MAIO 2010
A FISIOTERAPIA NA REABILITAçãO APóS AVC
Dra. Inês Dias – Fisioterapeuta
 reabilitesse@sapo.pt

Um Acidente Vascular Cerebral (AVC) deixa sempre sequelas. Na maioria dos casos, têm grandes e graves repercussões na vida dos indivíduos, quer a nível físico, devido às incapacidades que decorrem do mesmo, quer a nível familiar, sócio-económico e profissional. A pessoa deixa, muitas vezes, de ser capaz de realizar as simples tarefas diárias, assim como de desempenhar as suas actividades profissionais e de lazer.

A manifestação clínica mais frequente do AVC é a hemiparésia, ou seja, uma paralisia do hemicorpo contralateral ao hemisfério da lesão cerebral. Esta poderá estar associada a alterações de sensibilidade do hemicorpo paralisado, à diminuição do equilíbrio, a alterações da linguagem, entre outras.

 O processo de reabilitação após a ocorrência de um AVC requer, muitas vezes, a intervenção de uma equipa multidisciplinar, constituída por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e da fala, nutricionistas e psicólogos. Contudo, a fisioterapia desempenha um papel fundamental na reaprendizagem do movimento normal, através de estímulos adequados e persistentes, de forma a evitar o desuso, inibir padrões de movimento indesejáveis, promover a estimulação sensorial, prevenir complicações músculo-esqueléticas bem como no acompanhamento/aconselhamento do doente e seus familiares.

 A fisioterapia deverá ser iniciada o mais cedo possível, ainda durante o internamento. A intervenção do fisioterapeuta deverá ser direccionada essencialmente para as complicações respiratórias, caso existam, para a realização de posicionamentos adequados na cama e posição de sentado, de forma a diminuir os encurtamentos musculares e movimentos compensatórios. Antes da alta hospitalar, o fisioterapeuta deverá ajudar a seleccionar o auxiliar de marcha adequado às limitações funcionais apresentadas pelo doente, e iniciará o treino de marcha.

Quando em contacto com os familiares ou cuidadores, o fisioterapeuta está disponível para o aconselhamento e ensino sempre que solicitado por estes, principalmente no que se refere ao levante, transferências, mobilização na cama do doente e adaptações a realizar em casa.

Após a alta hospitalar, o doente deverá ser encaminhado para a fisioterapia. O fisioterapeuta efectuará uma reavaliação mais completa e adequada à condição clinica do doente e às suas necessidades funcionais, para seleccionar o plano de intervenção mais adequado. Ou seja, o fisioterapeuta irá tentar perceber o que é que o utente consegue fazer, como o faz, que estratégias utiliza e porquê.

Várias são as técnicas e estratégias que se podem utilizar para reeducar o movimento e restabelecer a função motora. Salientam-se as técnicas de facilitação neuromuscular, a estimulação sensorial, exercícios de consciencialização/noção corporal, treino de equilíbrio, treino de marcha, mobilização articular, exercícios em contexto funcional e a hidroterapia acompanhada pelo fisioterapeuta.

Em todo o processo de reabilitação, é fundamental a participação activa do doente, ou seja, este deverá perceber que o sucesso da sua recuperação depende principalmente de si, da sua determinação e motivação. Todos os exercícios devem ser realizados pelo próprio, sendo as mãos e a expressão verbal do fisioterapeuta apenas uma orientação. Os movimentos passivos, mais concretamente os movimentos realizados sem ajuda do doente, não conduzem à aprendizagem nem à reeducação do movimento. É importante voltar a aprender, mas só se aprende fazendo!

O utente deverá ser incentivado desde cedo a colaborar na sua higiene, a se vestir/despir, a andar, ou seja, a ser autónomo. Certamente não conseguirá desempenhar a tarefa com sucesso total, levará mais tempo que o normal, mas é fundamental que o faça. Por outro lado, dada a grande necessidade de repetição dos movimentos para que haja aprendizagem e melhoria da função motora, é fundamental que o doente faça, em casa, os exercícios indicados pelo fisioterapeuta. Três ou quatro horas semanais de tratamento de fisioterapia não são suficientes para essa aprendizagem. Quanto mais fizer, melhores resultados serão obtidos!

 Os familiares/cuidadores são peças de extrema importância na recuperação do doente, porque passam muito tempo junto dele, devendo recorrer sempre ao apoio/incentivo verbal para o motivar e não mostrar ansiedade ou preocupação sempre que este não for bem sucedido. A família deverá, sempre que possível, acompanhar as sessões de tratamento de fisioterapia para poder aprender e saber ajudar o doente em casa, na realização dos exercícios ou tarefas que este necessite desempenhar.


 


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