MARçO 2011
INCONTINêNCIA URINáRIA
Dra. Sónia Gonçalves - Farmacêutica
sonia.goncalves@farmaciadocanico.pt

A eliminação de excessos presentes no organismo é feita através da urina. O seu armazenamento e expulsão são processos regulados pelo sistema nervoso, que tem uma componente voluntária. Na incontinência urinária, há perda involuntária de urina.

A incontinência urinária tem consequências económicas, médicas e psico-sociais. Por ser atribuída erradamente à idade, é por vezes negligenciada. No entanto, uma abordagem racional permite curar ou melhorar a incontinência, muita vezes sem intervenções invasivas.

Com o avançar da idade, ocorrem alterações no tracto urinário inferior que predispõem para incontinência:
•    diminuição da capacidade da bexiga,
•    aumento da retenção de urina na bexiga após a micção,
•    aumento das contracções involuntárias da bexiga,
•    diminuição da habilidade de adiar a micção,
•    aumento da produção nocturna de urina,
•    diminuição da resistência da uretra nas mulheres e aumento nos homens
•    enfraquecimento dos músculos da pélvis nas mulheres.

Na mulher, estas alterações prendem-se com o declínio de estrogénios no período pós-menopausa. No homem, podem ser resultado de alterações na próstata. Ainda assim, nenhuma destas predisposições, por si só, consegue precipitar a incontinência. A existência de outras condições patológicas, fisiológicas ou medicamentosas associadas, faz com que haja maior incidência em idosos.

No entanto, pode ocorrer em qualquer idade. Pode ter origem em casos de delírio ou demência, depressões, alterações neurológicas, remoção do útero, infecções, vaginites atróficas e uretrites, toma de medicamentos, diabetes, hipercalcémia, hipertiroidismo, mobilidade reduzida ou obstipação.

Pode ser aguda ou crónica: incontinência aguda é passageira e ocorre em sequência de situações pontuais (cistites, estados de confusão, medicamentos). A incontinência crónica é persistente e pode ser dividida em sete subgrupos: urgência, esforço, extravasamento, funcional, total, psicogénica e mista.

A incontinência por urgência é a mais comum nos idosos. A sensação de necessidade de urinar é logo seguida de uma pequena fuga de urina. Pode ser causada por alterações genito-urinárias ou neurológicas.

Na incontinência por esforço, há fuga de urina em situações de esforço. É diurna e comum em mulheres. Ocorre quando há aumento brusco da pressão da cavidade abdominal (tossir, espirrar, rir ou levantar pesos). A obesidade e a hereditariedade são factores predisponentes.

A incontinência por extravasamento ocorre quando a bexiga está muito cheia. Há fuga de pequenas quantidades de urina ao longo de todo o dia. É necessário esforço para promover o fluxo urinário, que é pequeno e intermitente. A bexiga é normalmente palpável e o volume de urina residual é grande. Resulta de uma obstrução da uretra ou de uma bexiga que não se contrai.

A incontinência funcional ocorre quando um indivíduo não tem capacidade para se deslocar devido a alterações músculo-esqueléticas, psicológicas, barreiras ambientais ou medicação.
Na incontinência total, o esfíncter urinário não se fecha adequadamente, levando à fuga constante de urina. É comum em crianças, mas também ocorre na sequência do parto ou de cirurgia local.

A incontinência psicogénica tem origem emocional. Ocorre em crianças que molham a cama e em adultos com problemas emocionais. A incontinência mista consiste na junção de dois ou mais tipos de incontinência. Ao descobrir o factor precipitante (por meio de interrogatório e exames clínicos), podemos actuar no sentido de o corrigir, restaurando a continência. Por vezes, pequenas mudanças de hábitos podem ajudar: urinar a cada duas ou três horas; evitar os irritantes da bexiga (cafeína, urina muito concentrada); por indicação médica, suspender a medicação que propicie a incontinência; exercitar os músculos da bexiga e da pélvis. Em situação de esvaziamento incompleto da bexiga, pode ser útil exercer pressão com as mãos, na zona da bexiga. Por vezes, pode ser utilizada psicoterapia, medicação para controlo do músculo da bexiga e dos esfíncteres, para diminuição do tamanho da próstata ou substituição de estrogénios.

Em casos mais graves, a cirurgia permite elevar a bexiga, reforçar a uretra, remover a próstata ou substituir os esfíncteres afectados. A algaliação pode prevenir complicações.
Conselhos: Utilizar roupa interior e absorventes para a incontinência. Estes dispositivos devem ter um modelo e tamanho adequados e ser eficazes para o grau de incontinência, discretos, de fácil colocação e descartáveis. Podem ser utilizados produtos para neutralizar maus odores e proteger a pele de irritações (cremes barreira e hidratantes) ou de infecções (cremes de zinco).

Dicas para evitar complicações da incontinência: Manter uma boa higiene diária, esvaziar frequentemente a bexiga e o mais completamente possível, ingerir água (2L/dia), lavar frequentemente as mãos, não usar roupa suja e fazer exercício físico regular.

Colaboradora da Farmácia do Caniço desde 2009.

Bibliografia

Mary Anne Koda-Kimble et al., Applied Therapeutics – The clinical use of drugs. Wolters Kluwer; 2008:101-23/25
http://www.manualmerck.net/?id=156
http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias/15968


 


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