OUTUBRO 2010
DOENçAS DE PELE: PSORíASE
A Psoríase é uma doença crónica da pele que afecta cerca de 2 por cento da população portuguesa. O dermatologista Dr. Jorge Marote, fala em entrevista acerca desta doença, com ênfase nos conselhos práticos que podem contribuir para amenizar os seus efeitos e sublinha a importância de haver mais informação sobre a mesma, de maneira a evitar que os doentes sejam marginalizados.

Como se caracteriza a Psoríase?
A Psoríase é uma doença crónica da pele, que apresenta períodos de agravamento e de melhoria ao longo do tempo. As lesões de Psoríase têm um componente que é o eritema, o aspecto  “avermelhado da pele”, associado à presença de descamação e por vezes de crostas. Em algumas pessoas pode ocorrer prurido, ou seja, comichão, o que é bastante incomodativo. Para além da pele, a Psoríase pode também atingir as unhas e associar-se a doença articular. As pessoas com Psoríase sabem que é comum a doença agravar no Outono e Primavera.

Quais são as causas desta doença?
As causas da Psoríase não são conhecidas com exactidão, embora saibamos que existe uma predisposição genética. Estima-se que em cerca de 25 a 30 por cento dos casos exista história familiar de Psoríase. É preciso termos em atenção que por vezes pode ser difícil determinar se existe história familiar ou não e isto porque a doença pode não ter surgido nas duas ou três últimas gerações, não obstante possam ter ocorrido casos anteriores dos quais não existe registo.

Quais são as faixas etárias mais atingidas?
A Psoríase afecta os homens e as mulheres de igual modo. A idade em que esta doença mais aparece é, em média, por volta dos 30 anos, havendo depois um segundo “pico” por volta dos 55 anos, já um pouco menos significativo. As crianças podem ser afectadas, mas o aparecimento da doença neste grupo é menos frequente. Estima-se que em Portugal cerca de 250 mil pessoas sofram desta doença, sensivelmente 2 a 3 por cento da população.

Quais os principais factores que contribuem para o agravamento da doença?
Entre os factores externos que podem desencadear a Psoríase encontramos, por exemplo, as infecções, sendo estas muitas vezes da orofaringe; estas normalmente são infecções estreptocócicas, as quais ao fim de duas ou três semanas podem desencadear um quadro de aparecimento ou agravamento da Psoríase. O “stress” é outro dos factores de agravamento da Psoríase. Sabemos que hoje em dia é quase impossível fugir ao “stress”, devido ao ritmo da vida moderna, mas as pessoas devem tentar gerir este factor o melhor possível. No entanto, há situações provocadoras de “stress” sobre as quais não poderemos nunca exercer controlo, como o falecimento de um familiar ou a perda de um emprego, entre outras... O alcoolismo é outro factor de agravamento da Psoríase, levando muitas vezes ao descuido e ao abandono da terapêutica. Como agravante, algumas pessoas poderão sentir-se marginalizadas pela presença da Psoríase e acabarão por refugiar-se no álcool, o que gera um ciclo vicioso…. Além destes factores, existem alguns medicamentos que poderão agravar a Psoríase como os sais de lítio, antimaláricos, B bloqueantes e inibidores do enzima de conversão da angiotensina, sendo estes dois últimos usados no tratamento da  hipertensão arterial.   

Este ano foi aumentada a comparticipação dos medicamentos para a Psoríase. Como analisa essa medida?
O que se nota, essencialmente, é que um maior número de pessoas está a efectuar o tratamento correctamente, o que é positivo, sem dúvida. Muita da medicação é dispendiosa e as pessoas, ao terem a possibilidade de a comprar a um custo mais reduzido, conseguem fazer o tratamento mais assiduamente. Em muitos casos, tínhamos alguma dificuldade em tratar e controlar a doença, pela simples razão de que os doentes não cumpriam com os tratamentos indicados pelo médico, porque não dispunham dos meios económicos para o fazer. Penso que, graças a esta medida, no futuro esses casos serão menos habituais. No entanto, convém sublinhar que o factor económico não é o único a ter em conta: há pessoas que já se habituaram a ter a doença. Só estão interessadas numa cura definitiva e como ela não existe, não têm a motivação para fazer o tratamento e simplesmente vivem com a doença.

