Farmácia Caniço

Em algum momento nas nossas vidas, todos nós já tivemos de usar algum medicamento. Qualquer uso de medicamentos, seja para prevenir ou para tratar alguma doença, está sempre a associado a uma posologia que varia em função do paciente, da patologia a tratar e do tipo de medicamento. 

A Posologia indica-nos a forma de utilizar os medicamentos, ou seja, fornece o esquema do número de vezes e da quantidade de medicamento a ser utilizado em cada dia. Um esquema posológico racional baseia-se no pressuposto de que existe uma concentração-alvo que irá produzir o efeito terapêutico desejado. 

Em muitos indivíduos, a necessidade de recorrer a medicamentos é frequente e, muitas vezes, existe uma toma de vários medicamentos em simultâneo e com esquemas posológicos complexos. 

Segundo a Organização Mundial de Saúde, 50% da população residente nos países desenvolvidos não cumpre a prescrição médica de forma integral. Isto significa que de toda a população mundial, a minoria de pessoas residente nas zonas geográficas que lhe permite um acesso mais “facilitado” a medicamentos, metade não utiliza os medicamentos de forma correta.   

Dos 50 % que não cumprem, 6% a 20%, nem aviam as receitas médicas e 30% a 50%, não cumprem o esquema posológico proposto. 

A não adesão à terapêutica prescrita pelo médico e o incumprimento do esquema posológico têm repercussões diretas para o paciente, podendo originar o agravamento do estado de saúde e da sintomatologia da doença, ocasionar erros no diagnóstico e nos tratamentos prescritos ou levar ao seu fracasso, tudo se traduzindo em efeitos negativos na qualidade de vida e no aumento da morbilidade. Por outro lado, há a considerar as repercussões indiretas em termos sociais e económicos, designadamente a necessidade de se recorrer a novas consultas e novas prescrições, à realização de novos procedimentos de diagnóstico ou terapêuticos mais custosos ou mais complexos, ou à utilização dos serviços de urgência com mais frequência. 

Como se percebe, a não adesão à terapêutica é um “problema multifatorial”, que depende das características do medicamento, do próprio utente, do ambiente socioeconómico no qual este se insere e de muitos outros aspetos.

A criação de metodologias, serviços e/ou produtos que disponibilizem o medicamento correto, na quantidade e qualidade certas para o cumprimento de uma prescrição médica podem melhorar em muito a qualidade de vida dos doentes, assim como contribuir para a diminuição dos gastos em saúde e proporcionar inúmeros benefícios a nível da Saúde Pública.

É neste contexto que os Sistemas de Dispensa Personalizada de Medicamentos pretendem intervir. São dispositivos de uma só utilização nos quais o Farmacêutico reacondiciona tal como foi prescrita pelo médico, total ou parcialmente a medicação que o utente tem de tomar.

Os Sistemas de Dispensa Personalizada de Medicamentos consistem num sistema que permite o acondicionamento dos medicamentos em compartimentos individualizados e selados, correspondentes às tomas diárias do doente para um determinado espaço de tempo (frequentemente são para uma semana).

Trata-se de um sistema não reutilizável, pelo que não é necessário nem guardar nem lavar e desinfetar o recipiente. Como é descartável, assim que o paciente retira a medicação de uma toma, correspondente ao conteúdo de um compartimento, este compartimento pode ser rejeitado para o lixo. 

Este é um serviço personalizado que pretende promover o uso correto da medicação, facilitando assim, o dia-a-dia dos utilizadores de medicamentos e dos seus familiares e cuidadores que sentem dificuldades no ato da toma e/ou administração dos medicamentos.

Desta forma, o utente que beneficie deste serviço terá apenas de extrair de um único alvéolo a medicação a tomar num determinado momento do dia. Estes sistemas podem beneficiar em muito a vida do utente, uma vez que terá, por exemplo, toda a sua medicação semanal (,por ex.,) totalmente organizada, o que lhe permitirá não omitir nem duplicar tomas, ao mesmo tempo que pode deixar de se preocupar com a organização das tomas diárias.

Para além de tudo isto, como há a revisão periódica do esquema terapêutico por parte de um profissional de saúde especialista no medicamento (o Farmacêutico), existe um maior acompanhamento do processo de cura ou da manutenção do estado de saúde do paciente, bem como da qualidade de vida em patologias crónicas.

Os Sistemas de Dispensa Personalizada de Medicamentos são uma mais-valia para todos os doentes com um grau de autonomia reduzido ou limitações de variada ordem em relação à toma de medicação. Poderemos estar a falar, por exemplo, de doentes acamados, com limitações em termos de memória (demências), polimedicados, doentes com posologias complexas ou analfabetos/iletrado ou simplesmente para quem querer ter a garantia de fazer a sua medicação correctamente.