JULHO 2016
A SOLIDãO
Dra. Carmo Aragão
Psicóloga Clínica
aragao.carmo@gmail.com

A palavra Solidão vem do latim Solítúdine, que quer dizer: estado de abandono, vida isolada, sem protecção.
Nesta perspectiva lembro-me dos estudos de René Spitz (1887- 1974) sobre crianças hospitalizadas e a sua solidão expressa na ausência da mãe. Estas bebés tinham as necessidades básicas asseguradas (alimentação, mudança da fralda, etc) mas faltava o principal: A presença da mãe, o amor, o colo, o cuidar! 
Este psicólogo foi o primeiro a falar que se pode morrer por falta de amor…
Nos casos em que as mães voltavam os bébés recuperavam peso, ultrapassavam a maior parte das dificuldades apresentadas e enchiam-se de alegria.
René Spitz desenvolveu uma série de pesquisas com crianças que passavam os seus primeiros meses de vida em instituições hospitalares ou orfanatos e lá permaneciam, cerca de 6 meses ou mais, privadas da presença da mãe. Chegou à conclusão que os bebés manifestavam perturbações psíquicas tais como a Depressão Anaclítica, Dor Psíquica, rejeição a nível da alimentação, perturbação do sono e até mesmo a manifestação de comportamentos ansiosos e algumas dificuldades físicas tais como perda de peso e uma maior sensibilidade às doenças devido à ausência da mãe.
A relação precoce (mãe/filho) é o grande suporte para a estruturação interna de todos nós, um cuidado que nos deve ensinar autonomia e independência, a capacidade de sermos os autores activos e interventivos no futuro.
A Organização Mundial de Saúde já em 1950 salienta “que os cuidados maternos no decurso da primeira infância desempenham um papel essencial no desenvolvimento harmonioso da saúde mental”.
Não me vou debruçar pela solidão demasiado conhecida de todos nós (hospitais, internatos, lares etc).
A solidão acompanhada é a que doi sem se ver e muitas vezes não é nomeada porque não é identificada como tal.
A solidão é muitas vezes sinónimo de incompreensão, basta olhar para os estigmas mais comuns na nossa sociedade: a doença mental, os ex-presidiários, os LGBT, diversas doenças (HIV, etc), o ser diferente, o racismo, a xenofobia como ainda esta semana noticiavam que alguns Portugueses foram vítimas em Londres. 
As pessoas que se sentem sozinhas têm mais 30% de probabilidade de sofrer de doença cardíaca, de acidente vascular cerebral, de ter um sistema imunitário fragilizado e uma maior probabilidade em deprimir.
Os adolescentes que têm TUDO, mas que lhes falta a compreensão dos processos de transformação do que experienciam…
A liberdade em excesso fá-los sentirem-se sós, sendo interpretada como uma falta/falha na preocupação por parte dos pais, quando comparando-se com os outros que têm mais limites.
O adulto que vive numa relção em que não há diálogo, sente-se incompreendidamente só.
O idoso que mergulha nas suas memórias incompreendido pelos mais novos, sente-se só, como se não pertencesse, ao aqui e agora…mas a um tempo que já não volta…
O excessivo uso das redes sociais, mascara a solidão dos utilizadores que encontram do outro lado do ecrã, vazios iguais/semelhantes,…falta o olhar, o toque, o cheiro, a interacção vai-se perdendo nas teclas do computador… 
A pessoa quando é muito rígida consigo mesma e com os outros, está presa na malha de um Super-ego que não deixa SER, vive no politicamente correcto, sem se lembrar da última vez que sorriu.
A capacidade de estar só e bem consigo mesmo é um privilégio dos que têm um mundo interior rico, tirando prazer dos momentos a sós.
Os que têm medo ou não gostam de estar sós, os que não se encontram procuram estar sempre acompanhados, ou ocupados, com medo de ficarem a sós com os pensamentos que doem, são estes que mais me procuram profissionalmente, trazem buracos afectivos e feridas abertas do passado que necessitam ser curados. É nesta perspectiva que vejo o meu trabalho, ajudar o Outro a ficar bem consigo mesmo, e consequentemente a viver a sua solidão de modo construtivo.
Muitos estão sós vivendo acompanhados. Para combater a solidão é necessário aprender a preencher os vazios internos!




 


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