SETEMBRO 2019
“A CAPACIDADE DE SER EMPáTICO E A RELAçãO DE AJUDA SãO ASPECTOS ESSENCIAIS NO CUIDAR EM ENFERMAGEM”
Enfª. Helda Andrade
Enfermeira Especialista em Reabilitação
heldati@gmail.com

Fármacia Caniço - O que faz em concreto um enfermeiro especialista em reabilitação?
Helda Andrade - O Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Reabilitação atua como agente fulcral na obtenção de ganhos em saúde da população.
Tem fundamentalmente como missão promover ações para a prevenção e tratamento da doença e para a promoção dos processos de readaptação da pessoa ao longo de todo o ciclo vital, não só com o intuito de manter as suas capacidades funcionais como, fundamentalmente, optimizar a qualidade de vida dos utentes, família e comunidade, a sua socialização e a sua dignidade.
A sua intervenção junto aos utentes dependentes e /ou portadores de deficiência e aos seus respetivos familiares e/ou prestadores de cuidados é de extrema importância no competir com os desafios das barreiras físicas e arquitetónicas que ocorrem enraizadas à limitação ou estado de doença, tornando-se deste modo fundamental e necessária para desafiar os limites, diminuindo a diferença e consciencializando a população em geral para este aspeto.
Atuando na saúde e na doença, aguda ou crónica, o Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Reabilitação contribui para maximizar o potencial funcional e de independência física, emocional e social das pessoas, minimizando o impacto das incapacidades instaladas (quer por doença ou acidente) nomeadamente, ao nível das funções neurológica, respiratória, cardíaca, ortopédica e outras deficiências, através da reeducação funcional respiratória, reabilitação funcional motora, treino de atividades de vida diária, ensino sobre a otimização das acessibilidades, utilização e adequação de ajudas técnicas. 
No âmbito dos Cuidados de Saúde Primários, local onde desempenho atualmente funções, o Enfermeiro de Reabilitação deverá optar por uma abordagem pluridisciplinar centrada na família e no ciclo de vida, integrando projetos no âmbito de intervenção comunitária nomeadamente nos cuidados domiciliários, saúde escolar, acessibilidades a nível da comunidade promovendo a socialização, avaliação das necessidades de ajudas técnicas, indispensáveis à promoção da autonomia e ainda na referenciação para a ajuda domiciliária e rede de cuidados de integrados. Nos cuidados domiciliários intervém na avaliação das condições habitacionais e na orientação para as alterações necessárias na estrutura física, promovendo assim a melhoria das acessibilidades. 
Os cuidados de enfermagem de reabilitação na sua abordagem deve considerar o utente um ser único, promovendo a mudança imperativa de comportamentos, de mentalidades e atitudes, de forma a criar dinamismos que permitam vencer os handicaps destes utentes, perpetuando a qualidade de vida.
De certa forma, isto é a prova de que temos perceção de que o outro é alguém que vivencia a necessidade de ser ajudado e de que a experiência de ajudar o outro exige acima de tudo respeito.
Dedicar-me de corpo e alma e colocar-me no lugar do outro estabelecendo a tal relação empática tão badalada nos tempos de hoje, fomentou a afinidade com os utentes, decisiva para o processo de confiança e de sucesso, incentivando-me a continuar neste “longo caminho da Enfermagem de Reabilitação”.
Assim as nossas atitudes terão que ser superiores e convertidas em atos positivos de alerta permanente vedando o aparecimento de sentimentos negativos e favorecendo o aumento da energia positiva.
A capacidade de ser empático e a relação de ajuda são aspectos essenciais no cuidar em enfermagem.
Deste modo, o papel do enfermeiro é aprimorado ao longo do tempo, especialmente impulsionado pelo processo do cuidado em constante mudança, adequado e individualizado a cada utente.

