MARçO 2011
DOENçAS DOS OLHOS
A visão, tal como outros órgãos do corpo humano, tem tendência a piorar com a idade, pelo que se torna essencial estar atento aos sinais de alarme, que anunciam a chegada de alguns problemas. Por isso, é necessário fazer check-ups com alguma regularidade, defende em entrevista o Dr. Romano Oliveira, médico oftalmologista.

Quais são as doenças oftálmicas mais comuns entre a população?
As mais comuns serão porventura as doenças infecciosas do tipo sazonal, nomeadamente as conjuntivites, que depois poderão evoluir para uveítes, sendo que estes processos inflamatórios se verificam dentro do olho, tanto no caso da uveíte anterior como no caso da uveíte posterior. Em relação a outras patologias, uma das que afecta mais doentes é a retinopatia diabética. A diabetes é um problema de saúde cada vez mais grave e que implica um determinado controlo desde o primeiro momento. Normalmente, as pessoas só descobrem que são diabéticas depois de terem a doença durante alguns anos: muitas vezes já são diabéticas entre três a cinco anos antes de saberem que têm a doença, podendo vir a ser descoberta através de análises de rotina, por exemplo. Daí em diante, têm de ser seguidas pelo oftalmologista anualmente ou então pelo menos de dois em dois anos, conforme a diabetes está ou não bem controlada. Outras doenças comuns são as retinopatias hipertensivas, em que os doentes têm a tensão arterial muito elevada, levando à ruptura de vasos sanguíneos com hemorragia intra-ocular. Um outro problema, de que se tomou consciência na última década, tem a ver com as degenerescências maculares relacionadas com a idade: a mácula fica envelhecida, provavelmente devido a problemas circulatórios, que levam a que a microcirculação seja deficiente, atingindo os fotoreceptores das respectivas máculas. Tal como se verifica nos restantes órgãos, a nossa vista também envelhece, o que requer que as pessoas se adaptem.

Que outras doenças da vista são particularmente graves?
Temos, por exemplo, o Glaucoma, em que os doentes começam por apresentar uma restrição do campo visual. Nós temos um campo visual de 180 graus, mas conforme o nervo óptico vai sendo destruído, devido ao aumento da pressão intra-ocular, esse campo vai-se estreitando. Nos casos mais extremos, as coisas poderão evoluir até que as pessoas só conseguem ver como se fosse através de um tubo. Portanto, é importante estar atento e reagir aos primeiros sinais, consultando de imediato um oftalmologista, que é o único especialista que poderá avaliar correctamente a tensão ocular. Temos também as neurites alcoólicas, mas sublinho que estas já não são assim tão frequentes. Aparecem em indivíduos que apresentam casos extremos de alcoolismo, em que estão constantemente alcoolizados, e não em pessoas que bebem ocasionalmente, de forma regrada. Esta doença pode mesmo levar as pessoas a perderem a visão de forma irreversível, uma vez que o nervo óptico fica praticamente lesionado. Nestes casos, se estes doentes vierem à consulta de oftalmologia e ainda conservarem 50 por cento de visão ou menos, têm de deixar de beber imediatamente e fazer um tratamento de suporte para a doença não evoluir. Aliás, em termos de prevenção, o que as pessoas devem fazer acima de tudo para preservar a saúde dos seus olhos é evitar o alcoolismo crónico, uma vez que pode provocar grandes danos no nervo óptico, e também o tabagismo, que é um dos factores que leva a degenerescências maculares associadas à idade e outras patologias.

É frequente chegarem pessoas à consulta num estádio avançado de doença?
Não é frequente, embora haja algumas pessoas que se desleixam e que quando chegam à consulta estão num estado lastimoso, com perdas de visão… O que acontece é que estes indivíduos se vão acomodando à situação ou então vão perdendo a visão gradualmente e em vez de ir ao oftalmologista dirigem-se unicamente ao optometrista, que apenas pode receitar óculos. Ora, muitas vezes o problema pode não ser da falta de vista, mas sim da patologia que está inserida no olho, pelo que os óculos não irão fornecer a solução e é preciso que as pessoas tenham noção disto.

Para além da retinopatia diabética, que doenças da visão estão relacionadas com outras patologias?
Determinados tipos de reumatismo estão relacionados com problemas de visão, porque levam a uveítes de repetição. Os reumatismos poliarticulares são processos inflamatórios ao nível das articulações e também afectam os indivíduos ao nível da visão. Deste modo, o doente começa a notar um “nevoeiro”, pelo que se tem que dirigir imediatamente ao especialista. Ao verificarmos que os meios dióptricos estão turvos, é preciso começar a fazer tratamento “forte”.

