AGOSTO 2010
QUEIMADURAS: PREVENçãO E TRATAMENTO
Dr. Élvio Sousa – Farmacêutico*
elvio.sousa@farmaciadocanico.pt

A queimadura é uma lesão que resulta do contacto directo ou exposição a uma fonte térmica, química, eléctrica, radioactiva, podendo mesmo ser ocasionada pela fricção. Esta lesão pode ocorrer quando a energia de uma fonte de calor é transferida para os tecidos corporais, com a profundidade da lesão a variar em função da temperatura e da duração da exposição. As queimaduras continuam a ser um acidente comum, com implicações físicas e psicológicas para o indivíduo afectado.

As queimaduras são classificadas em graus, conforme a sua profundidade:

1º Grau  – queimadura superficial, atingindo apenas a primeira camada da pele (a epiderme). Caracteriza-se por ser uma queimadura não exsudativa (não expele em forma de gotas ou suor) e dolorosa, mas regride em poucos dias, por exemplo a queimadura solar.

2º Grau  – queimadura mais profunda, causa bolhas (flictenas) e é muito dolorosa, porque há a exposição das raízes nervosas que foram atingidas.

3º Grau  – queimadura esbranquiçada, tão profunda que atinge os músculos e ossos. Os tecidos ficam negros e sem vida (necrose). Não há dor porque as terminações nervosas responsáveis pela sensibilidade à dor foram também queimadas. Nas bordas de uma queimadura de terceiro grau existirão queimaduras de primeiro e segundo grau.

4º Grau - carbonização, onde há perda total da estrutura e da função morfológica.
 
As consequências das queimaduras relacionam-se com a percentagem da área do corpo atingida. Quando esta é inferior a 15 por cento, considera-se que o acidentado é, simplesmente, “portador de queimaduras”. Quando a percentagem da pele queimada ultrapassa os 15 por cento, o acidentado é visto como “grande queimado”. Ao atingir mais de 40 por cento da superfície do corpo, existe risco de vida.  Acima de 70 por cento, as hipóteses de sobreviver são mínimas.

O que se deve fazer

•    Se a roupa estiver a arder, envolver a vítima numa toalha molhada ou, na sua falta, fazê-la rolar pelo chão ou envolvê-la num cobertor (evitar os tecidos sintéticos);

•    Se a vítima se queimou com água ou outro líquido a ferver, despi-la imediatamente;

•    Dar água a beber frequentemente, lentamente e com cuidado;

•    Se necessário, dar um analgésico para alívio da dor.

Se a queimadura for de 1º Grau (queimadura simples):

•    Arrefecer a região queimada com soro fisiológico ou água fria corrente até a dor acalmar.

Se a queimadura for do 2º grau (com bolhas - flictenas):

•    Arrefecer a região queimada com soro fisiológico ou água fria corrente até a dor acalmar;

•    Se a bolha rebentar, não cortar a pele da bolha esvaziada, nem pô-la em contacto directo com a água; tratar como qualquer outra ferida (desinfecção com uma solução de clorohexidina ou iodopovidona; secagem da zona afectada com compressa esterilizada).

Se a queimadura for de 3º grau (profunda):

•    Transportar o acidentado urgentemente para o Hospital, pois trata-se de uma situação grave;

•    Arrefecer a região queimada com soro fisiológico ou água fria corrente até a dor acalmar;

•    Se a queimadura for muito extensa, envolver a vítima num lençol lavado, que não largue pêlos e previamente humedecido com soro fisiológico ou água simples.

O que não se deve fazer

•    Não dar água a acidentados com mais de 20 por cento do corpo queimado;

•    Não colocar gelo sobre a queimadura;

•    Não aplicar pomadas, líquidos, cremes ou outras substâncias sobre a queimadura, uma vez que estas podem complicar o tratamento e necessitam de indicação médica;

•    Não retirar as roupas queimadas que estiverem aderidas à pele;

•    Não colocar água em queimaduras provocadas por pós químicos.

Prevenção

Já o velho ditado diz que “mais vale prevenir do que remediar”. A prevenção deve começar nas nossas casas e com as crianças, pois a curiosidade natural da criança leva-a explorar o meio ambiente. Todas as casas, sobretudo as cozinhas, deveriam ser planeadas e utilizadas de forma a não permitir à criança o acesso ao perigo, nomeadamente fósforos, líquidos inflamáveis, cabos de panelas e frigideiras no fogão.

Seguem-se algumas medidas simples que podem salvar muitas crianças de uma queimadura:

•    Manter as crianças longe da cozinha e do fogão, principalmente durante o preparo das refeições;
•    Cozinhar nas bocas de trás do fogão e sempre com os cabos das panelas virados para trás, para evitar que as crianças alcancem e entornem os conteúdos sobre elas;
•    Evite carregar as crianças ao colo enquanto mexe panelas no fogão ou manipula líquidos muito quentes. Quando estiver a beber ou a segurar líquidos quentes, faça-o longe das crianças;
•    Evite o uso de toalhas de mesa compridas, pois as crianças podem puxá-las e derramar sobre elas comidas quentes;
•    No momento do banho dos bebés, verificar a temperatura da água e da banheira com o cotovelo ou dorso da mão;
•    Não deixar as crianças brincarem perto dos ferros de engomar ligados e manter sempre a vigilância. Cuidado com os fios dos outros electrodomésticos, procurando mantê-los em sítios fora do alcance das crianças;
•    Os fogos de artifícios nunca devem ser manipulados por crianças. Não permitir brincadeiras que envolvam o fogo, por exemplo saltar a fogueira.

Atendimento psicológico

Nos casos mais graves, o paciente queimado encontra-se num estado de extrema dor física e psicológica, devendo a equipa de saúde cuidar das suas feridas e atender às suas queixas a nível do foro psicológico. Podendo a queimadura causar lesões irreversíveis na pele e deixar marcas permanentes, são possíveis as alterações significativas na auto-estima e auto-conceito do doente queimado, que passa a gostar menos da sua imagem corporal, podendo rejeitá-la.

A depressão e a perturbação de stress pós-traumático constituem os problemas psicológicos mais frequentes nas vítimas de queimaduras. O acompanhamento psicológico com pacientes queimados e seus familiares possibilita a expressão de sentimentos, angústias e medos, bem como das expectativas em relação à evolução clínica e aos tratamentos.

*Colaborador da Farmácia do Caniço desde 2009.

Bibliografia

http://pt.wikipedia.org/wiki/Queimadura

http://www.manualmerck.net

http://www.queimados.com.pt

http://farmaceutico.planetaclix.pt/pelequeima.html

http://www.hsc.min-saude.pt/Emergencia/ComoActuar/queimaduras.htm


 


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