SETEMBRO 2009
DRA. FILOMENA TEIXEIRA: “O TRABALHO DE EQUIPA é FUNDAMENTAL NO COMBATE à GRIPE A”

A Dra. Filomena Castro Teixeira defende, em entrevista à Newsletter da Farmácia do Caniço, que deve existir um esforço conjunto entre os diversos agentes na área da saúde e a população no combate à Gripe A. Com o aproximar do regresso às aulas, a pediatra sublinha que pais e professores devem reforçar junto das crianças a importância de adoptar as medidas preventivas adequadas, sendo também fundamental manter a calma nesta situação.

Prevê-se para os próximos meses um aumento do número de casos de Gripe A. O que é que os pais podem fazer para evitar o aumento das situações de risco, agora que as crianças estão prestes a voltar para a escola?
Em relação ao vírus H1N1, o mais importante é que os pais não entrem em pânico. Este é um vírus de baixa virulência, mas com grande poder de transmissão – foi devido a este último factor que em Junho de 2009 foi decretada pandemia mundial por parte da Organização Mundial de Saúde. Este vírus transmite-se com grande facilidade. No entanto, o que nós, diversos agentes de saúde, devemos transmitir aos pais, é que devem fazer a sua vida normal e que não entrem em pânico, mas ao mesmo tempo que adoptem os comportamentos adequados de prevenção, nomeadamente ao nível da higiene pessoal e social. A melhor maneira de prevenir a transmissão destes microrganismos passa pela lavagem frequente das mãos com água e sabão e/ou aplicação de gel alcoolizado – está divulgada em vários folhetos a maneira mais correcta de fazer a lavagem das mãos, usando as técnicas próprias. Tem de ser feita sempre a lavagem das mãos, com água e sabão, pelo menos antes da alimentação, ou quando as pessoas tocam em superfícies como corrimões, escadas rolantes ou carrinhos de supermercado, por exemplo. Devem também usar lenços de papel e descartar os mesmos após o uso. E depois, existem recomendações de carácter geral – as pessoas já sabem que, ao sentirem os sintomas da gripe, ao invés de irem a correr para as urgências, devem ficar em casa, ligar para a linha Saúde 24 e seguir as recomendações dadas. Também podem ligar ao seu médico de família ou, no caso específico das crianças, ao seu pediatra. Parece-me importante salientar que tem de haver um esforço conjunto para combater a Gripe A, não só dos diversos profissionais de saúde, tais como médicos, enfermeiros ou farmacêuticos, mas também dos diversos agentes sociais, desde os profissionais que trabalham nas escolas, como professores ou educadores, até às próprias pessoas – no caso das crianças, dos pais.

Considera que a articulação entre as várias áreas e profissionais de saúde está a ser suficiente?
É muito importante, tal como falávamos há pouco, que haja esta cooperação entre as várias áreas: tem de haver uma grande articulação entre todos os agentes, neste momento. Considero que tem havido um diálogo e que têm sido dados passos muito positivos nesse sentido, que esperemos se venham a intensificar ainda mais nos próximos tempos. Ainda em relação às medidas preventivas, gostaria de acrescentar que é importante evitar cumprimentar as outras pessoas com beijos ou até mesmo apertos de mãos. As pessoas devem entender que não existe aqui qualquer desconsideração, mas que é uma medida necessária neste momento. Aliás, se há um aspecto positivo a retirar da situação actual, eu destacaria a consciência de que a higiene das mãos é fundamental. Existem muitas doenças que se transmitem através das bactérias e outros microrganismos que se acumulam nas mãos e seria muito positivo se as pessoas passassem a ter o hábito de as lavar mais frequentemente e da maneira correcta.

Por vezes pode ser mais difícil passar a mensagem às crianças, principalmente quando os pais não estão presentes. Como recomenda que seja feita a pedagogia, agora que o regresso às aulas está iminente?
Os pais são fundamentais na educação dos filhos para a saúde e devem ensinar quais as medidas a tomar e os comportamentos a evitar. Aliás, a educação deve começar sempre em casa. Mas também é preciso não esquecer que as escolas têm um conjunto de profissionais qualificados e preparados para lidar com esta situação. Aliás, as próprias pessoas que trabalham nas escolas também são muitas vezes pais, portanto compreendem a situação, partilham as preocupações dos pais dos alunos e vão tratar de tomar as medidas adequadas. Para além das medidas preventivas recomendadas, os professores e educadores sabem que podem, em alguma situação que se julgue necessária, entrar em contacto com o médico de família ou pediatra dos alunos: há total abertura destes para ajudar, tanto os pais como os professores.