Também é comum as pessoas queixarem-se de “vista cansada”?
A “vista cansada” pode estar relacionada com problemas ópticos. Por exemplo, as pessoas que têm miopia moderada, começam o dia normalmente bem e ao final da manhã ou da tarde apresentam dores de cabeça, ou cefaleias. Quando os indivíduos apresentam estas queixas, verificamos que se trata de uma miopia ou um estigmatismo, que são situações que podem facilmente ser corrigidas. Já quando as pessoas mais idosas se queixam de vista turva, pode tratar-se de uma patologia relacionada com as cataratas, sobretudo em indivíduos acima dos 65 anos. Esta doença, que pode ser curada através da intervenção cirúrgica, também pode surgir em indivíduos mais novos, apesar destes casos não serem comuns. As cataratas resultam de um processo degenerativo do próprio cristalino e estão relacionadas com o envelhecimento: de resto, não são só os seres humanos que têm cataratas, em muitos animais é comum aparecerem, como por exemplo no cão e no gato, a partir de uma determinada idade.

Hoje em dia, a cirurgia laser é decisiva no tratamento de algumas doenças?
Nas altas miopias, aconselha-se, de facto, fazer a intervenção a laser, se a miopia estiver estacionada. Na cirurgia refractiva da miopia, pode acontecer o doente ficar depois com um certo estigmatismo e isso é uma desilusão. Mesmo numa operação simples de cataratas, podem surgir complicações, como por exemplo uma infecção intra-ocular. Portanto, o recurso à cirurgia é uma alternativa que tem de ser sempre muito bem ponderada e analisada antes de avançar para a mesma. O laser pode também ser utilizado nas retinopatias diabéticas.

Relativamente às lentes de contacto, que cuidados recomenda?
As lentes de contacto levam a uma grande melhoria ao nível da visão. Os cuidados a ter passam, primordialmente, por evitar ambientes poluídos, como por exemplo discotecas ou bares com má ventilação. Nesses ambientes, os indivíduos podem começar a sentir uma certa irritação nos olhos, com estes a ficarem vermelhos e com ardor, levando a que tenham de retirar as lentes e fazer tratamento. Relativamente ao manuseamento, é preciso ter cuidado ao colocar as lentes. Hoje em dia, existem lentes de uso prolongado, que não é preciso estar a retirar constantemente, mas de qualquer maneira, antes de as tirar ou colocar, é preciso ter sempre o cuidado de lavar as mãos. A manutenção das lentes é bastante fácil, uma vez que existem líquidos próprios disponíveis para o efeito.

Hoje em dia, as pessoas estão bem informadas relativamente a estas problemáticas?
Talvez ainda não estejam suficientemente informadas, porque muitas continuam a não recorrer ao especialista indicado quando começam a surgir os problemas. A partir de uma determinada idade, nomeadamente cerca de 50 anos, as pessoas devem passar a ter mais cuidado com a sua visão. É aconselhável a ida ao oftalmologista para fazer um check-up, pelo menos uma vez de dois em dois anos, mesmo quando se sentem bem. Mas se notarem qualquer diferença na visão, devem dirigir-se imediatamente ao especialista. Em casos específicos, como as retinopatias diabéticas, de que já falámos, as consultas devem ser mais regulares. Se a glicemia está normal e a diabetes está controlada, poderá fazer a consulta de ano a ano, mas caso contrário, convém fazer de quatro em quatro meses. No caso dos doentes com Glaucoma, a consulta deverá ser feita mais ou menos de três em três meses, para medir a tensão ocular. Também há outros casos que merecem atenção especial, nomeadamente as doenças da vista relacionadas com o HIV: nos doentes com esta patologia, é comum o aparecimento de processos inflamatórios no olho, nomeadamente uveítes anteriores ou posteriores. Portanto, têm de ser muito bem acautelados estes processos que aparecem do ponto de vista oftalmológico.

Que conselhos gostaria de deixar às pessoas para cuidarem dos seus olhos?
Um problema, grave, de que não falámos, são os traumatismos dos olhos, que surgem muitas vezes por falta de uso de equipamento de protecção em indivíduos que trabalham com rebarbadoras ou com soldadoras, por exemplo. Este é um problema que se vê frequentemente, apesar da muita legislação existente relativamente à segurança no trabalho e que deriva unicamente de estes indivíduos se esquecerem de utilizar a protecção quando estão a levar a cabo as suas tarefas, com consequências graves. Portanto, as pessoas devem ter a consciência que têm de usar óculos de protecção ao trabalhar com todo o tipo de máquinas.


 


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