OUTUBRO 2010
A CRIANçA E A ESCOLA
Enf.ª Vera Lúcia Gouveia Pestana - Especialista em Saúde Infantil e Pediatria
veralgouveia@gmail.com
 
Desde que a humanidade existe, o cuidado e a protecção ao outro são fundamentais, e a sua falta coloca imediatamente a criança em risco de vida. A vida progride e a este factor está intrusivamente associado o crescimento e desenvolvimento. A princípio dá-se apenas na sua teia familiar, mas logo é também a escola a grande oportunidade da criança se desenvolver.

Hoje em dia, quando se menciona a palavra “estimular”, a área cognitiva sobressai. Parece que os pais vivem obcecados com a ideia de que os filhos têm de ser preparados para competir desde cedo. Poucos conseguem resistir ao desejo de os preparar, ensinando-lhes as capacidades que precisarão na escola: leitura escrita e aritmética, por vezes muito antes de ingressarem na primeira classe. Brazelton, entre muitos outros investigadores, defende que esse tipo de pressão retira à criança a oportunidade de auto-exploração, de brincar e da aprendizagem que advêm da experimentação, tão importante para a sua capacidade de criatividade, reflexão e de construir os seus pensamentos.

O desenvolvimento para ser harmonioso, deverá ter o seu componente emotivo e social.

Grandes especialistas em crianças não se cansam de referir: preocupe-se que o professor/educador seja também uma pessoa sensível, carinhosa e compreensiva. Havendo capacidade intelectual, mais cedo ou mais tarde a aprendizagem progride. A personalidade e a sensibilidade do professor, seja qual for a idade da criança, pode ser tão ou mais importante do que a capacidade de ensinar, se reforçar na criança uma boa auto-imagem.

Valorize o estádio de desenvolvimento emocional do seu filho, em algumas situações em maior proporção que o seu potencial cognitivo. Mostre-lhe que confia na professora com pequenas frases de incentivo.

Há quem reflicta e diga: as universidades multiplicaram-se mas o número de pensadores não aumentou. Há que saber explorar o processo de produção do conhecimento.

Dê ao seu filho tempo para brincar, reserve um pouco de espaço para estar com ele, para jantarem juntos e conversarem sobre o seu dia. Conversar é um alimento para o cérebro das crianças...

Em estudos feitos após longas observações com crianças, constatou-se que as crianças na escola riam, mas não tão intensamente como com os pais; dormiam na escola mas não tão profundamente como em casa, nas mesmas circunstâncias e no mesmo horário; brincavam, mas não tão vigorosamente como com os pais.

Incentivamos a ganhar diplomas, preparamos para o sucesso e muitas vezes esquecemo-nos de os ensinar a lidar com as frustrações, as perdas e o sentimento de humilhação. Respeite o ritmo do seu filho. Dar-lhe tempo e esperar poderá ser a chave do sucesso. Muitos alunos precoces, tornam-se mais tarde um fracasso.

Não só a concentração, mas a resistência física e paciência para estar longos períodos sentado devem ser tomadas em conta. A criança deve de estar apta a compreender, a recordar, a seguir as indicações de várias pessoas, a executar tarefas e a manejar os seus próprios materiais. Lembre-se que o sono e repouso adequado e um pequeno-almoço adequado não são apenas importantes: são fundamentais. Por vezes, as mudanças podem ser pequenas mas a diferença poderá ser enorme. Imponha limites: ele poderá não dizer que gosta, nas sentirá um mundo mais seguro.

O descanso proporciona à criança uma maior capacidade para estar activa e captar o conhecimento, assim como os níveis de açúcar no sangue, isto é, uma alimentação adequada (não confundir com o açúcar, alimento). Os neurónios (células do cérebro) funcionam associados a esse açúcar sanguíneo.

Considere outro aspecto muito importante: a capacidade que a criança tem de enfrentar o “stress” que sente ao sair de casa todos os dias pode estar ligada ao seu estado fisiológico. Nesta fase, as crianças acordam já com um baixo nível de açúcar, o que lhes pode provocar dores de cabeça ou de barriga. A ansiedade da separação da família e enfrentar mais um dia de escola pode baixar ainda mais esses níveis. Não só os alimente devidamente antes de sair de casa como assegure-se de que a merenda a meio da manhã existe e é de qualidade (evite bolos, bolachas açucaradas ou folhados por exemplo).

Em suma, valorize todos os aspectos do desenvolvimento do seu filho, respeite o seu ritmo, promova-lhe a auto-estima através dos seus elogios e explicando o possível, à medida do seu desenvolvimento. As crianças não precisam de grandes explicações.

Ouça também todos os intervenientes com competências profissionais ligados ao processo de crescimento do seu filho... e ouça-se a si próprio, que é quem melhor o conhece.

A Enf.ª Verá Lúcia Pestana é uma das responsáveis pelo site de apoio à parentalidade www.cuidarcrianca.com.
 

 


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