F.C. - Tendo em conta o aumento da esperança de vida e o envelhecimento da população, esta será uma área cada vez mais importante nos cuidados de saúde?
H.A. - Claro que sim, pois quando se fala de envelhecimento, não se pode deixar de salientar os seus impactos, associando-os quase que de imediato ao fator dependência. Mas, não devemos esquecer que as pessoas idosas envelhecem de forma e em ritmo diferente.
O envelhecimento das populações é um fenómeno atual que acarreta consequências a nível social e económico nas sociedades e com repercussões na saúde e bem-estar individual.
É uma parte natural do ciclo de vida, sendo desejável que constitua uma oportunidade de ser vivido de forma saudável e autónoma o máximo de tempo possível. Para alcançar estes objetivos, os profissionais de saúde têm a responsabilidade e adequar uma ação integrada ao nível da mudança de comportamentos e atitudes da população em geral.
Envelhecer com saúde, autonomia e independência, constitui assim, hoje, um desafio à responsabilidade individual e coletiva, com tradução significativa no reconhecimento do valor individual da pessoa e área de intervenção com elevado grau de importância nos cuidados de saúde.
A promoção do respeito, o intercâmbio de experiências, valores, sentimentos e pensamentos entre diferentes gerações deverão ser tidos em conta. 
O envelhecimento ativo constitui sem dúvida alguma um desafio para a sociedade, sistema de saúde e profissionais de saúde, nomeadamente, os enfermeiros.
Assim, podemos inferir que um envelhecimento bem sucedido, com qualidade de vida, depende de uma boa articulação nos cuidados ao utente, no combate ao sedentarismo, a criação de programas que promovam a formação do idoso e a promoção do envelhecimento ativo.

F.C. - Os cuidados de reabilitação possibilitam a muitos doentes a permanência em casa, ao invés de estarem internados. Sente que esta ‘independência’ é importante até em termos psicológicos?
H.A - Sem dúvida alguma, pois a Enfermagem de Reabilitação, como parte integrante do sistema de saúde, tem como missão maximizar os níveis de bem-estar e grau de auto realização dos indivíduos e seus familiares, ajudando-os a desenvolver o seu potencial físico, mental e social, no contexto do meio onde vivem e desenvolvem as suas atividades. 
Neste sentido, afigura-se de primordial importância a preocupação dos enfermeiros em dotar os prestadores de cuidados de um conjunto de conhecimentos, de capacidades e recursos da comunidade que lhes permitam ajudar o seu familiar dependente na promoção do auto cuidado e no desenvolvimento de novas competências visando a melhoria da qualidade dos cuidados prestados.
A visita do Enfermeiro Especialista em Reabilitação no domicílio do utente torna-se praticamente para este último a derradeira hipótese e esperança de sobreviver às limitações físicas e handicaps. 
Quanto aos utentes, podemos caraterizá-los como lutadores, jubilosos e corajosos. A sua naturalidade convida-nos a descobrir a simplicidade das suas habitações.
Uma casa para eles é mais do que uma junção de tijolos, cimento, telhas, portas e janelas. É, acima de tudo, o seu ninho e, como tal, o lugar mais aconchegante e reconfortante do mundo.
É inquestionável a vantagem da permanência da pessoa dependente no domicílio, sempre que estejam asseguradas as condições formais e informais.
Nos cuidados domiciliários, as minhas intervenções como Enfermeira Especialista em Reabilitação são vastas, abrangendo acções de promoção da saúde, dos auto cuidados e prevenção de doença atuando a nível dos utentes, família 
e/ou prestador de cuidados, avaliação das condições de acessibilidade habitacionais (quer a nível interior como exterior), avaliação e identificação de ajudas técnicas a adaptar a cada utente perante as suas necessidades e limitação física.
Deste modo, desenvolver competências e capacidades dos prestadores de cuidados, atribui-se de grande valor.
A cumplicidade, a colaboração e respeito entre utentes, prestadores de cuidados e Enfermeiro de Reabilitação, faz com que a sua motivação e empenho desfrute e permaneça com êxito.
É a prova de que temos perceção de que o outro é alguém que vivencia a necessidade de ser ajudado e de que a experiência de ajudar o outro exige acima de tudo respeito.
Dedicar-me de corpo e alma e colocar-me no lugar do outro estabelecendo a tal relação empática tão badalada nos tempos de hoje, fomentou a afinidade com os utentes, crucial para o processo de confiança e de sucesso, incentivando-me a continuar neste “longo caminho da Enfermagem de Reabilitação”.
O papel do prestador de cuidados revela-se uma vivência marcante, através do sucessivo confronto de dificuldades, associadas à necessidade de retribuir cuidados a quem sempre cuidou de nós.
O enfermeiro de reabilitação terá que estar consciente que deverá ter conhecimento da estrutura e dinâmica familiar e ainda das condições sócio-económicas inerentes ao utente e família.
Não poderá impor de modo algum, que um familiar seja responsável pelo utente apenas por possuir laços diretos familiares. A história de vida de cada um certamente conduzirá o cuidar daquele utente, quer a nível domiciliário quer a nível institucional.

