DEZEMBRO 2010
INTOXICAçõES POR SALMONELA
Dra. Sónia Gonçalves - Farmacêutica
sonia.goncalves@farmaciadocanico.pt

A salmonela é um dos principais agentes envolvidos em intoxicações alimentares em países desenvolvidos. A contaminação é frequente, apesar das medidas de higiene e de controlo divulgadas. O termo "salmonela" representa o grupo de bactérias do género Salmonella spp. Elas estão amplamente distribuídas na natureza, mas vivem principalmente no organismo do homem e dos animais (reservatórios naturais).

Uma das doenças originadas pela salmonela é a febre tifóide. Esta é causada pela Salmonella typhi, que só ataca o Homem, sendo muito comum nos países em vias de desenvolvimento. Propaga-se por contacto com pessoas infectadas ou através do consumo de água e alimentos contaminados com fezes humanas. A doença aparece em sete a 21 dias e dura cerca de oito semanas. Os sintomas incluem febre alta, mal-estar, dores de cabeça, náuseas, vómitos e dor de barriga, podendo ser acompanhada de manchas na pele. Inicialmente pode ocorrer obstipação, seguida de diarreia com sangue. Ao passar da parede intestinal para a corrente sanguínea (septicemia), a bactéria infecta outros órgãos, podendo mesmo levar à morte. Cerca de 1 por cento das pessoas infectadas torna-se portadora assintomática (fontes de infecção não doentes) durante meses ou anos.

A febre entérica é outra doença causada pela salmonela, nomeadamente S. paratyphi A, B e C. Ela ataca o Homem e os animais e é originada principalmente pelo consumo de água e alimentos contaminados. Os sintomas são semelhantes aos da febre tifóide, mas mais leves, tendo um início mais abrupto (6h a 48h depois) e um curso mais curto (cerca de três semanas).

As gastroenterites são as manifestações mais comuns da infecção por salmonela e ocorrem frequentemente em pequenos surtos regionais, conhecidos como salmoneloses. Estes surtos podem apresentar variações nos sintomas, relacionadas com a salmonela que ataca, mas também com a pessoa atacada (idade e sistema imunitário). Assim, após 12h a 36h, desenvolvem-se dores abdominais, diarreia, febre baixa e vómitos, que podem durar até 72h. Raramente chega a ser fatal. O consumo de carne bovina e suína, aves e ovos crus são apontados como os principais motivos da contaminação. Estes não apresentam qualquer alteração perceptível, impossibilitando a detecção das salmonelas.

As infecções pela maioria das salmonelas evoluem para cura espontânea em 24h a 48h, não sendo necessária hospitalização. O tratamento pode cingir-se à reposição de fluidos, electrólitos e nutrientes perdidos. Isto é essencial em crianças pequenas, pois a perda de líquidos pode corresponder à diminuição de 10 por cento do seu peso corporal. Nas primeiras 24h, a ingestão de soluções orais electrolíticas é suficiente. A toma deve ser lenta, em especial se houver vómitos. As quantidades recomendadas devem ser respeitadas, para evitar uma sobrecarga electrolítica.

Se a diarreia ou os vómitos piorarem ou se persistirem por mais de 24h, ou se houver agravamento dos sintomas, como aparecimento de sangue nas fezes e sinais de desidratação (apatia, sede excessiva, falta de urina ou prega cutânea), deve ser consultado um médico, pois poderá ser necessário terapêutica antibiótica ou reidratação intravenosa.
Em algumas situações pode ser necessária medicação para náuseas, vómitos e febre persistentes. A administração de lactobacillus e leveduras pode ser aconselhada, para ajudar a repor a flora intestinal.

A administração de medicamentos antibióticos ou obstipantes no tratamento das gastroenterites não é recomendada, pois prolonga o período de eliminação da salmonela e das suas toxinas, podendo haver agravamento. Os antibióticos fazem, ainda, surgir salmonelas multirresistentes. No entanto, estes podem ser prescritos a certos pacientes de risco.

Para evitar a contaminação, as mãos devem ser lavadas com frequência, especialmente após contacto com animais e seus dejectos, assim como antes e durante o manuseamento de alimentos. Todos os alimentos e utensílios de cozinha devem ser bem lavados. As carnes cruas devem ser separadas dos restantes alimentos. Deve ser evitado o consumo de alimentos crus ou mal cozidos, pois a cozedura dos alimentos a 60ºC por 10 minutos elimina as Salmonelas (a S. typhi necessita de cerca de 1h).

Deve-se consumir leite pasteurizado, água engarrafada e bebidas sem gelo, especialmente em viagem. A adição de cloro à água mata as salmonelas.

Deve ser evitada a toma de medicamentos anti-ácidos ou inibidores da secreção ácida, pois a acidez gástrica inibe a multiplicação das salmonelas. A alimentação dos recém-nascidos merece um cuidado acrescido, pois estes têm pouco ácido no estômago e o esvaziamento gástrico é rápido, o que os torna mais susceptíveis às salmoneloses. Existe uma vacina contra a febre tifóide, mas a sua administração apenas se justifica em populações de alto risco.

Bibliografia

Maria Augusta Soares, Medicamentos Não Prescritos. Aconselhamento Farmacêutico - Publicações Farmácia Portuguesa, Lisboa, 2002
http://www.criasaude.com.br/N2022/doencas/gastroenterite/causas-gastroenterite.html
http://www.medcenter.com/medscape/content.aspx?id=587&langtype=1046
http://www.cve.saude.sp.gov.br/htm/hidrica/if_510FT.html
http://www.saudepublica.web.pt/index.html

Colaboradora da Farmácia do Caniço desde 2009.

 


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