OUTUBRO 2009
TOSSE: ORIGEM E TRATAMENTO

Dra. Sofia Silva*

A tosse é um mecanismo de defesa das vias respiratórias que tem como função expulsar matéria estranha ou irritativa. Para estabelecer qual o melhor tratamento, é importante tentar chegar à causa que está por detrás da tosse.

Quanto à duração podemos classificar este fenómeno em:

- Tosse Aguda, se dura há menos de 3 semanas, podendo dever-se a infecções respiratórias virais ou bacterianas, presença de corpos estranhos nas vias respiratórias, alergias ou inalações de tóxicos.

- Tosse Crónica, se dura há mais de 3 semanas – podendo dever-se a complicações pulmonares de doenças naso-sinusais, refluxo gastroesofágico, doença pulmonar obstrutiva crónica, neoplasias, fibrose pulmonar e à toma de alguns medicamentos (por exemplo.: captopril, enalapril).

Quanto à produção de expectoração, podemos ter dois tipos de tosse:

- Tosse seca, irritativa, incontrolável, hiperactiva e sem expectoração.
Pode surgir em caso de traqueíte, bronquite, alergias, neoplasias e inalação de gases tóxicos. Muitas destas condições patológicas evoluirão para quadros de tosse com expectoração.

- Tosse produtiva, acompanhada de expectoração.
A expectoração pode ser mucosa (numa fase inicial das infecções respiratórias, asma, alergia, ou inalação de tóxicos); espumosa e rosa (no caso de edema pulmonar agudo de causa cardíaca); purulenta (evolução habitual das infecções respiratórias); acastanhada e fétida (predomínio de bactérias anaeróbias, pneumonia); ou hemoptóica, com presença de sangue (tuberculose, cancro, embolia pulmonar).

Uma anamnese cuidada, procurando obter o máximo de dados relevantes acerca da história de vida do doente, pode determinar a escolha acertada do tratamento a seguir. Será importante saber, por exemplo, a duração e predominância da sintomatologia, cheiro e cor da expectoração se presente, se há febre associada, dores no tórax, dispneia, etc.
Por vezes torna-se necessário um exame físico ao doente e até mesmo exames auxiliares de diagnóstico.

As medidas não farmacológicas que podemos adoptar vão depender da causa da tosse:
- Caso tenha uma origem infecciosa, é importante a prevenção do contágio através de medidas simples como a lavagem frequente das mãos e tapar a boca com um lenço de papel no caso de tossir e de seguida deitá-lo fora.
- Medidas de evicção, tais como afastamento de factores desencadeantes da tosse (ex.: fumos, tóxicos, alergenos); simplificação do mobiliário e adereços do quarto de dormir e zonas mais frequentadas da casa (importante para evitar a acumulação de alergenos); arejamento e limpeza frequente das divisões da casa.
- Aconselhamento antitabágico no caso de fumadores.
- A hidratação é importante tanto numa situação de tosse com expectoração, em que actua através da diminuição do espessamento das secreções facilitando a sua libertação, como numa situação de tosse seca, em que actua acalmando as vias respiratórias.

A hidratação poderá ser feita através de três meios igualmente importantes: ingestão de água (aproximadamente 1,5 L/dia); hidratação do ar ambiental (evitar a utilização abusiva do aquecedor e do ar condicionado, principalmente em ambientes fechados pois estes secam muito o ar; uma dica será colocar um recipiente com água ao lado do calorífero para permitir uma saturação de humidade no ar aceitável); inalação de vapores (aerossolterapia).

Tratamento

Saber se estamos perante uma tosse seca ou produtiva é fundamental para a escolha entre um medicamento antitússico ou expectorante.

- Os Antitússicos reduzem ou inibem a tosse. Apenas se utilizam em caso de: tosse não produtiva, de curta evolução e em doentes sem patologia crónica de base; tosse não produtiva, que interfira com o sono; tosse que provoque e agrave irritação brônquica, conduzindo a crises sucessivas; tosse que represente risco para o doente. Como exemplos temos: medicamentos que contêm codeína (medicamentos sujeitos a receita médica), medicamentos que contêm dextrometorfano (medicamentos não sujeitos a receita médica e com melhor perfil de segurança que os que contêm codeína, no entanto, dado o seu mecanismo de acção, estão contra-indicados em doentes a tomar simultaneamente antidepressivos inibidores da monoaminoxidase como é o caso de meclobemide, selegilina e tranilcipromina), medicamentos que contêm difenidramina (associada também a uma acção anti-histaminica, o que é vantajoso quando a causa da tosse é alergia, mas encontra-se contra-indicado em casos de doentes com glaucoma, hiperplasia benigna prostática e hipertiroidismo).  

- Os Expectorantes estimulam os mecanismos de eliminação da expectoração.
Como exemplos temos carbocisteína, acetilcisteína, bromexina e ambroxol que, devido ao seu mecanismo de acção, podem ser agressivos para a mucosa gástrica, devendo ser utilizados com precaução em doentes com úlceras gastroduodenais.

 - Os Emolientes formam uma película protectora sobre o revestimento irritado. São úteis para a tosse causada por uma irritação da laringe.

Seja qual for a escolha do medicamento, nos doentes diabéticos há uma preocupação acrescida a ter em conta: no caso de um xarope, este não deve conter açúcar simples como glicose, galactose, fructose, manose, arabinose, sacarose, maltose e lactose. Já edulcorantes como acessulfame K, aspartame, ciclamato e sacarina são permitidos.

Numa situação passível de ser resolvida por indicação do seu farmacêutico através de um medicamento não sujeito a receita médica, deve ter-se em conta que caso os sintomas persistam mais de cinco dias após a toma do medicamento indicado, deve consultar o seu médico.

* Farmacêutica e colaboradora da Farmácia do Caniço desde 2009

Bibliografia:

http://www.infarmed.pt/infomed/pesquisa.php
http://www.anf.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=855&Itemid=37
http://www.anf.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=481&Itemid=92
http://www.anf.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=467&Itemid=37


 


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