JANEIRO 2011
HIPERTIROIDISMO
Dra. Gisele Amorim - Farmacêutica
gisele.amorim@farmaciadocanico.pt

A tiróide é uma das maiores glândulas endócrinas do corpo. Esta glândula sintetiza, armazena e secreta as hormonas tiróideas: a tiroxina (T4), a triiodotironina (T3) e a calcitonina. As hormonas T3 e T4 são criticamente importantes para o crescimento e desenvolvimento normais e para o metabolismo energético. A calcitonina está envolvida no controle do cálcio plasmático.

O hipertiroidismo é uma anomalia da função da glândula tiróide, na qual há hiperprodução das hormonas tiróideas T3 e T4. O excesso dessas hormonas estimula o metabolismo das proteínas, carbohidratos e lípidos, exacerba os efeitos do sistema nervoso simpático, causando aceleração de vários sistemas corporais e sintomas que se parecem a uma sobredosagem de adrenalina, como por exemplo: hipertensão, taquicardia, perda de peso, nervosismo, irritabilidade e tremores. Também pode ocorrer aumento da temperatura corporal, sudorese e fatigabilidade. O indivíduo pode, eventualmente, dormir pouco e evacuar com frequência.

As principais causas do hipertiroidismo são:

- Doença de Graves ou bócio difuso tóxico - é uma doença auto-imune, de causa incerta, em que os anticorpos induzem a activação continua de secreção das hormonas pela glândula tiróide;
- Bócio nodular tóxico - é consequência de uma neoplasia benigna ou adenoma;
- Aumento de hormonas tiroideanas como consequência de medicamentos, é o caso da Amiodarona, droga anti-arrítmica.

O diagnóstico é feito através de uma avaliação laboratorial. Uma vez que o controle da actividade da glândula tiróide se faz através da TSH (hormona libertada pelas células da hipófise) sob influência do TRH (hormona do hipotálamo) e também por um efeito de feedback negativo das hormonas T3 e T4, o teste de escolha para o diagnóstico de hipertiroidismo é o doseamento da TSH ultra-sensível e das hormonas T3 e T4 (livres) no sangue. Se as hormonas T4/T3 estiverem em excesso e a TSH diminuída, o paciente é portador de hipertiroidismo. Outros meios de diagnóstico também podem ser utilizados como, por exemplo, o doseamento do anticorpo anti-receptor do TSH (TRAb), cintilografia ou ultrasons.

O hipertiroidismo pode ser tratado farmacologicamente, mas outras opções incluem a extracção cirúrgica da glândula tiróide ou o seu tratamento com iodo radioactivo. Cada um dos tratamentos tem as suas vantagens e desvantagens.

A glândula tiróide precisa de uma pequena quantidade de iodo para funcionar adequadamente. No entanto, uma grande quantidade de iodo diminui a quantidade de hormonas que a glândula produz e impede a libertação dos excedentes das hormonas tiróideas.

Por conseguinte, os médicos utilizam grandes doses de iodo para interromper a secreção excessiva de hormonas tiróideas. Este tratamento com iodo é particularmente útil quando é preciso controlar o hipertiroidismo com rapidez ou antes de uma cirurgia de urgência. Contudo, o iodo não se utiliza nos tratamentos habituais do hipertiroidismo nem nos de longa duração.

O propiltiouracilo, o metimazol ou o carbimazol são os medicamentos mais utilizados para tratar o hipertiroidismo, uma vez que atrasam o funcionamento da tiróide e diminuem a produção hormonal. Estes medicamentos administram-se por via oral: começa-se com doses elevadas que mais tarde se adaptam de acordo com os resultados das análises de sangue da hormona tiróidea. Embora estes medicamentos sejam semelhantes na maior parte dos seus efeitos, o propiltiouracilo é mais seguro do que o metimazol e carbimazol nas mulheres grávidas, já que é menor a quantidade do medicamento que chega ao feto.

Os medicamentos betabloqueadores, como o propranolol, controlam alguns dos sintomas do hipertiroidismo. Estes medicamentos reduzem a frequência cardíaca, assim como o tremor e a ansiedade. Contudo, não controlam o funcionamento anómalo da tiróide.

O hipertiroidismo também se trata com iodo radioactivo, que destrói a glândula tiróide. Ingerido por via oral, introduz muito pouca radioactividade no corpo no seu conjunto, mas uma grande quantidade na glândula tiróide. Os médicos fazem o ajustamento da dose de iodo radioactivo de tal forma que seja destruída a menor parte da glândula tiróide, para assim conseguir que a sua produção hormonal recupere a normalidade sem que se reduzam demasiado as suas funções. Contudo, na maior parte das vezes este tratamento leva a longo prazo a um hipotiroidismo (uma glândula tiróide com uma função diminuída), um quadro que exige uma terapia de substituição com hormona tiróidea.

Os indivíduos que precisam desta terapia hormonal substituta tomam um comprimido de hormona tiróidea diariamente durante o resto da sua vida, de maneira a substituir a hormona natural, que já não é produzida em quantidades suficientes. Em relação ao seu possível efeito cancerígeno, ele nunca foi confirmado. O iodo radioactivo não se administra a mulheres grávidas, dado que atravessa a placenta e pode destruir a glândula tiróide do feto.

Numa tiroidectomia, a glândula tiróide é extraída cirurgicamente. A cirurgia é uma opção válida sobretudo para os pacientes jovens com hipertiroidismo e também em doentes que tenham um bócio muito grande, naqueles que são alérgicos aos medicamentos ou nos que acusam efeitos secundários graves produzidos pelos medicamentos utilizados para tratar o hipertiroidismo. Certo grau de hipotiroidismo ocorre em algumas pessoas depois da cirurgia, as quais depois terão de tomar hormona tiróidea durante o resto da sua vida. As complicações são pouco frequentes e compreendem a paralisia das cordas vocais e lesões das glândulas paratiróides (pequenas glândulas que estão por trás da glândula tiróide e que controlam a concentração de cálcio no sangue).

Colaboradora da Farmácia do Caniço desde 2004.

 


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