JULHO 2010
PERNAS CANSADAS
Dra. Sónia Gonçalves – Farmacêutica*
sónia.goncalves@farmaciadocanico.pt

Sente as pernas cansadas ou pesadas e os pés muito quentes no final do dia? O acelerado ritmo de vida actual leva à aquisição de hábitos pouco saudáveis. As actividades ocupacionais exigem longos períodos de tempo na mesma posição, sentado ou de pé. Estes e outros factores podem desencadear problemas vasculares que levam ao aparecimento de sintomas que não devem ser ignorados.

As doenças venosas resultam de alterações estruturais das veias, principalmente ao nível das válvulas (saliências na parede interna das veias, que se orientam de forma a impedir que o sangue reflua devido à gravidade), levando à deficiência ou perda da função de transporte do sangue da periferia de volta ao coração.

Daqui resulta uma acumulação de sangue não oxigenado e de toxinas na área afectada. Surgem aranhas vasculares (pequenos capilares superficiais, com aspecto de linhas vermelhas sinuosas) ou derrames, sobretudo ao nível das coxas e tornozelos. Aparecem ainda veias varicosas, conhecidas como varizes, sendo estas mais profundas, alongadas, tortuosas e de tonalidade azul-arroxeada. Sucede-se uma falta de força e cansaço, desconforto, inquietação, parestesias (sensação anormal de picadas e formigueiro, associada à impressão de pele empergaminhada) e cãibras nas pernas. Podem ocorrer alterações a nível da cor da pele, eczemas (manchas vermelhas que dão comichão) e lipodermatoescleroses (endurecimento da pele por aumento de tecido rígido e diminuição do tecido normal). Se a distensão da parede das veias for demasiada, parte do líquido pode sair das veias e passar para os tecidos circundantes, ocorrendo edema (inchaço) e dor ligeira (pressão do fluido sobre os nervos locais). A chamada de mediadores inflamatórios contribui também para o aparecimento de comichão.

Ao longo do tempo, podem formar-se coágulos e inflamação das paredes das veias (flebite). Isto ocorre principalmente ao nível das veias profundas das pernas, podendo ocorrer "entupimento" das mesmas - Tromboses Venosas Profundas.  Se o coágulo formado se destacar da parede e migrar para outros tecidos, pode levar a embolias, de entre as quais é de destacar a Embolia pulmonar, devido à elevada mortalidade associada.

Outra consequência deste mau funcionamento é o "estalar da pele", devido à pressão causada pelo líquido acumulado, com ocorrência de uma úlcera de perna (ferida de difícil cicatrização), propícia a infecções e à formação de coágulos.

As doenças venosas aumentam com a idade e atingem principalmente o sexo feminino, estando associadas a alterações hormonais (por exemplo: gravidez e menopausa e toma de contraceptivos orais). Têm uma componente hereditária (varizes essenciais), mas também uma forte influência dos hábitos de vida (má alimentação, sedentarismo, tabagismo, alcoolismo) sendo também consequência de doenças pré-existentes, como hipertensão arterial, diabetes, colesterol e triglicéridos elevados, obesidade, anomalias da coagulação, obstipação crónica, etc. Os problemas venosos podem também estar relacionados com complicações pós-parto, operação ou doença infecciosa. O uso de vestuário apertado (calças apertadas, cintas ou ligas, meias com elástico forte e botas apertadas), bem como de uso de sapatos rasos ou com um salto superior a 5 centímetros e a prática de desportos como o ténis, voleibol, futebol, ginástica aeróbica e equitação também contribuem para o desenvolvimento destas doenças. Constituem situações de evolução crónica e, como tal, necessitam ser tratadas atempadamente.

O principal objectivo do tratamento destas doenças é a redução do edema. A utilização da técnica de contenção elástica é das primeiras medidas. As meias de descanso são feitas de um elástico especial em forma de espiral, que protege adequadamente cada região da perna. Quando a pessoa anda, há compressão das veias, iniciando-se na barriga da perna, depois na coxa e, progressivamente, o sangue é levado ao coração.

Os medicamentos venotrópicos também são utilizados desde as fases iniciais. Estes visam aumentar a tonicidade da veia (promovem a contracção da sua parede, diminuem a sua permeabilidade e conferem-lhe elasticidade), melhoram as características da circulação venosa (diminuem a viscosidade do sangue e aceleram o esvaziamento venoso), reduzem a produção de mediadores inflamatórios e o aparecimento de edema, aumentam a reabsorção do líquido intersticial e a drenagem linfática e reduzem as alterações de pele associadas. A maioria dos medicamentos são flavonóides ou substâncias aparentadas. Ex.: rutina, diosmina, hesperidina, cumarina, escina, derivados do ergot, etc.

Associada à terapêutica compressiva e medicamentosa, pode ser necessário recorrer à secagem das veias superficiais que apresentem derrames e pequenas varizes, sendo estas posteriormente absorvidas pelo organismo (escleroterapia). Em fase avançada, pode ser necessário cirurgia para remoção das veias afectadas, em ambulatório, por meio de lasers, ou em internamento, se necessário anestesia geral.

A estas medidas terapêuticas é necessário associar mudanças de hábitos de vida e de alimentação, praticar actividade física adequada, corrigir factores de risco e condições desencadeantes e tratar doenças associadas.

Algumas dicas para evitar as doenças venosas:

•    Evite exposição solar em demasia, saunas, depilação a quente e banhos de imersão prolongados, pois o calor provoca vasodilatação. Opte por colocar as pernas à sombra nas primeiras exposições ao sol, expor-se por curtos períodos de tempo e o mais perto possível do mar. Utilize um factor de protecção de índice elevado e passeie frequentemente à beira mar. Tome banho com água morna e termine com jactos de água fria nas pernas. Depois do banho, aplique um gel venotrópico adequado;
•    Não use vestuário apertado nem saltos rasos ou altos;
•    Combata a obesidade, fazendo uma alimentação regrada e pobre em gorduras e pratique exercício físico (andar a pé, de bicicleta ou nadar);
•    Tome cerca de 2L de água por dia para diminuir a viscosidade do sangue;
•    Evite permanecer muito tempo de pé ou sentado sem se mexer, assim como cruzar as pernas. Em viagens de mais de 4 horas, procure andar um pouco;
•    Repouse com as pernas ligeiramente elevadas;
•    Evite o tabaco, pois prejudica a fluidez do sangue, e tenha uma vida activa;
•    Se os sintomas se prolongarem no tempo, procure a ajuda de um especialista.

*Colaboradora da Farmácia do Caniço desde 2009.

 


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