Dra. Cristiana Areias - Farmacêutica cristiana.areias@farmaciadocanico.pt O glaucoma é uma das principais causas da cegueira em Portugal, sobretudo entre as pessoas mais idosas. No entanto, a perda de visão provocada pelo glaucoma é evitável se for possível um diagnóstico precoce da doença. Esta doença é definida como um grupo de doenças oculares em que se observa alteração do nervo óptico, que consequentemente leva a uma diminuição da capacidade visual, uma vez que o nervo óptico é responsável pela transmissão de imagens do olho até ao cérebro. Esta alteração é muito frequentemente relacionada com a existência de pressão intra-ocular excessiva (pressão que o humor aquoso, um líquido que entra e sai do olho e que só existe na parte interna, exerce sobre o nervo óptico), no entanto, o glaucoma pode aparecer em indivíduos com pressão intra-ocular normal. O glaucoma pode acontecer sem a existência de qualquer sintoma associado durante um período inicial longo e apenas ser detectado em exames oftálmicos de rotina. Existem vários tipos de glaucoma: Glaucoma crónico de ângulo aberto: é a forma mais comum e que está relacionada com o envelhecimento. A pressão dentro do olho vai aumentando até começar a lesionar o nervo óptico. Como acontece de forma gradual, a perda de visão só começa a ser notória quando o nervo óptico já está bastante danificado. Glaucoma de ângulo fechado: O ângulo de drenagem do olho pode ficar completamente obstruído e a pressão do olho aumenta rapidamente. Nesta situação, os sintomas aparecem de forma aguda e entre eles estão a visão baça, a dor ocular intensa, náuseas e vómitos e auréolas de arco-íris ao olhar para luzes. Glaucoma de pressão normal: quando existe lesão do nervo óptico, mas a pressão intra-ocular observada é normal. Glaucoma congénito: o indivíduo já nasce com uma malformação ao nível do ângulo do olho que permite uma normal entrada de humor aquoso no olho mas dificulta a sua saída, levando a um aumento de pressão intra-ocular. Crianças com este tipo de problemas apresentam sensibilidade à luz, bem como lacrimejo excessivo. Glaucomas secundários: ocorrem como consequência de outras doenças como catarata avançada, alguns tumores ou inflamações oculares. Ainda não é claro o motivo do aparecimento deste problema ocular. E, apesar de se conseguir entender que o nervo óptico se lesione quando há pressão elevada sobre ele, também ainda não há explicação para que ele por vezes se lesione quando a pressão intra-ocular é normal. Factores de Risco Apesar do glaucoma poder existir em qualquer indivíduo, existem alguns grupos que apresentam maior risco de desenvolver esta doença. Estão identificados como factores de risco: • Ter mais de 60 anos de idade; • Ser indivíduo de raça negra com mais de 40 anos de idade; • Possuir história familiar de glaucoma. Como viver com Glaucoma? A partir do momento em que é diagnosticado glaucoma, existem pequenas alterações no dia-a-dia que têm de ser feitas de modo a que o indivíduo possa autogerir a doença da forma mais eficaz possível. Seguem algumas sugestões: • Ser seguido frequentemente por um oftalmologista, para que o tratamento seja devidamente monitorizado e adaptado; • Organizar o horário da administração dos medicamentos e associá-la a rotinas já estabelecidas (como a lavagem dos dentes ou o pequeno almoço) para que não se confunda ou esqueça de a fazer; • Uma vez que a perda, ainda que gradual, de visão é um assunto bastante delicado, procurar ajuda emocional dentro ou fora do seio familiar poderá ser algo muito importante; • Poderá ser necessário abdicar de conduzir à noite, uma vez que os reflexos, especialmente à noite, poderão estar bastante comprometidos; • O uso de óculos de sol com tons acastanhados pode ajudar a eliminar o brilho de algumas cores (como é caso das cores fluorescentes), facilitando a percepção visual. Tratamento Dependendo do tipo de glaucoma, o tratamento pode significar uso de medicação, normalmente aplicação de gotas oculares, cirurgia ou uma combinação dos dois. Tudo dependerá do estádio de desenvolvimento em que se encontra a doença, do próprio estado geral do doente e outros factores que o médico avalia tendo em conta a individualidade de cada doente. Uma vez que ainda não existe cura para este problema, iniciar o tratamento o mais precocemente possível é essencial para preservar a visão. É comum que o médico oftalmologista prescreva uma combinação de gotas oculares ou que vá alterando a medicação de tempos a tempos, de modo a reduzir os efeitos secundários e a optimizar o tratamento. O objectivo destes medicamentos é, na sua generalidade e através de diferentes mecanismos de acção, reduzir a pressão intra-ocular. A cirurgia pode ser também uma solução quando a medicação não é suficientemente eficaz. Mais uma vez, o tipo de cirurgia recomendada pelo médico depende da gravidade do glaucoma e do estado de saúde geral do olho. A cirurgia justifica-se quando a medicação não demonstra resultados satisfatórios, mas no entanto, não pode reverter a perda de visão já verificada. Factos mais importantes a reter sobre Glaucoma: • É uma das principais causas de cegueira em Portugal; • Na maioria dos casos, é uma doença silenciosa (não apresenta sintomas); • Não existe cura, apenas tratamento de prevenção, pelo que é essencial o diagnóstico precoce. Colaboradora da Farmácia do Caniço desde 2009. |