MARçO 2011
ALIMENTAçãO E GRAVIDEZ
Dra. Vanda Cristóvão - Nutricionista

Ao longo da gravidez, é grande a preocupação da mãe em alimentar-se de forma a disponibilizar todos os elementos nutritivos necessários ao desenvolvimento pleno do seu filho.

As crenças e os mitos alimentares, a par das recomendações e informações diversas e avulsas provenientes de tantas fontes, mais ou menos credíveis e com interesses diversos, contribuem para um estado de confusão e dificuldade em discernir entre o que é “certo” ou “errado” no que respeita ao modo de se alimentar durante a gravidez.

Os cuidados com alimentação devem iniciar-se antes da concepção. Há anos ouvi o meu Professor Dr. Emilio Peres, possivelmente num Congresso de Alimentação, fazer suas as palavras de “alguém” entendido na matéria afirmando que “os cuidados alimentares na gravidez iniciam-se na barriga das avós!”.

O meu pensamento ficou refém desta “ideia” por breves segundos, apenas pelo facto dos discursos deste “Cidadão de Ideias Livres” sobre alimentação serem “naturalmente simples” de conteúdo e de forma, que não deixavam em nenhum momento margem para bocejos, pestanas ancoradas, divagações ou pensamentos profundos. Deixámos de ouvi-lo há 6 anos.

Curiosamente, cada vez que aprofundo os meus conhecimentos da alimentação encontro argumentos que reforçam e validam a ideia da “barriga das avós”.  

Não posso sugerir o regresso à barriga das avós mas cumpre-me, como nutricionista, recomendar às mulheres (casais) que no período pré-gestacional, para além do acompanhamento médico, procurem também o de um nutricionista (acesso gratuito no Centro de Saúde da sua área de residência). O trabalho em equipa é fundamental nestes casos, e, felizmente é cada vez mais uma prática comum nos Profissionais de Saúde, particularmente no Serviço de Saúde da Região.  

É de extrema importância a mulher estar bem nutrida ao engravidar. Para isso, é desejável que adopte boas práticas alimentares e obrigatório que abandone consumo de substancias perigosas e/ou tóxicas. Assim, estarão criadas as condições para propiciar um ambiente nutricional “in utero” favorável e adequado ao desenvolvimento harmonioso do novo ser.

Apresento algumas recomendações que, de forma transversal, devem ser adoptadas pela futura mãe pelo menos três meses antes da concepção:
•    Abster-se de tabaco, bebidas alcoólicas, medicamentos sem prescrição médica e produtos dietéticos mesmo que sejam “naturais”;
•    Limitar a ingestão de bebidas estimulantes a quantidades aceitáveis (por exemplo: máximo três cafés/dia, menos se tomar chá preto…);
•    Ingerir diariamente de três peças de fruta, distribuídas pelo dia (quatro se estiver também a deixar de fumar) e meio prato de hortícolas ao almoço e ao jantar;
•    Hidratar-se adequadamente com água da torneira e/ou infusões de ervas caseiras (tília, camomila, hortelã, limão, funcho, etc…);
•    Limitar a ingestão de açúcar ao máximo de 25 gramas (atenção: um bolo ou um copo de sumo podem ter mais do que esta quantidade; aconselho a leitura do rótulo dos produtos: vai ter surpresas e descobrir açúcar em produtos insuspeitos);
•    Limitar a ingestão de sal; neste caso as recomendações são para não exceder 5 gramas/dia (aconselho igualmente a leitura dos rótulos, é possível que não encontre a palavra “sal”, atenda a que “cloreto de sódio” ou qualquer palavra com “sódio” na terminação correspondem à presença da substância sal no produto);
•    Ingerir duas a duas chávenas e meia de leite meio gordo diariamente. Atender a que: uma chávena de leite = duas iogurtes naturais = duas fatias finas de queijo; Por exemplo: pode garantir uma adequada ingestão de leite se comer quatro a cinco iogurtes naturais por dia ou o mesmo número de fatias de queijo;
•    Manter intervalos regulares entre refeições: jejum nocturno (intervalo entre a ultima refeição do dia anterior e a primeira do dia seguinte) com duração máxima de 9 horas; intervalos entre refeições de 3 a 3,5 horas (pode ser necessário intervalos mais curtos se for muito activa fisicamente, mas não deve passar o dia a “depenicar”!);
•    Dormir o suficiente, pelo menos 8 horas por dia;
•    Fazer actividade física diária: se durante o dia não faz actividades que impliquem movimentos frequentes e algum esforço, é desejável que pelo menos caminhe 1 hora a ritmo apressado ou faça 10.000 passos diários (pode precisar do conta passos – pedómetro);
•    Suspenda qualquer dieta restritiva que esteja a fazer, bem como a ingestão de produtos de emagrecimento, ou cremes com o mesmo fim.

Para além do bem-estar que a adopção destas medidas lhe proporcionará, saiba que o período da gravidez de maior exigência e vulnerabilidade nutricional são os três primeiros meses, fase do desenvolvimento embrionário, durante a qual se formam as estruturas mais sensíveis, com destaque para o cérebro e todo o sistema nervoso.

É também nos três primeiros meses que é comum ocorrerem perturbações digestivas, como as náuseas e vómitos, o que por vezes pode debilitar nutricionalmente a grávida. Se estiver bem nutrida ao engravidar superará melhor esta fase. Os seus netos ficar-lhe-ão eternamente gratos!

Engravide, mas tenha presente que não vai precisar de comer por dois, mas sim duas vezes melhor!

 


seara.com
 
2009 - Farm´cia Caniço
Verified by visa
Saphety
Paypal