JULHO 2016
RESISTêNCIA A ANTIBIóTICOS - UMA AMEAçA TãO GRANDE COMO O TERRORISMO
Dra. Ana Surreira
Farmacêutica na Farmácia do Caniço
ana.surreira@farmaciadocanico.pt

A descoberta e introdução dos agentes antimicrobianos na medicina foi, sem dúvida, um dos maiores triunfos do século 20, revolucionando o tratamento de infeções bacterianas e, consequentemente, salvando inúmeras vidas. No entanto, o uso desenfreado destes fármacos levou à emergência de populações de bactérias resistentes, tornando-se uma das principais preocupações da saúde global da atualidade. Estes fármacos são, frequentemente, utilizados em animais para prevenir e tratar infeções e, também como promotores do crescimento, sendo este último uso bastante debatido pelas autoridades de controlo alimentar. 
Quando um individuo é infetado por uma bactéria resistente, não só o seu tratamento se torna complicado, como o microrganismo pode ser disperso até outras pessoas. A ineficácia dos antibióticos resulta num maior tempo de convalescença, condições mais complicadas, mais consultas médicas, uso de medicamentos mais potentes e dispendiosos e, mais mortalidade associada às infeções. Este problema é ainda mais grave em pacientes imunodeficientes, tais como em caso de diabetes, asma, artrite reumatoide, transplante de órgãos e quimioterapia, aos quais a eficácia dos antibióticos é imprescindível à sua sobrevivência.
Adaptado de Barton MD (2000). Antibiotic use in animal feed and its impact on human healt. Nutr Res Re; 13: 279-99 
A resistência antimicrobiana é um processo natural de evolução das bactérias que pode ser retardado, mas não cessado. Portanto, será sempre necessário a pesquisa de novos antibióticos, bem como a elaboração de novos testes de diagnóstico para acompanhar o desenvolvimento da resistência. Por outro lado, evitando as infeções, reduz-se a quantidade de medicamentos a utilizar e, também a probabilidade de desenvolver resistência durante a terapia. Além disso, a prevenção de infeções, passa também por evitar a propagação de bactérias resistentes. Isto pode ser obtido através da imunização, preparação de alimentos seguros, lavagem das mãos e uso de antibióticos somente quando necessário.
Um grande auxílio é a pesquisa de dados sobre as infeções resistentes aos antibióticos, causas e possíveis fatores de risco. Com essa informação, os especialistas podem desenvolver estratégias específicas para prevenir doenças, assim como, impedir a disseminação das bactérias resistentes. Por fim, e talvez a ação mais importante será mudar a forma de utilização destes fármacos, pois muitas vezes o seu uso em humanos, especialmente por automedicação é desnecessário e inadequado. Logo, o seu uso deve ser restrito ao tratamento de doenças e a escolha e administração deve ser adequada à infeção em questão e decidida pelo médico. É também necessário seguir o esquema indicado, ou seja, obedecer a uma dosagem e duração do tratamento.
As espécies bacterianas irão, inevitavelmente, encontrar formas de resistir aos antibióticos desenvolvidos, razão pela qual é necessário tomar medidas agressivas para impedir o desenvolvimento futuro de resistências e evitar que a resistência já existente se dissemine.
Torna-se cada vez mais importante incitar ao uso correto dos antibióticos, pois temos à nossa disposição um arsenal terapêutico limitado e com o desenvolvimento de resistências, este tornar-se-á cada vez mais restrito. Passa por cada um de nós e pela nossa conduta evitar esta séria ameaça à saúde das populações.




 


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