OUTUBRO 2009
A IMPORTâNCIA DA AVALIAçãO DA CONDIçãO FíSICA

Roberto Gouveia*

Qualquer tipo de prática de exercício físico obriga a uma dupla avaliação: avaliação clínica e avaliação da condição física. Qualquer uma delas deve ter lugar antes do início de um programa de actividade física e ao longo do mesmo, com o objectivo de determinar e registar os progressos obtidos, caso estes tenham surgido. A única forma de compreendermos se o programa de actividade física está a ter os resultados pretendidos é, de forma periódica, avaliar o indivíduo a quem foi proposto o mesmo plano de exercícios.

A avaliação clínica, de uma forma sucinta, pretende adequar a prescrição de exercício ao contexto clínico individual, ou seja, quais as actividades físicas mais aconselháveis e quais as contra-indicadas. Deverão ser também determinados os hábitos medicamentosos, ou outros, que possam interferir no desempenho físico, que dificultem o controlo do plano de actividade física, ou que lhe aumentem os riscos em termos individuais de saúde. Para além de cobrir os itens clássicos, deverão ser vistos aspectos geralmente omissos nas consultas tradicionais, nomeadamente:

O passado desportivo: nível atingido, lesões sofridas, entre outros. Pode interessar caracterizar as cargas de treino a que se sujeitou e há quanto tempo elas diminuíram. É importante focar que as pessoas que nunca praticaram actividade física estão mais predispostas a abandoná-la, do que aquelas que já eram adeptas da sua prática.

As motivações: se existe preocupação em ter uma vida saudável, a actividade física insere-se nela. Quando o espírito lúdico e social que muitas vezes observamos no ginásio impera, há muito mais probabilidades de o indivíduo se manter fiel a uma prática de actividade física regular pois ao mesmo tempo que convive com os amigos e demais colegas de treino, também faz exercício.

Actividades preferidas: Sempre que entendamos que se adequam ao objectivo da pessoa, e de preferência que seja uma actividade física que esta goste de fazer. Por exemplo: recomendar a sala de treino ou as aulas de grupo para fazer trabalho de resistência muscular. É preciso ter sensibilidade para tentar perceber qual delas trará uma maior adesão da pessoa ao exercício.

Disponibilidade para o exercício: um dos factores que mais condiciona a prescrição ou o nosso aconselhamento de exercício. Por vezes, poderemos ter de nos afastar daquilo que acharíamos a prescrição de exercício ideal, mas inconciliável com a vida do indivíduo, tendo de optar por outra menos académica, mas viável. No fundo, é a ideia que o programa se deve adaptar ao indivíduo, e não este ao programa.

No que respeita à avaliação da condição física, é fundamental ponderar a forma como as informações daí obtidas se relacionam com o tipo de desempenho motor e com a saúde. Analisaremos a composição corporal e a capacidade aeróbia sub-máxima.

Quando se fala em composição corporal, podemos abordá-la de forma bicompartimental, Massa Gorda (MG) e Massa Isenta de Gordura (MIG). Essa análise poderá ser feita através da antropometria, ou seja, medição de pregas subcutâneas e cálculo de massa gorda a partir dessas mesmas pregas, ou então a partir da bioimpedância, que se baseia na natureza de condução de uma corrente eléctrica aplicada ao organismo, para a obtenção de valores de MG de um indivíduo.

Numa apreciação clássica, o contributo relativo da MG e da MIG na composição corporal do organismo poderá caracterizar genericamente o estado nutricional, indicar a presença de alguns factores de risco para as doenças cardiovasculares e constitui-se também como um indicador indirecto dos níveis de actividade física habitual e de alguns traços de aptidão física. Para além do excesso de MG estar associado com alguns factores de risco como a lipoproteinémia, hipertensão e resistência à insulina, está documentado que também se constitui como um factor de risco aterogénico independente, tendente a aumentar a morbilidade e mortalidade.

Independentemente do contexto, idade, sexo ou raça, é cada vez mais importante avaliar a composição corporal periodicamente já que, em muitas circunstâncias, razões estéticas e desempenhos atléticos não são compatíveis com a saúde, importando para o efeito evitar desvios relativamente a uma composição corporal saudável.

Quanto à capacidade aeróbia sub-máxima, esta pode ser avaliada através de um teste simples na passadeira, tal como o teste da milha. Este teste foi escolhido por ser acessível à maior parte da população. Dar-nos-á uma noção de qual a resistência cardio-respiratória do indivíduo no momento. Desta maneira, teremos mais facilidade na implementação de um programa de estimulação cardio-respiratória e dos seus correctos níveis de intensidade. A intensidade da estimulação é o principal factor determinante da potência energética e do tipo de substrato energético utilizado, muito úteis quando queremos atingir objectivos como diminuição da MG ou aumento da resistência cardio-respiratória.

Com base no que acima foi descrito, a avaliação antes do início de uma prática de actividade física regular é fundamental para atingir os seguintes objectivos:

- Esclarecer e aconselhar sobre questões relacionadas com a actividade física e bem-estar;
- Avaliar e registar os resultados dos diversos testes;
- Encaminhar para actividades físicas mais adequadas consoante o objectivo pretendido;
- Adequar a prescrição do exercício ao contexto do indivíduo;
- Apresentar um programa de treino verdadeiramente individualizado;
- Actualização dos programas de treino.

* Licenciado em Educação Física e Desporto – Ramo Saúde e Prescrição do Exercício e director técnico do ginásio Platinium Health & Fitness Club.


 


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