As crianças são um dos grupos de risco no que concerne à Gripe A. Há algumas precauções especiais que os pais devam tomar?
Os sintomas da Gripe A são semelhantes aos da gripe sazonal, embora nalguns casos com características particulares: febre, tosse, dor de garganta, havendo possibilidade de ocorrerem outros sintomas como dores no corpo, arrepios, fadiga, vómitos ou diarreia. Os grupos de maior risco são, de facto, as crianças, os idosos, as pessoas com doenças crónicas e as mulheres grávidas. No caso de uma criança ficar doente, deve seguir as recomendações gerais: devem ficar em casa e evitar aglomerados de pessoas, como por exemplo nos centros comerciais ou nos cinemas, entre outros. Devem utilizar lenços descartáveis e colocá-los imediatamente no lixo após o uso. Ter os cuidados de higiene que já mencionámos, especialmente no que se refere à lavagem das mãos e evitar o contacto com outras pessoas. O período de transmissão do vírus pode ir até sete dias, pelo que este ponto é muito importante. Deve evitar-se ir às urgências do Hospital quando se apresentem os sintomas, uma vez que, existindo uma situação de pandemia o risco de contágio de outras pessoas é maior. Penso que, felizmente, tem havido muita informação, o que tem contribuído para a redução de situações deste tipo. Gostaria também de sublinhar que é importante que as pessoas não tomem antivirais sem receita, uma vez que estes nem sempre são indicados, mesmo em alguns casos de Gripe A. As pessoas podem e devem tomar antivirais apenas se os mesmos forem receitados pelo seu médico. Neste aspecto, as farmácias têm tido um papel importante, informando os utentes e não procedendo à dispensa destes medicamentos sem receita médica. Tal como disse anteriormente, é importante manter a calma e não entrar em pânico em face da situação actual.

Existe a noção de que muitos pais acorrem ao Hospital em situações que, à partida, não o justificariam. Este é um comportamento que se está a alterar?
Os pais têm vindo a aprender a não ir às Urgências em situações que tal não é necessário. Ainda há pais que fazem isso, mas é uma situação que tem, de facto, vindo a melhorar, também graças à informação que é passada pelos pediatras, pelos médicos de família e outros agentes na área da saúde. Ir às Urgências quando não é preciso é uma situação que não beneficia ninguém: nem os doentes nem os profissionais de saúde. Os pais devem ter calma, especialmente aqueles mais inexperientes. Por exemplo, em relação à febre, caso se trate de um recém-nascido ou de um lactente até aos três meses - seis meses de idade, a febre deve ser um motivo para contactar o pediatra e se não for possível, justifica-se a ida ao Hospital. A febre é, na grande maioria dos casos, a resposta do organismo a uma situação infecciosa benigna de curta duração. Considera-se febre se a temperatura for superior a 38ºC. É importante baixar a febre para que a criança fique menos queixosa e para evitar as convulsões febris: os pais deverão tentar baixar a temperatura antes de dirigir-se ao médico. Para tentar diminuir a temperatura, poderão adoptar medidas como: não agasalhar a criança, mantendo-a fresca, com roupas leves - o tremor de frio ou arrepio é sinal de subida de temperatura; dar à criança um banho de imersão em água morna, reforçar a ingestão de líquidos, administrar medicação, nomeadamente Paracetamol oral ou rectal de 8 em 8 horas, ou se necessário de 6 em 6 horas, ou então Ibuprofeno, que deve ser dado apenas se a febre não for controlada apenas com Paracetamol. Se a criança ficar prostrada mesmo quando a febre baixa; se aparecerem manchas na pele; se tiver falta de ar; se vomitar repetidamente – deve recorrer ao serviço de urgência. Se a febre não ceder ao fim de três dias, a criança deve voltar a ser observada pelo médico assistente.

Como avalia o grau de preparação do Sistema de Saúde para lidar com a Gripe A?
Parece-me que está bem preparado. Tem havido um grande esforço por parte das autoridades de saúde no sentido de proporcionar bastante informação à população e isso está a ter reflexos positivos. Também temos a preparação de planos de contingência, bastante específicos em muitos casos, não só nos Hospitais e Centros de Saúde como também nas escolas, por exemplo.

Existem suficientes pediatras na Região Autónoma da Madeira?
Acho que o quadro de pediatras existentes na Região é bom, sendo que o mesmo é suficiente para satisfazer as necessidades da população pediátrica. Isso não quer dizer que não pudessem haver mais, mas neste momento existe um número suficiente. O Hospital Central do Funchal tem bons meios ao nível do Serviço de Pediatria. Aliás, este tem sido alvo de uma intensa reformulação ao longo dos últimos tempos, no sentido de o dotar de melhores condições, com destaque para a criação da unidade de internamento de curta duração. Temos também, por exemplo, uma Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais e Pediátricos. Os equipamentos ao dispor dos pediatras são bons. Neste momento possuímos a nível laboratorial as condições necessárias para fazer um conjunto muito alargado de testes na Região, no qual se inclui o diagnóstico da Gripe A.


 


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