JULHO 2014
O SONO E A TERCEIRA IDADE
Dra. Conceição Pereira
Pneumologista, Pós-graduada em Medicina do Sono
c.pereira@netmadeira.com


Sabe-se que a qualidade do sono decresce com a idade. Porquê?
A qualidade do sono é indispensável a uma boa qualidade de vida. Com o envelhecimento o padrão do sono altera-se e algumas dessas modificações são consideradas naturais: dificuldade em iniciar e manter o sono, sono mais superficial e menos reparador, despertar mais cedo e maior tendência a dormitar durante o dia.
Existem muitas possíveis explicações para as mudanças da necessidade de sono que vão acontecendo ao longo da vida. Com o avançar da idade o nosso ritmo biológico altera-se e sabemos, por exemplo, que os adultos mais velhos produzem e segregam menos melatonina, a hormona produzida pela glândula pineal cuja libertação é influenciada pela luz. Promove o sono e é importante na manutenção da temperatura corporal, fundamental ao seu controlo.
A influência de fatores ambientais (luz, temperatura, ruído) e sociais (higiene do sono) têm também um papel muito importante. 
Muitos dos fármacos frequentemente prescritos aos idosos, ou de automedicação, apresentam interações. Muitas doenças (distúrbios do sono como a insónia e que pode estar relacionada com doenças neurológicas como a doença de Parkinson, a doença de Alzheimer, apneia do sono, movimentos periódicos dos membros), músculo-esqueléticas, cãibras, refluxo gastro esofágico, angina, bronquite, asma, problemas de próstata e incontinência urinária, perturbam o sono. 
Mas os idosos saudáveis mantêm a capacidade de dormir e restaurar a energia funcional. As suas necessidades de sono são um pouco menores do que as dos mais jovens, entre as 7-8 horas e adormecem e acordam mais cedo. O ciclo sono-vigília dependente do claro-escuro, é controlado pelo sistema nervoso central que vai sofrendo o processo de envelhecimento. É normal ter alterações do padrão de sono com a idade, mas sono não reparador e acordar cansado todos os dias, não fazem parte do envelhecimento normal e pode ser uma manifestação precoce, por exemplo, de doença como de Alzheimer.
Dormir mais de 9 horas diárias aumenta o risco de doenças cardiovasculares como revelam investigações recentes.

As doenças degenerativas, como a Alzheimer e Parkinson também afetam o sono?
O aumento da esperança de vida e dos casos de demência contribuem significativamente para os distúrbios do sono nos idosos. Na doença de Alzheimer, ocorre perturbação do ciclo sono-vigília, deambular noturno, insónia e confusão. Estes doentes apresentam alterações degenerativas cerebrais com desregulação do ritmo circadiário, que piora com a evolução da doença, aumentando o tempo que o doente permanece acordado. Faz parte do quadro despertares frequentes e aumento do dormitar diurno.
O sono fragmentado pode indiciar a fase inicial da doença, em pessoas que ainda não têm perda de memória ou outros alterações cognitivas, características da doença avançada.
Na doença de Parkinson há dificuldade em iniciar o sono, sono fragmentado, sonolência diurna excessiva e eventos anormais durante o sono. A origem destas alterações é multifatorial e podem estar relacionadas: com o envelhecimento, com a patologia cerebral da doença em si, com a terapêutica dopaminérgica, serem doenças primárias do sono, ou ocorrerem associadas a outras patologias médicas e sintomas neuropsiquiátricos. 
Os sintomas motores da doença, como tremor, rigidez e bradicinesia, embora menos intensos durante o sono, podem não desaparecer por completo, alterando a sua qualidade. O tremor pode persistir durante o sono não-REM, provocando microdespertares.
As alterações do sono podem dever-se à medicação. O seu efeito é complexo, dependendo da dose e do modo de atuação. Assim os fármacos dopaminérgicos podem melhorar os sintomas motores durante o sono, ou pelo contrário, produzir ou exacerbar um distúrbio do sono, contribuindo para a sua fragmentação e redução do sono REM. Podem ainda provocar sonolência diurna excessiva.

O que pode ser feito para evitar este decréscimo na qualidade do sono?
No sentido de evitar o decréscimo da qualidade do sono é fundamental a prevenção e o diagnóstico o mais precoce possível e iniciar a terapêutica disponível para controlar estas patologias. O diagnóstico e tratamento de outras doenças coexistentes é muito importante.
A chamada higiene do sono é fundamental para minorar as alterações próprias destas doenças.

