Dra. Gisele Amorim - Farmacêutica gisele.amorim@farmaciadocanico.pt A intolerância alimentar é uma resposta retardada a certos alimentos e pode ser uma doença debilitante que afecta a saúde e a qualidade de vida a longo prazo. Embora muitas vezes confundida com alergia alimentar, a intolerância alimentar deve-se a formação de anticorpos contra as proteínas de determinados alimentos. Estes anticorpos são numa primeira fase Ig A, ao contrário do que se passa num processo alérgico que são do tipo Ig E, e, após múltiplos estímulos, desenvolvem-se anticorpos do tipo Ig G. Através deste processo imunológico vários alimentos podem provocar alguns distúrbios no organismo, na maioria das vezes difíceis de relacionar com o alimento ingerido, causando reacções pouco claras e insidiosas, precisamente por se tratarem de patologias moderadas e de carácter crónico, cujo diagnóstico é difícil. As manifestações clínicas que se podem associar à intolerância alimentar estão relacionadas com a melhoria dos sintomas após a supressão do alimento cujo teste de anticorpos Ig G deu positivo. São elas: - Perturbações respiratórias: rinite, sinusites, tosse, crises de asma; - Perturbações gastrointestinais: cólicas, diarreia, obstipação, vómitos, síndrome de cólon irritável, flatulência; - Perturbações dermatológicas: acne, psoríase, urticária, eczema; - Perturbações neurológicas: enxaqueca, vertigem, distúrbios visuais, etc.; - Transtornos psicológicos: ansiedade, letargia, fadiga crónica, hiperactividade (principalmente em crianças); - Outros: Artrite, fibromialgia, inflamações articulares. Qualquer indivíduo, em qualquer fase da vida, pode ser surpreendido por uma repentina intolerância ou alergia a um dado alimento. No entanto, em geral, os sintomas iniciam-se na infância – e isso pode acontecer desde os primeiros dias de vida. A mudança repentina do padrão alimentar pode favorecer a ocorrência de intolerância alimentar, principalmente se a mudança for de uma dieta mais leve para outra mais forte ou completamente estranha ao organismo. Em casos de súbita mudança de hábitos alimentares, as condições físicas gerais, o factor emocional e as condições imunológicas da pessoa encontram-se alteradas e isso pode desencadear uma reacção. Quais os principais alimentos envolvidos na intolerância alimentar? Entre os “vilões” da intolerância alimentar, o principal é o leite, tanto para adultos como para crianças (como os bebés que começam a consumir leite de vaca muito precocemente). Um número grande de pessoas simplesmente não possui enzimas para metabolizar a lactose, o açúcar do leite, podendo desenvolver diversos sintomas após a ingestão de leite: cólicas, excesso de gases ou diarreia. Alguns especialistas suspeitam que, a partir de uma certa idade (por volta dos 3 anos), todo organismo tem dificuldade em lidar com o açúcar ou a proteína do leite, em maior ou menor grau. Outros inimigos são os aditivos químicos presentes nos alimentos, com destaque para os nitritos, usados em larga escala nos enlatados e mesmo na carne fresca (com o objectivo de realçar a aparência da carne), os corantes (E 102, E 107, E 110, E 122, E 123, E 124, E 128 e E 15 1), os aromatizantes (cinamato (canela), anetol (alcaçuz), baunilha, eugenol (cravinho) e mentol), os conservantes (E 210, E 219, E 200, E 203) e os antioxidantes (E 311, E 320 e E 321). O consumo exagerado de carbohidratos (especialmente quando combinados com proteínas) também pode causar intolerância. Outros accionadores, mesmo em quantidades pequenas, são os adoçantes usados em produtos dietéticos (principalmente o sorbitol). Como é feito o tratamento? Embora os mecanismos responsáveis pelo desenvolvimento da alergia e intolerância alimentar sejam diferentes, a abordagem terapêutica é quase sempre a mesma. Nos dois casos, o factor gerador ou precipitador do problema está intimamente relacionado com a digestão e a absorção, e o órgão primariamente envolvido é o intestino. A condição da mucosa intestinal, onde ocorre a absorção dos nutrientes, é o fundamento para a triagem dos nutrientes do corpo, a selecção do que é útil ou inútil ao organismo. Maus hábitos dietéticos, combinações impróprias, uso prolongado de antibióticos e outras drogas, acabam por tornar a mucosa intestinal mais permeável. Daqui decorre que substâncias indesejáveis como metais pesados, aditivos químicos, toxinas de bactérias patogénicas e componentes alimentares não digeridos passam para a corrente sanguínea e desencadeiam sérios efeitos para a saúde, incluindo as alergias e as intolerâncias alimentares. No tratamento, além das correcções dietéticas específicas (identificar quais os alimentos que causam problemas e eliminá-los da dieta), é essencial repensar a dieta. Colaboradora da Farmácia do Caniço desde 2004. Bibliografia K Hicks & G Hart, Role of food-specific Ig G based elimination http://boasaude.uol.com.br/lib/showdoc.cfm?LibCatID=-1&Search=alergia&LibDocID=5026 http://www.endoclab.pt/UploadImages/Banners/PdfA4_Intoler%C3%A2nciaAlimentar.pdf http://exercicioesaude.blogs.sapo.pt/32708.html |