Mara Teixeira – Fisioterapeuta* “O desenvolvimento é um processo global, único, contínuo e dinâmico, no qual se pode reconhecer uma sequência característica que é comum à maioria das crianças. Deve ser avaliado numa perspectiva transaccional, segundo a qual a criança e o meio que a rodeia interagem reciprocamente. Nesta complexa teia de interacções a criança vai encontrar forças mobilizadoras para crescer e amadurecer de um modo único e característico - o seu”. (Avô, 2000) Olhando atentamente para esta definição, é possível retirar alguns dos princípios básicos do desenvolvimento: • Global, uma vez que envolve todos os aspectos do crescimento e da maturação dos sistemas corporais; • Único, isto é, diferente em cada criança, devido à variação dos ritmos de desenvolvimento (de estrutura para estrutura e de indivíduo para indivíduo), podendo-se mesmo afirmar que, a norma é a variabilidade; • Continuo, já que se trata de um processo que ocorre ao longo de toda a vida, tendo início na vida intra-uterina, onde o nascimento é apenas um marco a partir do qual os factores ambientais se fazem sentir de forma clara, e cessando na morte; • Dinâmico, resultando da interacção entre os requisitos da tarefa, da biologia do indivíduo e das condições do desenvolvimento. Este processo realiza-se no sentido cefalocaudal e evolui de movimentos generalizados e simples do feto, até movimentos voluntários, altamente específicos e complexos de um adulto, que apresentam uma sequência pouco variável (Umphred, 1994). Este conhecimento do desenvolvimento permitiu dividi-lo em fases, etapas ou períodos etários, que são fundamentais para ajudar os pais, famílias, educadores e profissionais de saúde a compreender os latos limites da normalidade do desenvolvimento e as alterações que ocorrem no mesmo. (Shumway-Cook & Woollacott, 2001 e Campbell, 2000). Este processo evolutivo sequencial de avanços e recuos resulta da interacção com múltiplos sistemas, dos quais podemos destacar: • As características biológicas, como a adaptação genética, a maturação, o crescimento físico ou idade, que determinam aptidões específicas e, limitam a performance e tendências de desenvolvimento; • Os factores socioculturais, que orientam, de certo modo, as opções de desenvolvimento individual; • E ainda, a acumulação de experiência e a aprendizagem, que poderá influenciar postiva ou negativamente, a etapa do desenvolvimento posterior. (Cech & Martin, 2002 e Barreiro & Neto, 2007). Compreender o desenvolvimento da criança é fundamental para que possa realizar uma detecção, avaliação e intervenção precoce em caso de alteração. O conhecimento do mesmo é a base para que as famílias e educadores possam ter uma intervenção mais consciente, segura e eficaz, passando de uma atitude de dependência do profissional para uma atitude mais activa. (Shepherd, 2006) O Fisioterapeuta, como profissional de saúde com conhecimentos e competências nas áreas do desenvolvimento, prevenção, diagnóstico e tratamento de condições específicas em crianças (Paediatric Special Interest Group of the New Zeland Society of Physiotherapists, Inc., 2003), poderá ajudar os pais, cuidadores e familiares a entenderem melhor todo este processo de desenvolvimento. Como tal, fica desde já um conselho: é importante que todos os pais estimulem as crianças a participarem nas diferentes actividades, independentemente das suas limitações, de modo a promover a sua participação social. Isto porque, o nível de desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais, depende da qualidade e quantidade das vivências motoras nas primeiras idades. Estimule brincando! A Equilibrium realizou em Novembro as Jornadas de Desenvolvimento da Criança, onde foram abordados temas como desenvolvimento normal da criança, sinais de alerta e factores de risco e, ainda intervenções em caso de atraso /alteração no desenvolvimento. Bibliografia Barreiro, J. & Neto, C. (2007) O Desenvolvimento Motor e Género. Faculdade de Motricidade Humana. http://www.fmh.utl.pt/Cmotricidade/dm/textosjb/texto_3.pdf. Campbell, S. (2000). Physical Therapy For Children: WB Saunders Company. Cech, D. & Martin, S. (2002) Functional Movement Development Across the Life Span. Paediatric Special Interest Group of the New Zeland Society of Physiotherapists, Inc. (2003) http://www.physiotherapy.org.nz/MainMenu Shepherd, R. (1996). Fisioterapia em Pediatria (3ª ed.). Colômbia: Livraria Santos Editora Lda. Shumway-Cook, A. & Woollacott, M. H. (2001) Motor Control Theory and Practical Apllications (2ºed,). Philadelphia: Lppincott Williams & Wilkins. Umprehred, D.A. (1994) Fisioterapia Neurologica (2ºed.). Brazil. Editor a Manole. * Fisioterapeuta da Equilibrium Ajuda |