ABRIL 2011
DISPLASIA COXO-FEMURAL EM CANíDEOS
Dr. Paulo Araújo - Médico Veterinário
vetfunchal@mail.telepac.pt

A Displasia Coxo-femural, ou Displasia da Anca, é a patologia ortopédica hereditária mais frequente nos canídeos. Pode ser encontrada em humanos e também em felídeos, no entanto, este artigo apenas irá concentrar-se nos cães. Esta doença caracteriza-se pela má formação da articulação coxo-femural, devido a um desequilíbrio entre a massa muscular e o desenvolvimento esquelético, resultando numa falta de congruência entre o acetábulo e a cabeça do fémur, levando a uma evidente instabilidade articular.

É uma doença geneticamente recessiva, motivo pelo qual poderá saltar gerações sem se manifestar e inclusive haver animais da mesma ninhada que manifestem a doença e outros não. É mais frequente em animais de raça de grande porte ou gigantes, como por exemplo o Pastor Alemão, Labrador, Golden Retriever, Grand Danois e S. Bernardo. Pode também aparecer em cães de raça média (como por exemplo, Cocker Spaniel), mas só muito raramente em raças pequenas.

Os cães que sofrem desta patologia têm uma osteoartrite que pode levar, nos casos mais severos, a manifestações dolorosas das articulações tanto durante como após o exercício. Os principais sintomas são: alterações na marcha e dos aprumos dos membros posteriores com aproximação dos curvilhões (tornozelos); dificuldade em se levantar, principalmente após um longo período de repouso ou após exercício violento; correr como um coelho (com os membros posteriores a fazerem o movimento em simultâneo); claudicação e dor, principalmente ao estender ou flectir os membros posteriores. A sua progressão poderá levar a uma atrofia muscular acentuada e mesmo incapacidade do animal em se levantar.

Apesar de se tratar de uma doença hereditária, existem factores que podem contribuir para a sua manifestação de uma forma mais grave ou mais precoce. A nutrição e o exercício assumem particular importância.

O animal alimentado à discrição (com tendência para a obesidade); com uma ração que não tenha um correcto ratio cálcio/fósforo e uma constituição equilibrada de vitaminas, proteínas, lípidos, hidratos de carbono e sais minerais, é um animal predisposto a desenvolver a displasia de uma forma mais precoce e severa.

Em relação ao exercício, deverá o proprietário promover actividades que favoreçam o desenvolvimento dos músculos glúteos, tais como a corrida e a natação, evitando exercícios que promovam saltos, como por exemplo brincar com discos ou bolas. Deve também ter-se o cuidado de instalar o animal num local com um pavimento anti-derrapante, pois dessa forma contribui-se de uma forma bastante efectiva para a redução do stress das articulações da anca.

O diagnóstico é possível mediante radiografias de bacia, sendo necessário que o animal esteja sedado para que as mesmas se consigam realizar de uma forma correcta. A Displasia Coxo-Femural tem cinco classificações possíveis: Grau A – animal sem displasia; Grau B - articulação quase normal; Grau C - displasia ligeira; Grau D - displasia moderada; Grau E - displasia severa. Actualmente, a única entidade reconhecida em Portugal para classificação da displasia da anca é a APMVEAC (Associação Portuguesa dos Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia). Todas as classificações efectuadas por outras entidades nacionais não têm qualquer carácter oficial ou vinculativo, razão pela qual não poderão ser averbadas no pedigree do animal.

O tratamento médico é apenas sintomático e consiste na utilização de anti-inflamatórios não esteróides (para diminuir a dor e inflamação articular) e na administração de condroprotectores (condroitina e glucosamina), através de uma ração dietética específica para as articulações ou através de comprimidos.

A cirurgia é o tratamento mais eficaz, existindo várias hipóteses, cuja aplicabilidade depende do grau de displasia; fase em que é efectuado o diagnóstico e grau de alteração articular. As técnicas disponíveis são: a Tripla Osteotomia Pélvica; Dartroplastia; Sinfiodese Púbica Juvenil; Prótese Total da Cabeça do Fémur e Artroplastia (recessão total da cabeça do fémur).

Recomendo que antes de adquirirem cães de raças grandes ou gigantes, verifiquem se os progenitores têm uma classificação de Grau A ou B (APMVEAC). Sempre que observarem alterações da marcha, claudicações ou comportamentos anormais em relação à actividade física, os proprietários deverão levar o cão ao seu veterinário assistente, para que assim se possa efectuar o diagnóstico desta patologia o mais precocemente possível, pois existem cirurgias que só podem ser realizadas numa fase inicial da doença. Tem também alguma pertinência realizar uma radiografia de controlo por volta dos 6-7 meses em todos os animais de raça grande ou gigante.

Nunca utilize para reprodução animais portadores de Displasia!

 


seara.com
 
2009 - Farm´cia Caniço
Verified by visa
Saphety
Paypal