem todos passíveis de ser qualificados como profissionais, e representam uma causa de sofrimento e um custo significativo.

Ao fisioterapeuta compete, juntamente com equipas de saúde e/ou equipas de saúde escolar, cumprir o seu papel de educador e promotor da saúde, colaborar na recuperação, aumentar ou manter as capacidades físicas, bem como actuar na prevenção da incapacidade dos adultos, adolescentes e crianças que refiram lombalgias ou dores nas costas, para o que utiliza técnicas específicas da profissão e avalia as disfunções ao padrão normal com a sua principal ferramenta, a análise individual da biomecânica.

Utiliza técnicas como a Reeducação Postural Global, mobilização articular passiva, activa, resistida, acessória, Mackenzie, Maitland, Cyriax, P.N.F., exercícios de Stretching Global Activo, Hidroterapia, sempre com a sua intervenção baseada nos padrões de prática de fisioterapia, e baseada nos conhecimentos de anatomofisiologia e da biomecânica.

Faça fisioterapia com Fisioterapeutas! Movimente-se pela sua Saúde! Corrija a sua postura, aconselhe-se e aprenda com um fisioterapeuta: não viva com dores nas costas.


 


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