AGOSTO 2019
CANDIDíASE
Dra. Sónia Gonçalves
Farmacêutica na Farmácia do Caniço
sonia.goncalves@farmaciadocanico.pt

A pele e as mucosas são habitadas por vários microrganismos que constituem a flora comensal, não patológica para o ser humano. O fungo Cândida, cuja espécie mais prevalente é Candida Albicans, faz parte da flora de 25 a 75% dos indivíduos saudáveis. Em condições oportunas, ele pode causar infeção - a Candidíase.

A Candidíase é favorecida pela:
•desregulação da flora microbiana devida à utilização de antibióticos, antisséticos ou desinfetantes; 
•debilidade do sistema imunitário derivada do uso de corticóides, imunossupressores, quimioterapia e doenças como VIH/SIDA; 
•alteração da integridade do tecido;
•toma de contraceptivos orais, terapia hormonal de substituição, alterações do ciclo menstrual, gravidez e diabetes.

Mas o fungo Cândida também participa no processo infecioso. Ele adapta-se a diferentes ambientes biológicos ou inertes, níveis de pH, oxigénio, temperatura e disponibilidade de nutrientes, aumentando os meios de inoculação pelo hospedeiro e a viabilidade de crescimento em diversos tecidos. Ele possui ainda a capacidade de adesão, invasão e destruição dos tecidos, e de evasão aos mecanismos de defesa do hospedeiro.
A maioria das infeções por Cândida é superficial, afetando a pele e as mucosas. No entanto, as candidíases podem atingir a corrente sanguínea e os órgãos internos.
A candidíase genital é uma das formas mais frequentes de infeção da vagina e do
pénis. Estima-se que aproximadamente 75% das mulheres adultas apresentem pelo
menos um episódio ao longo da sua vida, 40% a 50% sofram de novos surtos e 5%
atinjam o carácter recorrente. Este fungo propaga-se para os órgãos genitais a partir da pele e dos intestinos. Ele não é habitualmente transmitido por via sexual. 

Na mulher, a infeção vaginal manifesta-se por prurido, ardor, dor na relação sexual e pela produção de secreções inodoras, esbranquiçadas, semelhante a queijo fresco, que quando secam adquirem o aspeto farináceo. Com frequência, a vulva e a vagina encontram-se inflamadas, algumas vezes acompanhadas de ardor na micção e sensação de queimadura. As lesões podem estender-se ao períneo, região perianal e inguinal.
No homem, a infeção genital é maioritariamente assintomática, mas pode surgir irritação e sensação dolorosa na glande e no prepúcio, sobretudo depois do coito. Esta área pode apresentar-se avermelhada, com pequenas ulcerações ou vesículas com crosta, estar coberta por uma substância semelhante a queijo fresco, e pode surgir uma pequena secreção.
As formas cutâneas da candidíase manifestam-se pela presença de erupções que causam
prurido, com formação de vesículas com ou sem pus. É comum surgirem nas pregas
cutâneas ou na zona da fralda.
A infeção da orofaringe pela Cândida é muito comum e ocorre com mais frequência em bebés e crianças pequenas, idosos e pessoas com sistema imunitário debilitado. Ela pode ser a causa do surgimento, na mucosa oral, de lesões dolorosas brancas, de contorno avermelhado, denominadas aftas ou “Sapinhos”. Pode levar ao aparecimento de queilite (fissuras nas comissuras labiais), glossites (língua vermelha, dolorida e lisa) e pode ainda originar lesões no esófago que causam dor ao engolir.
A candidíase invasiva ocorre quando o fungo dissemina-se para outras partes do corpo, causando infeção local, múltipla ou generalizada. Podem existir formas de infeção respiratória, urinária, renal, hepática, cardíaca, cerebral, ocular, óssea, articular e sanguínea (candidémia). A Candidíase invasiva ocorre principalmente em doentes cujo sistema imunitário se encontra muito debilitado, ou por intervenções médicas invasivas (como a colocação de cateteres, diálise peritoneal ou cirurgia) ou ainda por abuso de drogas intravenosas. Trata-se de uma das infeções mais comuns adquiridas no hospital. A sua incidência aumentou significativamente nas últimas décadas. Os sintomas dependem do local afetado, podendo surgir febre, sopro cardíaco, aumento do baço, pressão arterial muito baixa (choque) e redução na produção de urina. Se atingir o olho pode causar cegueira. Em situações graves, pode ocorrer paragem do funcionamento de vários órgãos e morte.
Nas candidíases superficiais, o diagnóstico é essencialmente clínico, por recolha de sinais e sintomas e exame físico, sendo possível confirmá-lo, colhendo amostras e examinando-as ao microscópio ou cultivando-as. Nos restantes casos, em função da localização, poderão ser solicitados outros meios complementares de diagnóstico que permitirão uma melhor caracterização da gravidade da infeção.
 
A sintomatologia das infeções superficiais tende a regredir espontaneamente para
níveis subclínicos, dependendo da imunidade do hospedeiro, mas muitas infeções,
principalmente as invasivas, necessitam da utilização de medicamentos antifúngicos. Os antifúngicos podem ser utilizados por via tópica, oral ou injetável, em função do quadro clínico. Alguns tratamentos naturais têm demonstrado capacidade fungicida contra Candida Albicans, destacando-se os extrato de própolis, de sálvia e de calêndula.
 
A prevenção passa pela manutenção de uma boa higiene da área, com produtos de pH adequado; manutenção da pele limpa e seca, especialmente quando são utilizados materiais oclusivos, como pensos e fraldas; evicção de materiais irritantes (roupa interior
de materiais sintéticos) ou que possam causar lesões ou maceração (roupa muito justa, utilização de próteses dentárias desajustadas); manutenção de um adequado tratamento das doenças, como a diabetes ou a infeção pelo VIH/SIDA; reforço do sistema imunitário com vitamina c, zinco, própolis, sálvia e equinácea; uso consciente dos antibióticos; evicção de alimentos ácidos e adoção de uma alimentação e estilo de vida saudáveis.


 


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