F.C. – Quais os problemas que persistem ao nível da reabilitação? 
H.A. - Na verdade, acho que não dá para “desligar” da realidade de vida dos utentes, pois é a prova de que temos percepção de que o outro é alguém que vivencia a necessidade de ser ajudado. 
A esperança demonstrada e tão ansiada pelos utentes torna-se como um impulso que nos domina e motiva a proporcionar-lhes um futuro melhor. Deste modo, cada dia que passa é uma oportunidade que temos para fazer a diferença. 
As visitas domiciliárias aos utentes permitiram-me constatar que a habitação ideal deveria prever o conforto dos utentes em qualquer fase da vida, adaptada em termos de acessibilidades quer a nível interior e exterior, o que infelizmente nem sempre acontece. 
É incomparável a drástica sensação de quem é portador de limitação da mobilidade sente ao deparar-se com os handicaps do seu dia-a-dia,evidenciando-se a discriminação, a acessibilidade à atividade laboral, à saúde e à educação. 
As redes de apoio são importantes no auxílio do utente de modo a desenvolver estratégias e competências para enfrentar as adversidades.
Envelhecer com saúde, autonomia e independência, são aspetos desejáveis de todos nós.
O apoio da população e da vizinhança dos arredores das suas simples e modestas habitações, e a imprescindível ajuda das instituições da comunidade convertem-se num verdadeiro recurso embora por vezes com soluções limitadas.
Todos os dias deparamo-nos com novos casos em que imperam os obstáculos. 
São frequentes as dificuldades quer do utente e/ou do prestador de cuidados diante do processo de cuidar e compreendem: ausência de conhecimento técnico, alterações emocionais, desgaste físico e dificuldades financeiras
A inexistência de um futuro traduz o sentimento de inutilidade, ligado à incapacidade de superar os obstáculos presentes.
Deparamo-nos similarmente com um outro fator que é o sentimento de pena que as pessoas evidenciam ao lidar com estes utentes. 
São estas posturas que afugentam o direito a serem tidos como pessoas inclusivas na nossa sociedade, acarretando a exclusão.
Específico das crianças portadoras de deficiência é o episódio de muitos pais censurarem a inclusão destas crianças na sala de aulas dos seus filhos, sobrevindo o preconceito da regressão do desenvolvimento e do aproveitamento escolar destes últimos.
É de extrema importância também considerar os aspectos positivos no processo de cuidar do utente, vivenciados pelos prestadores de cuidados, tais como o crescimento e a satisfação pessoal, o sentimento de realização, a promoção da auto estima e o bem estar pela qualidade do cuidado que desempenharam.
O desafio que para nós, enfermeiros de reabilitação, se coloca é o de dar voz a quem sobrevive em condições tão pouco dignas, é o estender simplesmente a mão proporcionando uma certa tranquilidade pelo fenómeno tão díspar na sua experiência de vida.


 


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