SETEMBRO 2010
A ALIMENTAçãO NO DOENTE COM GOTA
Dra. Sandra Anjos - Nutricionista
sandraanjos@hotmail.com

A Gota é uma doença que resulta da acumulação de cristais de urato monossódico (vulgo “ácido úrico”) nas articulações e tecidos periarticulares e desencadeia fenómenos inflamatórios que originam dor, edema (inchaço), aumento da temperatura local, coloração avermelhada da pele (eritema) e, por vezes, dificuldade em mobilizar as articulações envolvidas. É uma das doenças reumáticas mais prevalentes no mundo ocidental, afectando sobretudo homens a partir dos 40 anos, mas também mulheres na menopausa. Os locais mais frequentemente envolvidos são as articulações dos dedos dos pés, os tornozelos, os joelhos, as mãos e os cotovelos.

O ácido úrico é o produto final do metabolismo das purinas. O nível de ácido úrico aumenta de forma anormal quando os rins não conseguem eliminar uma quantidade suficiente na urina ou, por outro lado, o organismo também pode produzir quantidades muito grandes de ácido úrico devido a uma anormalidade enzimática hereditária. Quando o ácido úrico não é eliminado eficazmente, aumenta a sua concentração no sangue, uma situação denominada hiperuricemia. Quando isso acontece, pode formar cristais de uratos que se vão acumular nos tecidos e nas articulações (gota), e se se acumulam no rim, fazem-no sob a forma de cálculos (um dos tipos de "pedra" no rim), manifestando-se por episódios recorrentes de cólica renal.

A maioria dos indivíduos com níveis de ácido úrico elevados não desenvolve gota: em 75 por cento dos casos, a hiperuricemia é assintomática. A hiperuricemia é um factor de risco para doenças cardiovasculares e renais, pelo que o valor de ácido úrico sanguíneo deverá ser mantido dentro dos valores de referência.

Tratamento
Geralmente, o tratamento consiste em restrição alimentar e medicamentos para diminuir a taxa de ácido úrico no sangue e, consequentemente, evitar as crises de gota. O tratamento para reduzir os níveis de ácido úrico, desde que tolerado, deve ser mantido por longos períodos, de forma a reduzir os depósitos de cristais.

Cuidados alimentares
A alimentação do doente com hiperuricemia ou com gota deve ser rica em alimentos de origem vegetal, uma vez que estes alimentos são ricos em citratos, que alcalinizam a urina (aumentam o ph). Os alimentos de origem animal devem ser consumidos com moderação, uma vez que a proteína de origem animal contribui para aumentar a acidez da urina (diminuem o seu ph).

Uma vez que a hiperuricemia está frequentemente associada a outras patologias (diabetes, obesidade, dislipidemias), recomenda-se:
  • Tomar diariamente o pequeno-almoço e comer a intervalos não superiores a 3,5 horas;
  • Ingerir cerca de 2 a 3 litros de líquidos por dia, sob a forma de água, infusões de ervas ou outras bebidas alcalinizantes (sumos naturais de fruta e/ou legumes);
  • Consumir alimentos de origem vegetal que alcalinizam a urina e estimulam a diurese, como a melancia, o melão, o morango, o pepino, a abóbora, a pimpinela, o alho francês, o aipo, entre outros;
  • Uma vez que as purinas são solúveis em água, a técnica culinária mais recomendada para carnes e pescado é a cozedura, tendo o cuidado de rejeitar o seu líquido (por exemplo, não consumir a água da canja, do caldo, da caldeira);
  • Evitar o consumo de refrigerantes, açúcar e alimentos que o contenham;
  • Evitar o consumo exagerado de sal;
  • Reduzir ou eliminar totalmente o consumo de bebidas alcoólicas, e com especial atenção para a cerveja (com e sem álcool);
  • Moderar o consumo de café e chá preto;
  • Pela sua riqueza em purinas, restringir os seguintes alimentos: pescado (arenque, cavala, anchova, ovas de peixe, bacalhau, salmão, sardinha, marisco, lulas, polvo, chocos); carnes novas (vitela, borrego, cabrito, leitão), carne de caça, miudezas e vísceras (miolos, rim, fígado), enchidos e fumados (chouriço, presunto), produtos de salsicharia, cubos concentrados de carne ou peixe, sopas instantâneas à base de carne ou marisco; leguminosas (feijão, grão, lentilhas, ervilhas); alguns legumes (espargos, couve-flor, cogumelos, espinafres);
  • Consumir em pequenas quantidades, com moderação: pescado (com excepção dos anteriores; ex. carapau, pescada, corvina, pargo, vermelhão), carnes (vaca, peru, galinha);
  • Privilegiar o consumo de fruta e sumos de frutas (mesmo as ácidas), lacticínios meio gordos ou magros, ovos, legumes (com excepção dos anteriores), arroz e outros cereais, massa, batata, pão.
Devem evitar-se factores precipitantes das crises, nomeadamente esforços intensos, abusos alimentares e alcoólicos. Estas orientações gerais são meramente informativas, não dispensando o aconselhamento individualizado por um técnico especializado.


 


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