JUNHO 2010
“MENOPAUSA NãO IMPLICA PERDA DE QUALIDADE DE VIDA”
A menopausa representa o final da vida reprodutiva da mulher, mas não tem de significar uma diminuição da qualidade de vida, desde que sejam observados alguns cuidados fundamentais, defende em entrevista o Dr. José Sotero Gomes, especialista em ginecologia.

Como se caracteriza a menopausa?
A menopausa representa o fim da vida reprodutiva da mulher. Considera-se que a mulher entra na menopausa quando decorre um ano sem menstruação, ou seja, quando se verifica que a menstruação parou de forma permanente. A menopausa chega, regra geral, entre os 48 e os 52 anos, havendo naturalmente alguma variação de caso para caso.

Quais os principais problemas que decorrem da menopausa?
Os afrontamentos são o problema mais comum. Estes afectam grande parte das mulheres nesta fase da vida e caracterizam-se por uma sensação de calor que se estende da cintura ao rosto e por suores profusos, especialmente à noite. De resto, os afrontamentos são o único sintoma para o qual, neste momento, está indicada a terapêutica de substituição hormonal. Esta faz-se durante cinco anos a todas as mulheres. Após este período, é feita uma avaliação caso a caso.

Quais são os riscos da terapêutica de substituição hormonal?
Infelizmente, generalizou-se uma ideia errada, de que a terapêutica de substituição hormonal era perigosa, a ponto de termos mulheres que abandonavam o tratamento, ou até, que se recusavam a iniciá-lo, contrariamente às indicações do seu médico. E isto porquê? Devido a um estudo que foi feito, há coisa de cinco anos, que estabelecia uma relação entre o uso desta terapia e o aumento do risco de cancro da mama. No entanto, é preciso ter em conta que a população que foi analisada no estudo tinha uma média de idades de 65 anos, ou seja, nem sequer estamos a falar da população menopáusica. Não tenho dúvidas que a terapia de substituição hormonal continua a ser o melhor tratamento e não oferece perigo até aos cinco anos de uso. Agora, acho que houve uma certa irresponsabilidade na maneira como foi feita a divulgação do referido estudo, nomeadamente por parte de alguma comunicação social e de alguns médicos mal informados.

Para além dos afrontamentos, quais os outros sintomas mais relevantes?
Os outros sintomas podem ser tratados separadamente, já que para cada um existe uma terapêutica apropriada. O risco de osteoporose aumenta muito nas mulheres após a menopausa, uma vez que os ovários deixam de produzir estrogénio, sendo que esta hormona tem um papel fundamental porque, entre outras coisas, permite a fixação do cálcio nos ossos. Felizmente, existem medicamentos indicados para suprir esta ausência porque a osteoporose, se não for tratada, pode ter consequências muito desagradáveis, com fracturas que demoram muito tempo a curar. Também é normal haver uma menor lubrificação da mucosa vaginal, o que pode ser compensado com o uso de geles específicos para o efeito. As doenças cardiovasculares são outra situação de risco. Até à menopausa, as mulheres têm um risco muito inferior aos homens de sofrer de problemas cardiovasculares, mas depois há uma aproximação significativa, embora este risco continue a ser menor que nos homens. Portanto, há um conjunto de cuidados de saúde que importa ter a partir desta altura para prevenir estes problemas.

Quais as principais medidas preventivas que podem ser adoptadas?
É normal que, depois da menopausa, haja tendência para engordar, especialmente na zona da cintura, devido às alterações hormonais que ocorrem nesta fase da vida. As mulheres devem entender que necessitam alterar os seus hábitos de vida se não quiserem engordar. Mas esta alteração dos hábitos de vida não pressupõe que devam ser adoptados cuidados especiais para além daqueles que normalmente já são recomendados para ter uma vida saudável, nomeadamente fazer uma alimentação cuidada e fazer exercício. Ao nível da actividade física, o melhor exercício é caminhar: a natação é um exercício excelente para as articulações, mas ao nível cardiovascular o que traz mais benefícios é andar, com a vantagem de que não são precisas instalações específicas para o efeito. No que respeita à alimentação, os cuidados a ter são aqueles prescritos normalmente: fazer uma dieta equilibrada, evitando as gorduras, especialmente as gorduras polisaturadas.