Ao nível do estilo de vida, o que é que os doentes com Psoríase podem fazer para amenizar os efeitos da doença?
O sol fornece um benefício importante, embora a exposição solar só seja muitas vezes possível na altura do Verão. Mas claro que as pessoas devem escolher bem o horário em que se irão expor ao sol, sendo mais aconselhável antes das 11h30 e depois das 17h00. Como todos sabemos, há regras para termos uma exposição ao sol segura e as pessoas que sofrem de Psoríase devem segui-las para que lhes possa trazer, efectivamente, um benefício e não uma desvantagem: essa exposição deverá fazer-se em períodos curtos os quais poderão ser aumentados progressivamente e dentro dos horários aconselhados. Deve ser evitada a todo o custo a queimadura solar porque isso poderia levar inclusivamente ao agravamento da Psoríase. Nesta doença especificamente, o ideal seria não aplicar protector solar, deixando que o sol incida directamente sobre a pele de maneira a retirar um maior benefício, mas isso significa que a exposição deve ser bem controlada. Em relação a outros factores benéficos, cumpre acrescentar que as pessoas devem ter uma vida o mais regrada possível, evitando o álcool e tentando minimizar os factores de “stress”. O descanso é muito importante, pelo que devem dormir pelo menos sete horas por dia, um número de horas considerado geralmente adequado. Saliento ainda que cumprir a terapêutica é um ponto fundamental.

Tendo em conta que a Psoríase afecta um órgão tão visível como a pele, qual é o efeito psicológico desta doença?
É importante que os doentes com Psoríase recebam apoio dos seus familiares e amigos. Para algumas pessoas pode também ser necessário o apoio psicológico por parte de profissionais, por exemplo. É uma doença que pode ser muito frustrante e influenciar negativamente a qualidade de vida, o que pode colocar dificuldades ao nível do relacionamento com as outras pessoas. Por exemplo, em relação ao vestuário, as pessoas com Psoríase têm a tendência para andarem muito mais “tapadas”. Mesmo tendo em conta o factor benéfico do Sol, há muitos doentes que não vão à praia quando chega o Verão por terem vergonha da sua doença e não se sentirem à vontade. Também há outros momentos complicados, até no dia-a-dia, devido às exigências que a doença impõe. Muitas vezes, as pessoas têm de se levantar 30 ou 45 minutos mais cedo para aplicarem o tratamento e depois à noite têm de repetir tudo novamente, o que, com o tempo, naturalmente leva a que alguns doentes possam sentir-se desanimados. Por estes motivos, o doente deve ser sempre acompanhado e estimulado a tratar-se.

Acha que existe um certo desconhecimento da doença, fazendo com que os doentes se sintam marginalizados ou incompreendidos?
Apesar de tudo, já não há tanto desconhecimento como havia antes em relação à Psoríase. Já se fala na doença, por vezes saem artigos nos jornais e nas revistas e além disso as pessoas podem pesquisar pelos seus próprios meios na Internet. O que eu noto é que, realmente, existe mais informação sobre a doença, o que é positivo. É preciso deixar bem claro ao público em geral que esta doença não é contagiosa e por isso não há motivo para evitar o contacto físico com as pessoas que têm Psoríase.

O arsenal terapêutico actualmente disponível é satisfatório?
Cada caso é um caso, pelo que a terapêutica tem de ser individualizada para cada situação. Por ser uma doença crónica, as pessoas terão de ser tratadas toda a sua vida e a terapêutica terá de ser “rotativa”. Ou seja, nós não vamos utilizar sempre a mesma terapêutica para o mesmo doente. Os corticóides continuam a ser um tratamento de primeira linha e permitem bons resultados com mínimos efeitos secundários quando correctamente aplicados. Hoje em dia há outros fármacos que nos permitem obter uma boa resposta terapêutica, com maior segurança e apresentando menos efeitos secundários como são os análogos da vitamina D. A Psoríase não pode ser curada, mas pode ser controlada devendo o doente ser acompanhado. Este acompanhamento pelo especialista é especialmente importante se entrarmos no campo dos tratamentos sistémicos: o doente poderá ou não apresentar efeitos secundários, mas terá de ser monitorizado de acordo com protocolos estabelecidos.


 


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