Dra. Sofia Ferreira – Farmacêutica* sofia.ferreira@farmaciadocanico.pt Radiação solar é a designação dada à energia radiante emitida pelo Sol, em particular aquela que é transmitida sob a forma de radiação electromagnética. Esta radiação divide-se em luz visível, radiação infravermelha e radiação ultra-violeta (RUV). A radiação ultra-violeta é, tal como já referimos, parte do espectro electromagnético emitido pelo Sol. Esta divide-se em três bandas, com diferentes comprimentos de onda: a RUV A (que vai dos 320 aos 400nm); RUV B (290 aos 320nm) e RUV C (dos 100 aos 290nm). Apesar da RUV C ser completamente absorvida na passagem pelas camadas gasosas que protegem a Terra, como é o caso da camada do ozono, ficando aí retida na totalidade, a grande maioria da RUV A e quase 10 por cento da RUV B atingem a superfície terrestre. E ainda bem que assim é, pois, apesar de em excesso a RUV ser prejudicial à saúde, em pequenas quantidades é necessária e benéfica para a nossa saúde, pois tem um papel essencial na produção de Vitamina D no nosso organismo. Esta promove a absorção de cálcio, fortalecendo a musculatura e estrutura óssea, mas não é necessário estar muito tempo ao Sol, para dele retirar o máximo benefício. No entanto, quando em excesso, na procura, por exemplo, do bronzeado ideal, e sem as precauções devidas, a radiação ultra-violeta está associada a queimaduras solares, aparecimento de manchas, envelhecimento cutâneo precoce, problemas ao nível do olho (cataratas, por exemplo) e, em casos mais extremos e mais tardiamente, a diferentes tipos de cancro de pele. Cerda de 50 a 90 por cento dos cancros de pele são devidos à radiação ultra-violeta e importa referir, que o cancro de pele é o tipo de cancro mais frequente na população caucasiana. Com o aumento do tamanho do buraco na camada de ozono, a atmosfera tem vindo progressivamente a perder a capacidade de filtrar a radiação ultra-violeta e cada vez mais esta atinge a superfície terrestre em maior percentagem. Este aumento está muito relacionado com o aumento do número de cancros de pele nos últimos anos. Contudo, o principal factor continua a ser o excesso de exposição solar e história de queimadura solar. A RUV A mantém uma intensidade constante ao longo do ano, atingindo a pele praticamente da mesma forma, quer seja Verão ou Inverno, e penetra profundamente nas camadas da pele, sendo responsável pela excitação de substâncias fotossensibilizantes (originando alergias solares), pelo fotoenvelhecimento e também desenvolvimento de cancro. Já a RUV B aumenta muito de intensidade nos meses de Verão, especialmente entre as 10h e as 16h e atinge apenas as camadas mais superficiais da pele, sendo a principal responsável pelo eritema solar/queimadura solar. São os raios UVB que são absorvidos pelo DNA (material genético) e consequentemente levam às alterações celulares que, por conseguinte, desencadeiam o processo carcinogénico na pele. Há também a evidência de que a RUV está associada à redução da eficácia do nosso sistema imunitário, pela alteração da actividade e distribuição das células responsáveis pelo desencadear da resposta imunitária. Este estado de imunossupressão causado pela radiação ultra-violeta está associado a um aumento de risco de infecção viral, bacteriana, parasitária ou fúngica, e um exemplo muito comum é a reactivação do vírus Herpes Simplex I (herpes labial). A infância e adolescência são as faixas etárias mais vulneráveis aos efeitos nocivos da radiação ultra-violeta. O mecanismo não é claramente conhecido, mas excessos de RUV nestas faixas etárias estão associados a uma maior probabilidade de desenvolver cancro de pele a médio/ longo prazo. A população caucasiana, pelo baixo índice de pigmentação, está também mais vulnerável aos efeitos nocivos da RUV. O tipo de pele da pessoa é algo também muito importante: pessoas com pele mais clara estão menos protegidas da acção nociva da radiação ultra-violeta, do que as pessoas com a pele mais pigmentada (pele mais morena). De acordo com a reacção da pele ao Sol sem protecção, temos a sua classificação em 6 classes (I-VI):
Podemos concluir daqui que, caucasianos, crianças e indivíduos pertencentes aos grupos I e II são sem dúvida, considerados grupos de risco. É importante referir que a radiação ultra-violeta induz dois tipos de bronzeado: um bronzeado imediato, que surge logo após a exposição solar, mas que dura apenas algumas horas, provocado pela acção principalmente da RUV A, mas também pela radiação visível (devido à foto-oxidação da melanina, a substância que dá cor à pele); e um bronzeado tardio, que surge 48 a 72 horas após a exposição ao Sol e que resulta da estimulação dos melanócitos (células que se encontram na camada mais profunda da epiderme, a camada mais superficial da pele), pela radiação ultra-violeta, sendo que é produzida mais melanina e esta sobe lentamente até à superfície. No fundo, este é um dos mecanismos de protecção da pele contra a radiação ultra-violeta. Quanto mais clara é a pele, menos melanina possui, logo está menos protegida. * Colaboradora da Farmácia do Caniço desde 2006 |