Dra. Sara Duarte Farmacêutica Farmácia do Caniço sara.duarte@farmaciadocanico.pt A Contracepção de Emergência abrange um conjunto de métodos contraceptivos, usados pontualmente, para evitar uma possível gravidez após uma relação sexual na qual não foram previamente utilizados métodos contraceptivos, ou em situações em que houve falha detectada nesses métodos prévios. Dito de outro modo, após uma relação sexual que ocorreu de forma não-protegida. O método mais conhecido e mais utilizado é a pílula contraceptiva de emergência, também conhecida por “Pílula do Dia Seguinte”. É importante ter alguns conhecimentos sobre este método para salvaguardarmos a sua correcta utilização. Nos tempos actuais a “Pilula do Dia Seguinte” é um medicamento de fácil acesso. Pode ser adquirida: nos centros de saúde; nas consultas de planeamento familiar, de ginecologia e obstetrícia, dos hospitais; nos centros de atendimento de jovens com protocolo de articulação com o Serviço Nacional de Saúde; e nas farmácias. Em nenhum dos casos é necessária qualquer prescrição médica. Contudo, é muito importante que haja sempre uma conversa com o profissional de saúde que a disponibiliza, para que possa ser fornecida toda a informação necessária. Um princípio que importa cumprir é que deve ser sempre a mulher a adquirir a pilula contraceptiva de emergência, para que todas as suas dúvidas possam ser esclarecidas em primeira mão. A pílula contraceptiva de emergência ou “pílula do dia seguinte” consiste numa toma única de 1,5mg Levonorgestrel ou de 30 mg Acetato de Ulipristal. No caso do Levonorgestrel, o medicamento deve ser tomado no prazo de até 72 horas após a relação sexual não-protegida. No caso do Acetato de Ulipristal, a toma pode ir até 120 horas após a relação sexual não-protegida. Em ambos os medicamentos, a sua taxa de eficácia vai diminuindo significativamente com o passar do tempo. Por isso é importante salientar que, para a obtenção de eficácia máxima, a toma da pílula de emergência deve ser efetuada o mais precocemente possível após a relação sexual não-protegida. E se ocorrerem vómitos ou diarreias nas três horas seguintes à toma, esta deve ser repetida. Convém ter presente que a potencial gravidez é mais provável se a relação sexual não-protegida tiver ocorrido no período fértil da mulher, mas a possibilidade de acontecer em qualquer fase do ciclo menstrual também existe, porque o momento da ovulação pode variar de ciclo para ciclo e de mulher para mulher. A pilula contraceptiva de emergência actua de modo distinto consoante a altura do ciclo menstrual em que a mulher se encontre quando a toma. Se a ovulação ainda não ocorreu, o medicamento actua no sentido de impedir a ovulação, que é a saída do óvulo do ovário da mulher. Se a ovulação já ocorreu, o medicamento actua para impedir a fecundação, tornando o ambiente uterino hostil para os espermatozoides, que, assim, são impedidos de encontrarem e fecundarem o óvulo; ou pode impossibilitar que um óvulo fecundado, já um ovo, se implante na parede do útero – o que se chama nidificação –, acontecimento que a ciência define como o início da gravidez. Importa compreender que se o medicamento for tomado já depois de ocorrida a implantação de um óvulo fecundado na parede do útero, ou seja, se a toma ocorrer quando a mulher já está grávida, a pilula do dia seguinte não tem qualquer efeito sobre a gravidez, dado não se tratar de um meio abortivo. No caso da mulher já estar gravida, sem saber, antes da relação sexual não protegida, permanecerá grávida e não se conhecem efeitos negativos na gestação em curso. A pílula contraceptiva de emergência também não se destina a ser utilizada como substituto da contracepção regular, uma vez que apenas previne a potencial ocorrência de uma gravidez resultante de um contacto sexual isolado. Não previne, portanto, gravidezes que possam resultar de relações sexuais posteriores à toma do medicamento. O retorno da mulher à fertilidade é imediato após a toma da pílula contraceptiva de emergência. Sempre que uma mulher tenha necessidade de tomar a pílula contraceptiva de emergência, ou a pondere tomar, deve aproveitar esse momento para analisar se precisa iniciar um método contraceptivo regular ou se necessita alterar o que já usa. Uma outra informação que interessa reter diz respeito ao facto deste método contraceptivo de emergência, à semelhança de todos os tipos de contracepção hormonal, não fornecer qualquer protecção contra doenças sexualmente transmissíveis. Em relação aos efeitos secundários deve ser referido que após a toma da pílula contraceptiva de emergência podem ocorrer náuseas e vómitos, fadiga, dores de cabeça, tonturas e tensão mamária, sendo que tais sintomas usualmente desaparecem ao fim das primeiras 24 horas. Em algumas mulheres tem-se verificado a ocorrência de manifestações de “spotting”, que consiste em pequenas perdas de sangue, e alterações no padrão da hemorragia menstrual, embora, na maioria dos casos, o período menstrual ocorra na altura esperada. Durante o processo de aleitamento, a mulher pode tomar a pílula contraceptiva de emergência, embora a sua substancia activa seja excretada pelo leite materno. Para diminuir a exposição do lactente a essa situação, a mãe pode fazer a toma imediatamente depois de uma mamada e suspender o aleitamento por um período de cerca de 36 horas. Durante este período de suspensão sugere-se que se mantenha a estimulação da glândula mamária através da extracção do leite, para que a amamentação possa ser retomada posteriormente. Como já foi referido neste texto, a aquisição da pílula contraceptiva de emergência não exige prescrição médica. Existem, no entanto, algumas circunstâncias que colocam a necessidade de uma consulta médica. No caso da relação sexual não-protegida ter ocorrido há mais de 120 horas, da menstruação ter um atraso superior a 4 semanas, de haver suspeita de gravidez o médico deve ser consultado, já que nenhuma destas situações se resolverá através da pílula contraceptiva de emergência. O médico deve igualmente ser consultado se, durante o mesmo ciclo menstrual, já tiver ocorrido uma outra toma de pílula contraceptiva de emergência. O mesmo se recomenda na presença de doença hepática, de neoplasias, de doenças do foro ginecológico e de doenças de coagulação. Em mulheres com histórico de gravidez ectópica – isto é, com gravidezes anteriores em que houve nidificação do ovo fora do útero – a situação deve também ser referenciada ao médico. Sempre que subsista alguma dúvida sobre o assunto, deve procurar toda a informação julgada necessária junto de um profissional de saúde. |