JULHO 2009
"PREVENçãO é FUNDAMENTAL NO COMBATE àS ALERGIAS"

O Dr. Fernando Drumond Borges sublinha que as pessoas alérgicas podem ter uma qualidade de vida equiparável às pessoas não-alérgicas, desde que façam a medicação correcta e tomem as precauções adequadas. Em entrevista à Newsletter da Farmácia do Caniço, o especialista em imuno-alergologia fala dos cuidados a ter no combate a várias alergias, com especial incidência na asma e nas rinites.

Quais são as alergias mais frequentes na Região Autónoma da Madeira?
As alergias mais frequentes tanto aqui como no Continente são as asmas e as rinites. As causas mais frequentes para estas alergias são os ácaros que se encontram no pó da casa, podendo ser também provocadas pelos pólenes, embora estas sejam mais raras. A Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) faz uma publicitação semanal dos níveis do pólen para o país inteiro. Portanto, as pessoas sabem de antemão qual é o nível previsível dos pólenes, podendo dessa forma tomar as precauções adequadas no caso de terem alergia aos pólenes.

O que devem fazer as pessoas que têm essas alergias?
A época mais frequente de polinização vai de meados de Janeiro até Maio, coincidindo com a Primavera. Existem outros pólenes que estão presentes todo o ano, mas esta é a época que causa mais alergias e é mais incomodativa para as pessoas alérgicas. Nestas alturas, essas pessoas devem evitar passeios ao campo, dormir de janela fechada para os pólenes não entrarem e também devem ir à praia. Em relação aos ácaros do pó da casa, as duas épocas piores são a Primavera e o Outono. Os ácaros podem encontrar-se, sobretudo, nos quartos de dormir, especialmente nos colchões, porque os ácaros multiplicam-se mais em ambientes quentes e húmidos. Uma pessoa que tenha alergia aos ácaros não deve ter nada que acumule pó, como cortinas pesadas, cobertores com pelo, peluches, etc. O quarto deve ser simples, com o mínimo possível de coisas e deve ser aspirado todos os dias, inclusive aconselhamos também a aspirar o colchão. Para aqueles que têm alergias mais intensas, há coberturas próprias anti-alérgicas para os colchões e para as almofadas, que podem ser compradas em qualquer farmácia.

Fale-nos um pouco mais da asma e das rinites …
A asma é uma doença inflamatória crónica do pulmão, que deve ser tratada com anti-inflamatórios. Os anti-inflamatórios próprios para a asma são os corticóides inalantes. Também existem os bronco-dilatadores, que têm as suas indicações: provocam uma melhora no imediato porque fazem a bronco-dilatação, mas não vão ao fundo da questão porque não são corticóides. Antes, estes medicamentos só existiam em separado, mas hoje em dia há uma associação de um bronco-dilatador com um corticóide num mesmo aparelho, que é muito mais eficaz. E porquê? Porque o doente sente uma melhoria grande quando usa um bronco-dilatador. O corticóide é um tratamento de base e de fundo, em que o doente não vê uma melhoria tão rápida como ele pretende, porque o efeito não é imediato. A tendência quando estes estão separados é para o doente usar o bronco-dilatador, porque sente uma melhoria rápida, e não usar o corticóide, porque os efeitos deste não são evidentes imediatamente. Muitas vezes, nós sentimo-nos mais confiantes se prescrevermos os dois no mesmo aparelho, porque então o doente sente essa melhoria, mas nós também temos a certeza que ele está a fazer o tratamento que queremos que ele faça, que é o corticóide. Estes medicamentos têm apenas um inconveniente, que é serem mais caros.

Acredita que o Governo deveria oferecer uma maior comparticipação no custo destes medicamentos?
Esta é, de facto, uma das “guerras” que a SPAIC tem. Porque se os medicamentos das doenças crónicas têm uma comparticipação quase total, a asma, enquanto doença crónica, deveria também ter o mesmo tratamento, que não tem nem nunca teve. Os inaladores com corticóides e bronco-dilatadores não são baratos, mas são necessários. Para além deste tipo de medicação, há outro arsenal terapêutico, por exemplo os anti-histamínicos, que são mais utilizados nas rinites. Já que estamos a falar na asma e na rinite, convém alertar que a associação de ambas anda por volta dos 60% a 70%. Ou seja, quem tem uma doença, tem tendência para ter a outra.

Os medicamentos disponíveis hoje em dia são eficazes no combate às alergias?
Hoje em dia, uma pessoa alérgica tem a obrigação de ter uma qualidade de vida praticamente igual à de uma pessoa que não tenha alergia de qualquer tipo, desde que faça a medicação de uma forma correcta. Muitas vezes as pessoas perguntam-me se a sua alergia tem cura – e não tem: uma pessoa alérgica será alérgica para toda a vida. Mas bem medicadas e bem controladas, há pessoas que têm períodos de remissão que podem durar anos, unicamente porque apesar de serem alérgicas tomam as precauções adequadas. O que não se pode garantir é que no futuro não voltem a ter um ataque de asma ou de rinite, etc. O que é importante é sublinhar que uma pessoa alérgica pode ter uma qualidade de vida perfeitamente sobreponível a uma pessoa que não é alérgica, desde que se faça um diagnóstico correcto e que seja bem medicada.

