JUNHO 2009
RASTREIO DETECTA 89 PESSOAS COM RISCO CARDIOVASCULAR ELEVADO

Rastreio detecta 89 pessoas com risco cardiovascular elevado

Dra. Sandra Silva*

O II Rastreio de Risco Cardiovascular realizado pela Farmácia do Caniço nos dias 16 e 17 de Maio permitiu detectar 89 pessoas com risco elevado de desenvolver uma doença cardiovascular fatal nos próximos 10 anos.

Nesta iniciativa foram efectuados os testes de glicemia, colesterol total, tensão arterial e índice de massa corporal. Foram também tidas em conta para o cálculo do risco global variáveis como a idade, sexo, o facto de ser ou não fumador, antecedentes familiares, actividade física e outras doenças passíveis de influenciar o risco cardiovascular total. O modelo de cálculo escolhido foi o método SCORE (Systematic Coronary Risk Evaluation) publicado pela Organização Mundial de Saúde e aprovado pela Sociedade Europeia de Cardiologia.

Variáveis utilizadas para cálculo do risco global

Participaram neste rastreio um total de 575 pessoas, das quais 367 eram mulheres (63,83%) e 208 eram homens (36,17%). As idades variaram entre os 12 e os 82 anos. Entre os participantes a faixa etária dominante foi a de entre 50 e 60 anos (24,41%), seguida de 60 e 70 anos (22,24) e 40 e 50 anos (19,35%).

O risco de desenvolver uma doença cardiovascular é sempre mais elevado, em média, nos homens relativamente às mulheres devido às diferenças orgânicas em termos de metabolismo e stress oxidativo que existem entre os diferentes géneros. Para ambos os sexos, o risco torna-se mais dependente do factor idade a partir dos 55 anos. Até essa idade, esse factor não é o mais relevante no cálculo do risco total.

Entre os participantes no Rastreio, 47,74% declararam não praticar qualquer tipo de exercício físico de forma regular. A falta de actividade física é um dos factores que agravam o risco cardiovascular. A prática de exercício regular pode, por sua vez, contribuir para o controlo dos valores do colesterol total e é recomendada para pessoas com diabetes, uma vez que aumenta a sensibilidade do organismo à insulina produzida pelo próprio corpo.

Directamente associado ao sedentarismo e à falta de exercício físico está o Índice de Massa Corporal (IMC). Este cálculo permite determinar a diferença entre o peso actual do indivíduo e o peso ideal relativamente à sua altura. O quadro seguinte apresenta de forma simplificada os limites das diferentes categorias de IMC publicados pela Organização Mundial de Saúde:

 

Situação

IMC

Abaixo do peso ideal

18,5

No Peso ideal

18,5 e 25

Acima do peso ideal

25 e 30

Obesidade

Acima de 30*

Quadro 1: Estratificação do IMC segundo a OMS
* Valores de IMC superiores a 30 são subdivididos em diferentes graus de Obesidade.

No Rastreio realizado foram identificadas 234 pessoas com Índice de Massa Corporal entre 25 e 30 (41,34% “Acima do peso ideal”) e 176 com IMC acima de 30 (31,10% “Obesidade”). Dos 89 indivíduos identificados como tendo um risco cardiovascular elevado, 43 estavam na categoria “Acima do peso Ideal” (48,31%) e 33 apresentavam valores de peso corporal muito superiores à altura respectiva o que os coloca no grau de “Obesidade” (37,08%).

No total da amostra, 80 pessoas declararam ser fumadoras, o equivalente a 13.91% dos participantes. Entre os fumadores, verificou-se uma distribuição equitativa entre homens e mulheres (40 fumadores para cada sexo). No total dos participantes, observou-se que a percentagem de homens fumadores situou-se nos 19,23%, enquanto nas mulheres esse valor ficou-se pelos 10,90%.

Em termos de antecedentes familiares de Doença Cardiovascular Prematura, foi perguntado aos participantes se alguém na sua família já havia sofrido um acidente cardiocerebrovascular com idades inferiores a 55 anos no caso dos homens e a 65 anos no caso das mulheres. Este é um factor de risco não modificável e que pode contribuir significativamente para um risco cardiovascular superior. Das 575 pessoas que participaram no Rastreio, 123 responderam que existia esse historial na sua família (21,39%).


Resultados dos testes bioquímicos

No caso do teste de glicemia, foi considerado se a pessoa estava em jejum ou não para avaliar os seus valores de glicemia dentro dos limites estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A diabetes mellitus é uma desordem metabólica caracterizada por constantes valores elevados de açúcar no sangue resultantes de deficiências na secreção e/ou acção da insulina.
Os valores normais de açúcar no sangue tendem a aumentar ligeiramente e de modo progressivo depois dos 50 anos de idade, sobretudo em pessoas sedentárias e com hábitos alimentares desequilibrados.
Globalmente, verificou-se que 512 dos inquiridos, o correspondente a 91%, apresentava valores de glicose considerados normais (Quadro 2). Das 51 pessoas que tinham valores de glicemia acima dos limites indicados, 27 encontravam-se medicadas (4,80%) o que aponta para a possibilidade de fraca adesão à terapêutica ou ineficácia farmacológica da medicação utilizada.

