DEZEMBRO 2010
DERMATITE ATóPICA
A Dermatite Atópica é uma doença crónica de pele que afecta sobretudo bebés e crianças. A Dra. Susana Oliveira, médica, especialista em Imunoalergologia, fala em entrevista dos tratamentos disponíveis actualmente e dos cuidados a ter para amenizar os efeitos desta doença.

Como se caracteriza a Dermatite Atópica?
Na Dermatite Atópica, temos uma pele que começa por ser seca e depois muitas vezes se torna descamativa, com muito prurido, ou seja, comichão. Pode apresentar-se apenas em algumas zonas ou em toda a extensão do corpo. Para além destas características, muitas vezes surgem zonas de pele avermelhada, que apresentam um prurido ainda mais intenso, que pode inclusive levar a fissuração, com lesões que provêm do coçar e que acabam por criar crostas, podendo também deitar um líquido transparente tipo “aguadilha” – visualmente, é como se a pele estivesse a suar.

Quais são as faixas etárias mais atingidas?
Normalmente, esta é uma doença que aparece nos primeiros anos de vida. Pode aparecer logo no 1º mês de vida, mas é mais frequente a partir dos seis meses. Normalmente melhora ou no fim da primeira infância, por volta dos cinco ou seis anos, ou na adolescência, com o aparecimento dos caracteres sexuais secundários. Nessa altura verifica-se um apaziguamento significativo dos sintomas: muitas vezes a pele passa a ser apenas uma pele seca. É isto que acontece na grande maioria dos casos, embora também existam situações, menos frequentes, em que a pessoa continua a apresentar eczema na idade adulta, mas regra geral, este não será tão grave como aquele apresentado nos primeiros anos de vida.

A Dermatite Atópica também pode surgir pela primeira vez na idade adulta?
Pode surgir na idade adulta pela primeira vez, mas não é essa a sua forma mais frequente. Normalmente, quando isso acontece, há uma causa externa mais facilmente identificável, enquanto na infância muitas vezes o eczema é causado por factores de ordem genética, que são intrínsecos, ou seja, não tendo relação com um factor externo. No entanto, poderão existir factores ambientais que irão predispor ao aparecimento desses sintomas: normalmente não será uma só causa, mas sim um conjunto de factores que vão dar origem a esta situação. Já quando aparece na idade adulta, costuma haver um factor etiológico identificável: por exemplo, poderá ser um cosmético, e nesse caso temos a chamada dermatite de contacto alérgica; poderá ser um alimento ou então, eventualmente, uma sensibilização aos ácaros. Na idade adulta, é muito raro o eczema aparecer sozinho: por norma, surge em pessoas que já têm alguma manifestação de doença alérgica, como rinite ou asma, sendo mais uma manifestação dessa doença.

Estima-se que cerca de 30 por cento dos doentes sofrem também de asma ou de rinite aguda. Isso complica o tratamento?
O tratamento do eczema, excepto nos casos muito graves, passa essencialmente por tomar um anti-histamínico, o chamado “anti-alérgico”, e também por cremes emolientes que tenham uma base gorda significativa, conferindo-lhes uma boa capacidade de impermeabilização, ou seja, criando uma camada lipofílica à superfície da pele que impeça a desidratação, uma vez que este problema ocorre quando a pele tem uma deficiência em termos proteicos e não consegue manter-se hidratada. No fundo, quando temos a adição desta doença, o tratamento fica complicado apenas em termos financeiros, porque os cremes hidratantes são extremamente caros e não têm comparticipação. No entanto, estes são cremes de tratamento, uma vez que não incluem determinadas substâncias que existem na maioria dos cremes cosméticos que podem ser encontrados nos supermercados e que poderão potenciar os agravamentos indesejados, sendo vendidos, essencialmente, em farmácias. Há ainda alguns cremes corticóides que, esses sim, são comparticipados, mas que deverão ser usados em quantidades mínimas. De uma maneira geral, tentamos que esses derivados de cortisona sejam feitos sempre em períodos muito curtos, de preferência através da via tópica, ou seja, através de cremes e pomadas, e só em situações de gravidade marcada é que recorremos aos corticóides orais, uma vez que estes têm efeitos secundários mais pronunciados. O antibiótico poderá ser necessário também, embora mais raramente, apenas em situações de agudização grave dos sintomas. A partir do momento em que se consiga que a pele fique sã e seja apenas uma pele seca, então o tratamento passará por manter a hidratação e poderá não ser necessário recorrer a outra medicação.

Que comportamentos devem ser adoptados para prevenir os agravamentos da doença?
Para começar, é importante tomar uma posição anti-ácaros: o quarto da criança deve ser muito simples, sendo de evitar aqueles quartos muito decorados, com muitos peluches, cortinas e tapetes. Este tipo de quarto é inadequado para crianças que se sabem ter um potencial alérgico, quer porque sejam filhas de pai ou mãe alérgicos, ou porque tenham começado a dar sinais de doença alérgica. Outra medida importante passa por adequar, o melhor possível, a roupa da criança à temperatura e à humidade ambiental, evitando agasalhar demasiado a criança, porque o transpirar contribui para as agudizações. As zonas de localização típicas do eczema são zonas de “prega”, onde existe maior transpiração, como por exemplo as pregas axilares, as pregas nos antebraços ou as pregas dos joelhos. Também é muito frequente que seja afectada a prega cervical, a chamada “papada”, sobretudo em bebés. Portanto, é muito importante ter cuidados anti-transpiração, o que implica uma melhor selecção da roupa da criança, seja bebé ou criança mais crescida.

