ABRIL 2010
ASMA E RINITES: PREVENçãO é FUNDAMENTAL
A asma e a rinite crónica são doenças “silenciosas”, que por vezes podem não apresentar sintomas durante muito tempo. No entanto, a Dra. Susana Oliveira, especialista em Imunoalergologia, defende em entrevista que o tratamento preventivo é fundamental para controlar as doenças e evitar complicações no futuro.

Quais as alergias com maior incidência junto da população da Região Autónoma da Madeira?
A Região enquadra-se no panorama global do país, sendo que as principais doenças alérgicas são a rinite alérgica e a asma, sendo que esta aparece geralmente associada à primeira – raramente vemos uma asma isolada. Em seguida, aparecem a conjuntivite alérgica, que está associada à rinite alérgica, a dermatite atópica, também chamada eczema atópico, a alergia alimentar e a alergia medicamentosa, sendo que estas parecem estar a revelar algum crescimento.

Quais as razões para essa tendência?
Nós acreditamos que o aumento do número de casos de doenças alérgicas, no geral, está provavelmente relacionado com alterações ao nível do estilo de vida, com alterações no nosso meio ambiente, com a nossa maior permanência nos espaços interiores, que levam a uma exposição a outro tipo de factores. Existem também estudos que defendem que este aumento da prevalência pode estar relacionado com factores como o incremento da toma de antibióticos ou o aumento dos cuidados de desinfecção, em que o excesso não é benéfico para nós. A alergia é, basicamente, uma reacção não previsível a algo que o nosso organismo não deveria achar estranho. No entanto, de vez em quando surge um indivíduo cujo organismo decide que uma determinada substância, como o pólen, por exemplo, não é uma coisa normal, o que desencadeia a reacção alérgica: há uma acção inflamatória e começam todos os sintomas.

Quais são os principais sintomas da asma e da rinite alérgica?
Numa rinite alérgica, encontramos quatro sintomas, que podem variar na sua frequência e intensidade, nomeadamente: a obstrução nasal, ou seja, a sensação de nariz entupido; a comichão no nariz, que às vezes pode estender-se também ao céu-da-boca, aos ouvidos e à garganta; os espirros em série e, por fim, a secreção nasal – esta última passa tipicamente por uma sensação de ter o nariz constantemente molhado e a pingar, mas nos casos em que os narizes estão muito obstruídos, as secreções são mais espessas e acabam por ficar retidas, embora os doentes também sintam a necessidade de fazer higiene nasal. Para além destes sintomas, existe também um sinal que é muito frequente e que ajuda o médico a identificar a doença: uma prega transversal que o doente apresenta no nariz, decorrente de limpar constantemente a ponta do nariz com a mão, com um movimento de baixo para cima. Este sinal passa mais despercebido no Inverno, mas no Verão nota-se mais, porque esta prega fica branca. Em relação à asma, os factores predominantes são a sensação de falta de ar; a tosse, que é seca, persistente, com algum predomínio no período nocturno; a pieira, que é um silvo que se escuta quando a pessoa expira, e por vezes também uma sensação de peso na zona pré-cordial, ou seja, do peito, que não tem nada a ver com o coração, mas que sucede por pressão devido a esforços respiratórios. Na maior parte do tempo, a asma é uma doença “silenciosa” e só nos períodos de agudização é que o doente refere com maior preocupação estes sintomas e uma sensação desagradável de falta de ar.

Existem muitas pessoas que têm asma e rinite alérgica, mas que não tratam estas doenças?
Há um sub-diagnóstico muito acentuado deste tipo de doenças. Em relação à rinite, nós acreditamos que como na maioria dos casos esta doença se apresenta na sua forma ligeira ou moderada, as pessoas têm tendência a acomodar-se, a adaptar o seu estilo de vida e a aceitar a doença como algo que lhes é natural. Há muitas pessoas que só começam a sentir o “peso” da doença na terceira ou quarta década de vida, pois há um factor de agravamento cumulativo que condiciona depois as co-morbilidades, ou seja, as doenças que vão surgindo associadas. Por exemplo, uma rinite não tratada por décadas, pode levar ao aparecimento de uma sinusite crónica. Em relação à asma, existem dois factores que devem ser tomados em conta: por um lado, os doentes têm muitas vezes esta capacidade de adaptar-se à doença, porque os casos graves de asma andam à volta dos 5 por cento. Nos outros casos, uma vez que a asma é uma doença “silenciosa”, que se desperta mediante a exposição a determinados factores, como o exercício físico intenso, muitas pessoas limitam-se a eliminar esses factores da sua vida, o que é uma forma de não procurar um diagnóstico e esquecer a doença. Por outro lado, ainda existe o estigma do asmático, porque há 20 ou 30 anos atrás este era aquele indivíduo que morria devido à sua doença. A asma tem esse passado negro porque não havia, nessa altura, resposta farmacológica, mas nos últimos 10 a 15 anos houve uma evolução fantástica a este nível.
    