 

Glicemia capilar plasmática

 Valores Ideais

Jejum / pré-prandial  

< 110 mg/dL

Pós-prandial

 < 140 mg/dL

Quadro 2: Valores de referência para o controlo terapêutico dos valores de glicemia (International Diabetes Federation)

A medição do Colesterol Total foi realizada a 560 indivíduos, 69,82% dos quais registaram valores considerados normais de colesterol total, ou seja, abaixo de 190mg/dL. A dislipidemia consiste em valores anormalmente elevados de lípidos no sangue. Os triglicerídeos e o colesterol são dois dos principais lípidos no sangue e a dislipidemia é um dos factores modificáveis que mais contribui para o RCV. Assim sendo, os 121 participantes que apresentaram valores de colesterol total superiores a 190mg/dL e que não se encontravam a fazer qualquer medicação para dislipidemia (22,00%) foram aconselhados a adoptar uma alimentação mais saudável e livre de gorduras, praticar exercício físico frequente, diminuir o peso corporal se necessário, diminuir o consumo de álcool e deixar de fumar se esse fosse o caso.

Foram utilizados aparelhos calibrados e devidamente certificados para determinar com maior precisão os valores máximos (Pressão Arterial Sistólica) e mínimos (Pressão Arterial Diastólica) da pressão arterial. A Hipertensão Arterial (HTA) define-se clinicamente como a elevação persistente da pressão arterial acima dos limites considerados como normais.

 

Categorias 

Valores Recomendados

População em geral

 < 140/90 mmHg

Diabéticos

 < 130/80 mmHg

Quadro 3: Valores de Pressão Arterial recomendados pela Direcção Geral de Saúde (Direcção-Geral da Saúde. Circular Normativa Nº 2 de 31/03/03: Diagnóstico, Tratamento e Controlo da Hipertensão Arterial)

Os valores encontrados nas determinações realizadas durante o Rastreio demonstraram 402 participantes (70,16%) com registos de pressão arterial dentro dos limites recomendados pela Direcção Geral da Saúde. Acima dos valores de referência encontraram-se 95 pessoas já submetidas a terapêutica farmacológica (16,58%) e 76 pessoas que não estavam a fazer qualquer medicação para os níveis elevados de pressão arterial registados (13,26%).
A Hipertensão Arterial é um dos principais factores de risco e pode determinar o aumento da probabilidade de ocorrência de um evento cardiovascular mesmo na ausência de outros factores de risco importantes. A prevenção da Hipertensão Arterial consiste fundamentalmente na prática regular de exercício físico, restrição do uso de sal na alimentação, eliminação do tabaco e do álcool assim como uma alimentação equilibrada em termos de ingestão de gorduras.


Gráfico 1: Variação de Valores de Pressão Arterial Sistólica para o total de 573 medições realizadas no II Rastreio de Risco Cardiovascular no Caniço (16,17 Maio de 2009)

O principal objectivo da realização de testes bioquímicos e do cálculo do Risco Cardiovascular é obter, a longo prazo a redução da morbilidade e mortalidade da população. Este objectivo é alcançado através da instituição de medidas terapêuticas, farmacológicas e não farmacológicas adequadas a cada situação e a cada indivíduo.

O II Rastreio Cardiovascular realizado no Caniço pela Farmácia do Caniço veio de novo alertar a população não só para a necessidade de adoptar hábitos de vida saudáveis mas também para a importância da monitorização contínua dos diferentes factores de risco cardiovascular uma vez que, a simples alteração de um valor de qualquer um destes factores pode resultar num aumento significativo da probabilidade de um evento cardiocerebrovascular fatal.

A farmácia tem um papel importante na informação e aconselhamento dos doentes com os quais contacta todos os dias uma vez que pode vigiar os seus valores bioquímicos (Colesterol, Glicemia, Pressão Arterial, etc) e pode oferecer aos doentes diagnosticados e com terapêutica (farmacológica ou não farmacológica) um serviço de vigilância periódica, no sentido da detecção precoce de situações de descontrolo que possam necessitar de intervenção adequada.

As recomendações gerais para a prevenção de Acidentes Cardiovasculares são:

  • Adoptar uma alimentação e estilo de vida saudável;
  • Deixar de fumar;
  • Manter um peso normal (IMC entre 18 e 25 kg/m2);
  • Praticar exercício físico regular;
  • Medição periódica dos parâmetros que influenciam o Risco Cardiovascular;
  • Consultas médicas de rotina.

Os dados referentes a este Rastreio têm um valor meramente indicativo, que caracteriza simplesmente a amostra de 575 participantes, não devendo os valores ser extrapolados para o resto da população.

No entanto, as normas utilizadas para efectuar este Rastreio são as determinadas pela Organização Mundial de Saúde para os países de baixo risco, nos quais se inclui Portugal.


Bibliografia:

Direcção-Geral da Saúde. Circular Normativa Nº 2 de 31/03/03: Diagnóstico, Tratamento e Controlo da Hipertensão Arterial

Guidelines for the manegement of Arterial Hipertension; European Heart Journal (2007), 28, 1462-1536

Guidelines on diabetes, pre-diabetes, and cardiovascular diseases; European Heart Journal 2008

European Journal of Cardiovascular Prevention and Rehabilitation 2007, vol 14

Sociedade Europeia de Cardiologia. (www.escardio.org)

* A Dra. Sandra Silva é licenciada em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, sendo colaboradora da Farmácia do Caniço desde 2007.

 


 


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