Qual é a melhor forma para lidar com as insónias?
A insónia que pode ser uma doença ou um sintoma de outras doenças, é a dificuldade em iniciar ou manter o sono. Pode ser classificada em inicial (quando há dificuldade em iniciar o sono), intermediária (dificuldade em manter o sono) e final ou terminal (despertar precoce). Quanto à duração poderá ser de curta duração, transitória ou crónica. A insónia de curta duração resulta de alterações ambientais, stress, ansiedade ou depressão e desaparece muitas vezes espontaneamente quando o indivíduo se adapta às mudanças ou remove os fatores causais; a transitória dura de uma a três semanas; a crónica tem duração superior a três semanas, podendo permanecer pelo resto da vida. É mais frequente em pessoas com doenças psiquiátricas, dependentes de álcool ou outras drogas, portadores de demência ou doenças graves.
A insónia psicofisiológica associa-se aos estados de ansiedade, aos comportamentos inadequados, como expectativas negativas relativamente ao sono, hábitos irregulares de sono, persistência de pensamento em problemas e situações de conflito, ao deitar. A insónia pode atingir 12-40% dos indivíduos com mais de 65 anos de idade e é mais prevalente no género feminino.
A melhor forma de lidar com as insónias é basear-se na história clínica e no exame físico do doente, com vista a tratar a causa.
Das medidas não farmacológicas salientamos a higiene do sono: desenvolver e manter rotinas na hora de dormir, por exemplo preparar-se para dormir com relaxamento de 20-30 minutos (música, meditação, ioga), tomar um banho morno. Fazer um lanche leve: leite morno, hidratos de carbono. Usar a cama apenas para dormir… não par ver televisão, ouvir rádio. Deitar e levantar diariamente no mesmo horário.
Ter um ambiente confortável para dormir, bem ventilado, sem barulho e sem claridade. Por segurança deverá existir alguma iluminação indireta e de baixa intensidade, que permita ao idoso levantar-se durante a noite, sem perigo de quedas ou acidentes.
Usar roupas confortáveis.
Realizar atividades físicas regulares pela manhã ou tarde, no máximo até 4 horas antes de dormir. Aumentar a exposição à luz solar durante o dia e evitar a luz à noite.
Proibir: sestas prolongadas (superior a 20-30 minutos) após as 15 horas. Ir para a cama no início da noite. Antes de deitar: não ingerir alimentos pesados. Não fumar ou ingerir álcool.
Enquanto tentar dormir: não ficar pensando nos problemas. Não relembrar os acontecimentos do dia.
A terapia cognitiva-comportamental é considerada o tratamento de escolha para a insónia primária. Deve envolver mudanças no pensamento do doente, eliminando comportamentos incompatíveis com o sono, bem como limitando o tempo de permanência na cama.
O tratamento farmacológico só deve ser realizado por indicação e supervisão médica.
Muitos idosos apresentam distúrbio do sono como efeito secundário de medicamentos para dormir ou outros, favorecidos pela diminuição do metabolismo e excreção. Em relação aos hipnóticos, muito consumidos nesta faixa etária, saliente-se o efeito depressor do sono REM, tão necessário para o alívio da tensão e ansiedade. O seu uso crónico pode provocar insónia e, consequentemente, sonolência diurna excessiva, perda de equilíbrio, alteração do raciocínio e do desempenho psicomotor.

Finalizando, da especialidade de pneumologia e de todas as doenças associadas, qual a mais comum junto dos madeirenses? Porquê?
Das doenças associadas aos distúrbios do sono, sem dúvida que a patologia respiratória do sono, nomeadamente a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), coexistindo por vezes com a apneia do sono, são frequentes. A DPOC relacionada com a frequência dos hábitos tabágicos e a Apneia do Sono associada sobretudo à obesidade.


DESTAQUE
Comportamentos que melhoram a qualidade do sono

- Rever as medicações que o idoso toma, uma mudança simples de horário ou a retirada de alguns, dispensáveis, pode melhorar muito o padrão do sono.
- Ver se o idoso está desconfortável na cama, se tem dor ou mal estar, medo, insegurança.
- Pode acordar para urinar várias vezes e perde o sono, deixe um urinol perto da sua cama.
- A ociosidade e o sedentarismo, durante o dia, podem piorar o padrão do sono noturno. O exercício físico, a caminhada e ocupação com atividades, podem restaurar o sono perdido.
- Evitar o dormitar e deitar na cama ou no sofá durante o dia.
- Evitar bebidas estimulantes à tarde e à noite: café, chá, refrigerantes e bebidas alcoólicas.
- O jantar deverá ser uma refeição leve. 
- Tristeza e depressão são grandes inimigos do sono. É fundamental o tratamento médico adequado.
- Os familiares devem ter em atenção e evitar bater portas e som das televisões muito alto. Evitar discussões e conflitos frente aos idosos.
- É importante que a família não tenha conversas preocupante à noite. Não devem ter relógio na mesa-de-cabeceira.
- A má qualidade do sono nos idosos pode ter consequências muito graves na saúde física e mental. Pode debilitar o sistema imunitário, podendo favorecer ou aumentar a ocorrência de doenças respiratórias e outras.







 


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