Portanto, é preciso fazer um esforço para sensibilizar as pessoas?
É muito importante explicarmos na consulta que as coisas evoluíram: é preciso fazer passar esta informação. Há muitas pessoas que sofreram de asma quando eram crianças, mas na altura os pais tinham a tendência para dizer que era uma “bronquite”, precisamente pelo estigma de que falávamos. Por vezes, a doença fica adormecida na adolescência e quando as pessoas voltam a sentir sintomas, mais tarde na vida, não têm ainda a noção de que as coisas mudaram e de que hoje em dia temos uma capacidade de resposta completamente diferente. Por outro lado, a adolescência é a fase mais difícil para o tratamento da asma, precisamente porque os adolescentes não aceitam ser doentes: acreditam que nada de mal lhes pode acontecer, têm vergonha de dizer a um amigo que tomam um medicamento… portanto, vão tentar por todos os meios esconder a doença. Também aqui é preciso fazer a sensibilização das pessoas, porque a recusa em tratar a asma pode levar a efeitos muito adversos mais tarde na vida.

Esta época do ano costuma ser mais complicada para as pessoas que sofrem de asma ou de rinite crónica?
As pessoas associam geralmente o maior agravamento das queixas nesta época do ano com a chegada da Primavera e consequente aumento do nível de pólenes no ar. O potencial alergénico dos pólenes é maior nas cidades devido ao contacto com a poluição, mas aqui na Região, a proximidade do mar e, consequentemente, dos ventos marítimos, e uma arquitectura que não é tão elevada quando comparada com as grandes cidades europeias faz com que este não seja o factor preponderante em termos das doenças alérgicas, cabendo esse papel aos ácaros do pó doméstico. Se ao longo do ano já temos condições ambientais propícias à propagação dos ácaros, na Primavera estas condições são ideais, com humidades relativas e temperaturas moderadas. Uma vez que, entre a população de doentes, cerca de 70 por cento tem alergia aos ácaros, o aumento da actividade destes tem uma relação directa com a agudização das queixas.

Que medidas podem tomar as pessoas para controlar o problema dos ácaros?
A prevenção da evolução da doença passa por duas vertentes: a primeira é o controlo ambiental, relativamente aos alergenos, e a outra será sempre, nos casos indicados, a adopção de uma política farmacológica preventiva. Na terapêutica ambiental, as medidas devem ser dirigidas a factores aos quais o indivíduo já apresenta sensibilidade. No caso específico dos ácaros, é preciso tentar eliminá-los, embora esse objectivo nunca possa ser plenamente atingido. É recomendado que o doente tenha um quarto de dormir o mais simples possível, sem tapetes felpudos ou carpetes. As superfícies devem ser laváveis e ao limpá-las deverá ser usado não apenas um aspirador, mas também uma esfregona ou um pano húmido. Os doentes deverão ter também o cuidado de aspirar o colchão, pelo menos quando mudam a roupa da cama, lavando essa roupa sempre a temperaturas elevadas, de pelo menos 60º. Usar edredons na cama, em vez de cobertores, dando preferência a edredons sintéticos e não aos de penas. É recomendado não fazer a cama logo de manhã, ao levantar, deixando-a a arejar pelo menos durante algumas horas. Por fim, voltar a fazer o mesmo que os nossos avós: abrir as janelas para deixar entrar o sol e pôr as coisas na rua a arejar, uma vez que está comprovado que o sol é um excelente método anti-ácaro.

O que nos pode dizer em relação à prevenção farmacológica?
Em relação à prevenção farmacológica, ao diagnosticar a doença temos que classificá-la em grau e consoante a sua gravidade irá variar a medicação que está indicada. É muito importante que o doente confie no seu médico e que entenda que precisa fazer prevenção, mesmo quando não apresenta sintomas. Uma asma que não é tratada preventivamente, ao progredir vai fazendo cicatriz no pulmão, levando a que, ao fim de alguns anos, haja limitação da função do órgão. É por isso que doentes com asma ligeira, mas que nunca fizeram tratamento, podem vir depois a apresentar insuficiência respiratória aos 50 ou 60 anos. No caso de uma asma ligeira, sem sintomas frequentes e com muito poucas crises por ano, o doente poderá fazer um inalador preventivo – uma a duas doses por dia. Também é muito importante fazer controlos anuais da função respiratória, um exame que nos permite averiguar o grau de inflamação da doença e se precisamos ou não de “subir um degrau” em termos terapêuticos.

No final de 2009, aumentou a comparticipação dos medicamentos que associam antiasmáticos e bronco-dilatadores. Qual a importância desta medida?
Acredito que este será um factor muito positivo em termos da adesão à terapêutica, porque um dos factores que levava à não adesão era precisamente o preço dos medicamentos. Estamos a falar de valores consideráveis: antes, um doente gastava 35 euros apenas num inalador, sem contar com o resto dos medicamentos que também seriam necessários. Este aumento da comparticipação vai ser reavaliado ao final de um ano, mas nós acreditamos que não vai haver um retrocesso e que esta medida será um factor muito importante para a melhoria dos cuidados de saúde nestes doentes.  




 


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