Acha que as pessoas têm informação suficiente sobre o que devem fazer?
Hoje em dia, as pessoas estão, regra geral, bem informadas. Não só graças aos esforços feitos ao nível das autoridades de saúde, mas também porque buscam informação pelos seus próprios meios, através da Internet, por exemplo. Portanto, nota-se que existe uma maior consciencialização por parte das mulheres para a chegada da menopausa, que requer alguns ajustamentos, mas não significa necessariamente que tenham de perder qualidade de vida se tomarem as precauções necessárias e quanto mais cedo começarem a alterar os seus hábitos de vida, melhor. Vemos que a nossa sociedade está a mudar muito e isto traz algumas coisas más, mas há outras que são boas. Por exemplo, hoje em dia as pessoas estão muito mais sensibilizadas para cuidar da sua “linha”. Nunca houve tantos ginásios à disposição das pessoas e vemos muita gente a caminhar nos finais de tarde um pouco por todo o lado, o que, há alguns anos atrás, seria impensável. Talvez isto seja feito por outros motivos, nomeadamente por razões estéticas, mas a verdade é que traz benefícios ao nível da saúde.

Relativamente à menopausa precoce, quais os factores que a desencadeiam?
Calcula-se que cerca de 1 por cento das mulheres têm menopausa precoce. Neste caso, a menopausa poderá surgir muito antes do que aquilo que se verifica normalmente e nalguns casos sem aviso prévio, o que pode provocar transtornos bastante grandes. Hoje em dia, vemos que muitas pessoas preferem ter filhos mais tarde do que era costume, geralmente porque querem dar prioridade à carreira ou por questões relacionadas com o estilo de vida. Isto é perfeitamente legítimo, mas pode dar azo a situações em que, quando as pessoas por fim querem ter filhos, já não podem, o que é potencialmente traumático. A menopausa precoce tem a ver com factores genéticos. Ao contrário do que algumas pessoas possam pensar, não tem a ver com situações relacionadas com o estilo de vida, pelo que não pode ser evitada: este é um ponto que é importante desmistificar. As mulheres nascem com um determinado número de folículos, que depois vão diminuindo ao longo da vida. A menopausa chega quando deixam de existir folículos. Se por algum motivo, uma mulher nasce com um menor número de folículos, então também será normal que a menopausa surja mais cedo.

Quais os tratamentos disponíveis para a menopausa precoce?
O tratamento é exactamente igual, só que, nestes casos, a terapêutica de substituição hormonal faz-se durante mais tempo, porque se não for assim, as mulheres terão um risco muito mais elevado de sofrer de osteoporose, com todas as consequências nefastas que isso acarreta.

Existem sinais de alarme a que as mulheres possam estar atentas?
Em alguns casos, não existem sinais prévios e a amenorreia simplesmente surge sem aviso. Mas noutras situações podem haver alguns sinais de alerta, como por exemplo a existência de um maior espaço entre cada menstruação: em vez de ocorrer a cada 28 dias, poderá decorrer mais tempo. É preciso chamar a atenção que no caso das desportistas de alta competição que são muito magras, a menstruação poderá ser mais irregular ou até sofrer interrupções por períodos relativamente longos, mas isto não deve ser confundido com a menopausa precoce. Se estas atletas passarem a fazer uma alimentação e um estilo de vida ditos “normais”, se engordarem um pouco e não fizerem tanto esforço físico, a menstruação, regra geral, voltará a normalizar-se e poderão engravidar sem qualquer problema.


 


seara.com
 
2009 - Farm´cia Caniço
Verified by visa
Saphety
Paypal