São de evitar a exposição ao frio ou ao Sol?
De facto, a exposição ao frio poderá intensificar a desidratação da pele, pelo que no Inverno, as zonas mais expostas devem estar mais hidratadas. Em relação ao Sol, de uma maneira geral, esta doença melhora no Verão, na época da praia. No entanto, acredita-se que a pele melhora porque nessas alturas as pessoas têm mais cuidado e põem mais cremes para proteger do Sol. No entanto, há que ter em atenção que a água do mar contribui para desidratar a pele, pelo que deve haver o cuidado de passar o corpo por água não salgada e passar creme.

Que outros cuidados devem ser tomados?
Para além de manter a pele hidratada e evitar a transpiração, os principais cuidados passam por evitar a exposição a alergenos, particularmente aos ácaros. Em termos de roupas, não é preciso usar roupas “especiais”, como por exemplo camisolas interiores anti-alérgicas, que já existem no mercado. O que é necessário é ter roupa em que o material base seja o algodão, evitando os poliésteres, que fazem transpirar mais e são mais irritáveis. Por outro lado, é importante cortar as etiquetas para evitar o roçar na pele, sobretudo nos bebés, porque a região cervical é das mais afectadas. Deve também evitar-se que as lãs entrem directamente em contacto com a pele. É muito frequente vermos nos bebés o couro cabeludo ser afectado, porque as pessoas têm a tendência para enfiar um gorro na cabeça da criança, o que as pode fazer suar bastante do couro cabeludo sempre o que tempo aqueça um pouco. Esta é uma situação que não ajuda e que deve ser evitada… Outro cuidado que há que ter em conta é em relação aos banhos. Numa criança com eczema atópico, os banhos devem ser curtos, com água não muito quente e devem ser usados sabões à base de glicerina. É importante também secar sem esfregar, para evitar destruir a camada superficial da pele, o que aumentaria o prurido.

Relativamente à alimentação, há alguns cuidados especiais a ter?
De uma maneira geral, não existe grande relação entre alergenos alimentares e eczema, mas pode suceder em algumas crianças, nomeadamente em relação ao leite, ao ovo e ao peixe, que são os mais comuns. Se a criança for avaliada e se chegar à conclusão que está sensibilizada a algum alimento, evitar esse alimento, normalmente, melhora bastante a situação clínica. Nas situações em que não conseguimos identificar o elemento causador da alergia cutânea através dos testes, nos períodos de maior agravamento das queixas poderemos privar a criança de alguns alimentos, nomeadamente carne de porco, morangos, chocolate, os mariscos ou o tomate. Estes alimentos podem aumentar os níveis de histamina (sanguínea), podendo originar agudizações do eczema.

Para terminar, a que sinais de alarme devem os pais estar particularmente atentos?
Os pais devem estar sempre atentos para ver se o bebé começa a apresentar a pele vermelha e a dar sinais de comichão. Os bebés não têm muito instinto de coceira, não nascem com esse mecanismo de defesa muito desenvolvido. Portanto, um bebé que começa a dar esse sinal deve chamar a atenção dos pais para um possível problema. Se um bebé apresenta sinais de doença alérgica, podemos sempre pensar que o eczema pode aparecer, embora se saiba que não é esta a patologia alérgica mais frequente. Quando surge um eczema, é importante que os pais façam uma revisão dos acontecimentos das últimas 24 horas para ver o que é que aconteceu de novo na vida daquela criança, que poderá ter dado origem ao problema. Será que foi um alimento introduzido de novo, por exemplo? Isto é muito importante, porque depois quando os pais chegam à consulta, já não se recordam. Portanto, é importante que anotem no momento o que é que o bebé comeu, se foi exposto a alguma coisa fora do habitual, eventualmente se usou um creme diferente, porque também existe a dermatite de contacto alérgica, embora a nível pediátrico seja relativamente pouco frequente. Se os pais tomarem a precaução de anotar, é algo que ajuda muito no diagnóstico etiológico. Convém também dizer que nesta doença, como em todas as doenças alérgicas, o factor genético é muito importante: a história familiar é algo que tem sempre peso neste tipo de manifestação. Portanto, se as pessoas sofreram da doença quando eram crianças, pode acontecer que o seu filho venha a sofrer também. Não é obrigatório que isto aconteça, mas existe uma maior probabilidade, pelo que os pais devem estar de sobreaviso, para o caso de aparecerem alguns dos sinais de alarme de que falámos. Vale a pena estar mais atento e procurar um especialista o mais precocemente possível, porque assim será mais fácil o tratamento.


 


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