DEZEMBRO 2010
GASES GASTROINTESTINAIS
Dr. Élvio Sousa - Farmacêutico
elvio.sousa@farmaciadocanico.pt

A presença de gás intestinal (meteorismo, flatulência) é uma queixa comum, ouvida pelos farmacêuticos, e apesar de não constituir um problema médico grave, pode ser desconfortável e embaraçoso. Geralmente, a acumulação de gases, a distensão e a flatulência apresentam cursos intermitentes (por vezes frequentes, por vezes raros). Um indivíduo que sofre de gases gastrointestinais pode apresentar eructação (vulgo arrotos), borborigmos (ruídos causados por gases), distensão e desconforto abdominal, flatulência excessiva e/ou soluços. Para a realização de um tratamento mais correcto, deve-se identificar a causa das queixas, conhecer a duração do problema, rever os hábitos dietéticos, os problemas médicos e o uso de medicamentos.

Os gases gastrointestinais têm a sua origem em três fontes principais:

•    Ar engolido
O ar pode ser deglutido em pequenas quantidades (aerofagia) no acto de comer e beber; no entanto, algumas pessoas engolem o ar de forma repetida e inconsciente quando comem e noutras ocasiões (especialmente em estados de ansiedade). A maior parte do ar engolido é eliminado por eructação e apenas uma pequena quantidade chega ao intestino. A posição do corpo influencia a quantidade de ar que passa: na posição erguida, o ar ascende por cima do conteúdo líquido do estômago, sendo facilmente eliminado; e na posição deitada, o ar fica por baixo do líquido do estômago, tendendo a ser impulsionado para o duodeno.

•    Produção intestinal
A maior parte do gás intestinal resulta da fermentação de alguns alimentos não digeridos por bactérias presentes no cólon.

•    Difusão a partir do sangue
O gás difunde-se entre o intestino e o sangue, em direcção dependente da diferença de pressão parcial.

Os gases gastrointestinais são constituídos por:

•    Nitrogénio
Obtido por aerofagia e está presente em maior quantidade, sendo expelido a maioria das vezes como gás intestinal.

•    Oxigénio
Difunde-se livremente entre a corrente sanguínea e o lúmen gastrointestinal. A sua concentração depende da quantidade engolida e dos processos metabólicos do intestino. Obtido também por aerofagia e difunde-se livremente entre a corrente sanguínea e o lúmen gastrointestinal. A sua concentração depende da quantidade engolida e dos processos metabólicos do intestino.

•    Hidrogénio
Produzido por fermentação bacteriana de resíduos de hidratos de carbono no cólon. A maioria do hidrogénio produzido é eliminada ou consumida nos processos metabólicos do cólon.

•    Dióxido de Carbono
Pode ser produzido por metabolismo bacteriano, mas a fonte mais importante é a reacção dos iões bicarbonato e hidrogénio. Estes últimos podem resultar do ácido gástrico ou dos ácidos gordos libertados durante a digestão das gorduras. O dióxido de carbono é maioritariamente absorvido, com pouca eliminação rectal.

•    Metano (raramente)
Produzido por fermentação bacteriana de resíduos de hidratos de carbono no cólon. Algumas pessoas produzem grandes quantidades de metano, outras pouca ou nenhuma quantidade. As fezes dos indivíduos que produzem muito metano podem flutuar na água, porque o metano reduz a densidade das fezes.

Existem alimentos que produzem gás numas pessoas e não noutras. Algumas bactérias do intestino podem destruir o hidrogénio que outras produzem; o balanço entre estes dois tipos de bactérias pode explicar que algumas pessoas tenham mais gases do que outras. A maioria dos alimentos que contêm hidratos de carbono pode causar gás; já gorduras e proteínas causam pouco.

Tratamento dos gases gastrointestinais

A base do tratamento é regular a ingestão de alimentos flatulentos e assumir determinados comportamentos que podem ajudar a diminuir os sintomas. Frequentemente, é necessária uma dieta de restrição para identificar os alimentos responsáveis pelos gases gastrointestinais, sendo recomendada a sua interrupção durante algum tempo.

Pode ser benéfica a redução do consumo de alimentos associados à produção de gases gastrointestinais:
•    Leguminosas secas (fava, feijão, grão);
•    Vegetais (couve, brócolos, cebola);
•    Frutos (maçã, pêra, pêssego);
•    Amido (de batata, alguns cereais como trigo, massa);
•    Alimentos ricos em gordura;
•    Produtos com extracto de malte.

Existem alguns conselhos úteis que previnem a produção de gases gastrointestinais. Deve-se:

•    Comer lentamente, mastigando e salivando bem os alimentos. Não se deve falar excessivamente durante a refeição.
•    Evitar o consumo de rebuçados e pastilha elástica, que podem aumentar os sintomas pela produção excessiva de saliva e aumento da deglutição de ar ao mastigar.
•    Evitar as bebidas carbonatadas, beber poucos líquidos durante as refeições e evitar dispositivos para a sua ingestão (palhinhas). Não se deve beber em posição deitada, nem deitar-se imediatamente depois de comer.
•    Evitar o tabaco, por ser um irritante gástrico e gerador de aerofagia.

Alguns fármacos que podem auxiliar no tratamento dos gases gastrointestinais:

•    Antiespasmódicos para diminuir as moléstias ou dor; alguns doentes com distensão abdominal beneficiam com fármacos como mebeverina, diciclomina, hioscina ou óleo de hortelã-pimenta, mas a evidência de eficácia não é clara.

•    Antiflatulentos como a simeticone, que desagrega pequenas bolhas de gás, podendo desta forma ser eliminadas mais facilmente. Pode proporcionar alívio sintomático.

A presença de gás intestinal não é prejudicial para a saúde, mas pode indicar o início de doenças ou problemas funcionais intestinais. Pode ser necessário tratamento se o problema se agravar ou surgir acompanhado de dor abdominal, vómitos ou diarreia, perda de peso, alteração dos hábitos intestinais ou febre. Nestes casos, a avaliação médica é essencial, sobretudo nos idosos.

Bibliografia

http://www.ordemfarmaceuticos.pt
http://www.sidewin.com/
http://www.abcdasaude.com.br

Colaborador da Farmácia do Caniço desde 2009.


 


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