Dra. Eleonora Morais* A afta (ou estomatite aftosa), encontra-se entre as lesões inflamatórias mais comummente encontradas na mucosa oral. De facto, estima-se que 66% da população mundial seja afectada por episódios, mais ou menos frequentes, de aftas. Em algumas pessoas, chega mesmo a ser uma condição quase contínua. Com um pico de incidência na puberdade (altura em que, por norma, ocorre o primeiro episódio) e na idade adulta jovem, a estomatite aftosa tende a ser menos frequente e até desaparecer com o avançar da idade. Apresenta uma incidência maior nos indivíduos do sexo feminino. Características: Os episódios de estomatite aftosa caracterizam-se pelo aparecimento de úlceras que correspondem a áreas de erosão em que ocorreu o rompimento do tecido epitelial e consequente exposição do tecido conjuntivo e respectivas terminações nervosas. As lesões fazem-se acompanhar de uma reacção inflamatória de intensidade ligeira a moderada associada a dor e restringem-se, por norma, à mucosa oral não queratinizada. São consideradas feridas limpas e não são contagiosas. Numa fase inicial, a afta apresenta-se sob a forma de uma auréola vermelha onde se desenvolve a úlcera que, num estadio mais avançado, assume a sua morfologia característica: centro branco ou amarelado rodeado por um halo vermelho. Podem aparecer isoladamente ou em grupos. De acordo com o seu tamanho e profundidade podemos ter as aftas menores - geralmente não têm mais do que 1cm de diâmetro, não são muito dolorosas e curam-se rapidamente em 3 a 14 dias sem deixar cicatriz, e as aftas maiores que têm mais do que 1cm de diâmetro, são mais profundas e dolorosas do que as anteriores e levam entre 3 a 6 semanas a desaparecer podendo deixar cicatriz. Causas: Ainda que as características clínicas da estomatite aftosa estejam bem definidas, a sua etiologia e patogénese precisas permanecem pouco claras. Trata-se de uma condição multifactorial, sendo que a provável destruição do epitélio pelo sistema imune é um factor comum na patogenese da doença. Depois, existem factores de risco associados ao hospedeiro e ao seu ambiente, entre os quais se destacam: - Factores genéticos – alguns doentes evidenciam uma história familiar de estomatite aftosa e existe uma correlação bastante elevada nos gémeos verdadeiros; - Deficiências em determinados elementos – ferro, ácido fólico,vitaminas B6 e B12; - Doença pré-existente – doença de Crohn, doença celíaca, lúpus eritematoso sistémico, doença de Behçet, imunodeficiências primárias e secundárias como a infecção pelo VIH, colite ulcerosa; - Trauma da mucosa oral; - Alergia ou sensibilidade a determinados alimentos, nomeadamente alimentos ácidos, salgados, picantes, álcool, citrinos, bebidas com gás, doces, chocolate, nozes, tomates etc; -Alguns medicamentos, como os anti-inflamatórios não esteroídes (ex. ibuprofeno, nimesulida, diclofenac… associados a uma utilização abusiva) e os beta-bloqueadores como o atenolol; - Stress; - Dentífricos com laurilsulfato e sódio; - Alterações hormonais. Tratamento: O tratamento das aftas é não específico e visa, essencialmente, o alívio dos sintomas (dor e ardor), manutenção da função da mucosa através da supressão da reacção inflamatória, a diminuição do tempo de cura assim como a sua profilaxia. Por norma, as aftas vulgares, não complicadas e não associadas a uma doença base, respondem favoravelmente aos tratamentos tópicos, que podem incluir: - Anti-inflamatórios; - Anestésicos - apenas promovem o alívio da dor; - Antissépticos – Por exemplo, a clorohexidina, triclosan, peróxido de hidrogénio diluído, além de manterem a cavidade oral mais limpa, ajudam a reduzir a inflamação e aceleram a cura; - Adjuvantes da cicatrização, presentes em diversas formulações; - Sucralfato - ao aderir à mucosa forma uma barreira que protege a lesão dos alimentos e bebidas; O tratamento oral com recurso a uma série de agentes que incluem corticosteroides, imunomoduladores entre outros, justifica-se apenas em casos severos, que requerem a observação obrigatória por parte do médico. Quando existe uma doença associada, é necessário o seu tratamento ou controlo. Em caso de carência de ferro, ácido fólico ou vitaminas B6 e B12, o suplemento apropriado pode ajudar. Prevenção: Algumas medidas simples ajudam na prevenção do aparecimento de aftas: - Evitar tudo o que possa causar trauma, ainda que pequeno, na mucosa oral, como por exemplo escovas dos dentes duras; - Evitar dentífricos que contenham laurilsulfato e sódio – em caso de propensão para o aparecimento de aftas; - Reparar qualquer superfície irregular dos dentes; - Evitar os alimentos suspeitos; manter um diário da alimentação pode ajudar a estabelecer uma relação de causa-efeito; - Em caso de carência de ferro, ácido fólico ou vitaminas B6 e B12, tomar os suplementos adequados; - Devido às alterações hormonais experimentadas, a fase pré-menstrual é, em alguns casos, propícia ao aparecimento de aftas, a toma de contraceptivos orais pode ser útil, estando sempre dependente de uma avaliação médica prévia; Bibliografia: Current Concepts in the Treatment of Recurrent Aphthous Stomatitis, A. Altenburg, MD; C.C. Zouboulis, MD, 2008 Aphthous Stomatitis, Jeffrey M Casiglia, DMD, DMSs; Ginat W Mirowski, MD, DMD; Christy L Nebesio, MD, 2009 Sites Consultados: * Farmacêutica e colaboradora da Farmácia do Caniço |