NOVEMBRO 2009
A ALIMENTAçãO NO IDOSO COM DEMêNCIA

Dra. Liliane Costa - Nutricionista

O envelhecimento é um processo normal que começa na concepção e termina na morte. A deterioração progressiva e generalizada das funções biológicas decorrente da idade, resulta numa diminuição da capacidade de adaptação do organismo aos factores ambientais causadores de stress e, consequentemente, num aumento do risco de doença.

As alterações fisiológicas do envelhecimento que interferem no estado nutricional do idoso incluem a dificuldade na digestão dos alimentos (devido à alteração do sentido do gosto e do olfacto, à diminuição da produção de saliva, e à perda de dentes e próteses dentárias) e a dificuldade na absorção de substâncias nutrientes (devido à diminuição da motilidade intestinal e da produção de substâncias digestivas).

Os efeitos do envelhecimento fazem-se sentir também ao nível do cérebro, sendo comum, em idades muito avançadas, alterações da memória e demência. A doença de Alzheimer é o tipo de demência mais frequente entre a população idosa. A alimentação é um factor importante tanto no aparecimento como na evolução desta patologia.

Nos idosos com Alzheimer as dificuldades na alimentação prendem-se com vários factores: apetite diminuído devido a depressão ou ansiedade; descuido com os horários das refeições; esquecimento; indiferença para com os alimentos; recusa em comer; dificuldade em manusear alimentos e colocá-los na boca. As alterações cognitivas levam muitas vezes estes idosos a perder peso e entrar num quadro de malnutrição severa. Adicionalmente, as dificuldades de mastigação e de deglutição, próprias de idades avançadas, podem provocar sintomas de disfagia (dificuldade em engolir) como engasgos e tosse, uma situação difícil para o idoso e para toda a família.

A alimentação do idoso com demência deve permitir um aporte de calorias suficiente (alimentos com hidratos de carbono e lípidos), usando para o efeito alimentos de elevada densidade nutricional (ricos em vitaminas, minerais e fibra alimentar), e deve também fornecer uma ingestão adequada de proteínas (nutrientes importantes para prevenir úlceras na pele e infecções e promover a cicatrização).

As indicações alimentares para o idoso com doença de Alzheimer incluem alterações do ambiente às refeições, da consistência dos alimentos, das quantidades e da apresentação dos pratos. No entanto, é importante que o prestador de cuidados teste as melhores alternativas de acordo com a situação clínica de cada idoso (presença de outras doenças e estádio da doença), avaliando frequentemente a adesão e a tolerância, de modo a atingir os objectivos nutricionais.

Assim, o ambiente às refeições de um idoso com Alzheimer deve ser calmo e silencioso. Os intervalos entre as refeições devem ser curtos e regulares e o tempo disponível para a refeição deve ser alargado, de modo a não criar ansiedade para o doente. Pode também optar-se por dar as refeições nas alturas de máxima função cognitiva ou em conjunto com o resto da família.

Quanto às características das refeições, é importante variar nos sabores, criando pratos coloridos e apelativos. As porções servidas devem ser pequenas e os alimentos devem ser cortados em pedaços de modo a que, na incapacidade de usar talheres, o idoso possa usar as mãos para comer. Os sabores extremos e fortes estimulam o reflexo da deglutição, pelo que devem ser testados os alimentos frios ou quentes (não mornos), com sabor doce (adicionar açúcar) ou condimentados (temperar com especiarias e ervas aromáticas). Os aromas de baunilha e de canela podem servir também para aromatizar os pratos.

Em caso de disfagia para líquidos, frequente na última fase da vida, é necessário alterar a consistência dos alimentos para uma dieta pastosa ou mole. Os líquidos podem ser engrossados com leite em pó, farinha maizena, fruta cozida, fécula ou flocos de batata. O uso de espessantes comerciais constitui uma opção igualmente eficaz. A consistência mole ou pastosa inclui: carne ou peixe desfiados e sem espinhas, triturados e misturados com molhos grossos; puré de batata ou massa bem cozida; leguminosas trituradas e/ou coadas; cereais cozidos e liquefeitos; legumes cozidos do tipo esparregado; queijo fresco ou em creme; papas de fruta cozida com iogurte; gelatina; néctares grossos e pudins. O empadão, o soufflé, a quiche, e a omeleta, podendo apresentar variedade nos ingredientes, são opções de apresentação de pratos para idosos com dificuldade em engolir alimentos líquidos. Nesta situação, é conveniente evitar alimentos que se esfarelem facilmente, como arroz seco, tostas, pão seco ou bolachas.

Quando o idoso com Alzheimer em fase avançada da doença apresenta desnutrição, acompanhada por falta de apetite, emagrecimento excessivo e comprometimento da pele (seca e com feridas), é prioritário corrigir o estado de hidratação e garantir o aporte em calorias. Para isso, todos os métodos culinários são permitidos (cozidos, estufados, guisados, refogados, assados, fritos), desde que estimulem a ingestão alimentar. Alimentos como fruta enlatada, queijo creme, manteiga de amendoim, frutos secos desidratados (ameixas, uvas passas) ou farinhas com adição de mel, podem fazer parte da variedade das refeições, isolados ou incluídos noutros pratos, de acordo com a tolerância. Os suplementos hipercalóricos disponíveis no mercado em diversos sabores e consistências são aconselhados para atingir as necessidades energéticas diárias. O aporte de água pode ser obtido através de sopas, néctares de fruta, chá ou ainda água gelificada, dados em intervalos regulares e em pequenas quantidades de cada vez.

Cada idoso com Alzheimer constitui assim um desafio para toda a família, que não deve esquecer a influência genética deste tipo de demência. Por isso, uma actividade física regular, uma alimentação completa, variada e moderada, e uma adequada estimulação intelectual, devem fazer parte do estilo de vida o mais precocemente possível, sem esquecer que nunca é tarde para a adopção de hábitos saudáveis.


 


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