NOVEMBRO 2010
CóLICAS
Dra. Sofia Ferreira - Farmacêutica
sofia.ferreira@farmaciadocanico.pt

Cólica é definida como um choro intenso, que dura mais de três horas por dia, durante pelo menos três dias na semana, pelo menos durante três semanas. O termo cólica deriva do grego kolikos ou Kolon, sugerindo que algum distúrbio ao nível do tracto gastro-intestinal está a ocorrer.

As cólicas são muito comuns em crianças desde as duas semanas de vida e até aos quatro meses, embora possam prolongar-se por mais tempo. Afectam 10 a 30 por cento dos bebés, sendo uma condição clínica generalizada, facilmente reconhecível, mas pouco compreendida e de difícil resolução.

As cólicas no bebé são mais frequentes no final do dia e de madrugada, sem causa aparente. Durante as crises, os bebés choram intensamente, têm episódios de irritabilidade, apresentam a barriga inchada e rígida, as pernas encolhidas e punhos cerrados, como sinal de dor abdominal. As cólicas são um dos motivos que levam os pais a procurar o conselho do médico pediatra nos primeiros três meses de vida do bebé.

Ocorrem igualmente em bebés amamentados com leite materno e fórmulas infantis (substitutos do leite materno). No caso das fórmulas, os pais têm ao seu dispor alternativas para diminuir o problema.

Possíveis causas:

•    Apesar de ser um fenómeno já há alguns anos estudado, a causa das cólicas no bebé não se encontra totalmente compreendida e tem-se revelado ser multifactorial. Diferentes formas de alimentação, nomeadamente quando o bebé come muito depressa ou não consegue agarrar bem o mamilo, fazem com que uma grande quantidade de ar entre para o lúmen intestinal, o que nos sugere que aerofagia (engolir ar) excessiva poderá estar associada às cólicas do bebé. Também o choro excessivo faz com que  a criança engula ar, o que produz gás (flatulência) e inchaço abdominal.
•    A fermentação no intestino parece ser a segunda fonte de gás excessivo no intestino do bebé. Também a presença de níveis elevados de determinados marcadores bioquímicos e stress na gravidez foram associados a bebés com cólicas.
•    Imaturidade do sistema digestivo do bebé é também uma das hipóteses apontadas, pois o sistema digestivo sofre grandes alterações nos primeiros meses de vida, nomeadamente:
- desenvolvimento de uma flora intestinal saudável: alguns estudos recentes focados na microflora intestinal e a sua associação com as cólicas, associaram bébes com cólicas a baixos níveis de lactobacillus intestinais, quando comparados com crianças sem cólicas;
- desenvolvimento dos movimentos intestinais e activação de enzimas digestivas, normalmente nos recém-nascidos a lactase, que é a enzima que degrada o açúcar do leite (lactose), não se encontra completamente desenvolvida, o que faz com a lactose não digerida chegue ao cólon e aí irá contribuir para o desenvolvimento de bifidobactérias intestinais. Contudo, quando em excesso, esta irá acumular-se no cólon e poderá originar flatulência, diarreia e dor abdominal.
•    Hipersensibilidade e alergias alimentares poderão também estar na origem das cólicas do bébe, como por exemplo crianças alérgicas à proteína do leite de vaca.
•    Imaturidade funcional do sistema nervoso central.
•    Mais recentemente, alguns estudos referem como possíveis factores causadores, alterações hormonais da mãe e mães fumadoras, contudo ainda necessitam de confirmação.

Lactobacillus Reuteri

L. Reuteri é um próbiótico – estes são organismos vivos, normalmente bactérias, que quando consumidos em quantidades adequadas na nossa alimentação têm um efeito benéfico na nossa saúde. Esta bactéria benéfica existe naturalmente no leite materno e está também presente naturalmente no intestino dos bebés e crianças.

São vários os estudos em que se comprova que L. Reuteri reduz parcialmente ou totalmente o choro de crianças com cólicas. No espaço de uma semana, bebés tratados com suplemento de L. Reuteri reduziram cerca de 74 por cento  o tempo de choro, uma vez que esta bactéria, além de ajudar a regular a digestão do bebé, através de movimentos intestinais regulares, que melhoram a motilidade intestinal, também promove a colonização do intestino por lactobacilos e reduz a regurgitação.

Como alternativa ao L. Reuteri temos o simeticone e o dimeticone – estes actuam modificando a tensão superficial das bolhas gasosas formadas no intestino, permitindo uma melhor expulsão do gás do intestino.

As cólicas infantis não são uma doença, mas são um dos principais distúrbios que afectam os bebés após o nascimento, podendo influenciar de forma muito marcante a vida de toda a família.

Colaboradora da Farmácia do Caniço desde 2006.

Bibliografia

(1)    Lehtonen L., Korvenranta H., Department of Pediatrics, Turku Finland University Hospital, Infantile Colic. Seasonal incidence and crying profiles Maio 1996;
(2)    Savino F., Department of Pediatrics, Regina Margherita Childrens Hospital, University of Turin, Focus on infantile colic Setembro 2007;
(3)    Prashant G Deshpande, MD, Attending Pediatrician, Department of Pediatrics, Christ Hospital Medical Center and Hope Childrens Hospital, Oak Lawn, Ilinois; Chairman, Department of Pediatrics, Palos Community Hospital, Palos Heights, Ilinois, Colic Actualizado a 7 Outubro 2009;
(4)    Maria Augusta Soares, Medicamentos Não Prescritos
(5)    Fran Lowry, Medscape Medical News, Probiotics Improves Symptoms of Infantile Colic Aug. 2010


 


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