Há pessoas que só descobrem que são alérgicas muitos anos depois de começarem a apresentar sintomas…
Sim, porque eventualmente é fácil confundir uma rinite com uma constipação, por exemplo. O que as pessoas devem fazer se têm esse tipo de sintomatologia de forma persistente, ou se têm dificuldade em respirar de uma forma que não é pontual, é consultar um alergologista. Não estou a dizer que as pessoas têm de ir logo a um alergologista: os médicos de família têm competência e sabem perfeitamente como fazer esse diagnóstico para depois encaminhar os doentes para a unidade de imunoalergologia do Hospital Central do Funchal, que tem um quadro de profissionais e competência para tratar todo e qualquer doente alérgico.

Considera que existem suficientes especialistas nesta área na Região Autónoma da Madeira?
Sim. Neste momento, esta unidade tem três ou quatro especialistas, o que é um número perfeitamente suficiente para a Madeira. O alergologista, em princípio, recebe os doentes que vêm enviados por um colega, se necessário manda fazer alguns testes e faz o diagnóstico. E depois esse doente, na esmagadora maioria das vezes, é devolvido ao seu médico assistente ou então regressa de seis em seis meses para fazer uma consulta de controlo. O médico de família vai fazer o acompanhamento normal desse doente: só em casos excepcionais é que esse doente pode ficar referenciado a um alergologista.

Relativamente ao contacto com animais, que conselhos dá às pessoas alérgicas?
Até há relativamente pouco tempo, nós dizíamos que as pessoas alérgicas não deveriam ter em casa animais nem com pêlo nem com penas e, em princípio, assim deve ser. A alergia ao pelo do cão é muito mais frequente que ao pêlo do gato, mas a alergia ao pêlo do gato é muito mais grave, apesar de ser mais rara. Deve esclarecer-se que a alergia não é exactamente provocada pelo pêlo em si, mas pelas proteínas da urina do animal, que ficam no pêlo. De há uns dois ou três anos a esta parte, estudos recentes, sobretudo dos franceses, mostraram que uma mulher alérgica que engravide deve ter dois gatos grandes em casa durante o seu tempo de gravidez. Isto porque, através daquele contacto, a mãe vai passando as resistências à criança e esta quando nasce vem muito mais resistente.

E acha que as pessoas aceitariam de bom grado esse conselho?
O doente tem de ter confiança no seu médico e este tem de conhecer o seu doente. Eu tenho de ter uma ligação com o doente e tenho de conhecê-lo para saber como devo transmitir a informação para que esta seja bem aceite, permitindo dessa forma atingir os resultados pretendidos. A informação é fundamental, mas fundamentais são também os cuidados que se devem ter para além da parte medicamentosa. Um doente não pode estar à espera de ser bem tratado só através da medicação e depois fazer no dia-a-dia tudo aquilo que não deve. O primeiro passo terapêutico passa por evitar aquilo que faz mal. Nós não podemos dar o dobro ou o triplo da medicação só porque o doente quer fazer uma dieta errada, para dar um exemplo.

As pessoas estão bem informadas sobre os comportamentos que devem adoptar?
Acho que a informação está passada. Julgo que dizer-se que há falta de informação corresponde a uma desculpa de mau pagador: o que existe é, isso sim, uma falta de colaboração. Digo sempre aos meus doentes que uma consulta é um contrato ético entre duas partes, em que eu como médico me comprometo a fazer o melhor que sei e o melhor que posso, mas quem se senta do outro lado também tem obrigações e se não cumprir com elas, então praticamente não vale a pena o trabalho que estamos a fazer.

Em termos de alergias a picadas de insectos, a chegada dos mosquitos “aedes aegytus” à Madeira tem provocado problemas?
Nós temos de ter algum cuidado com estes mosquitos. Felizmente não há registo algum de malária aqui na Madeira, apesar deste ser o veículo transmissor. É claro que cria algum problema, porque havendo o agente transmissor, se chega alguém que tenha malária, poderemos ter uma situação mais complicada. Para já, não há malária na Madeira, pelo que não devemos ser alarmistas. Mas estes mosquitos têm uma particularidade: são uns mosquitos pequenos, significativamente mais pequenos que aqueles que estávamos habituados a ver, mas picam através da roupa. Tenho visto várias pessoas com bolhas grandes, infectadas, à conta dos mosquitos. Em termos de alergias às picadas de insectos, as mais graves são as alergias às picadas das abelhas e das vespas, já que podem chegar a matar em dois minutos.

Em termos de prevenção, o que se pode fazer?
Utilizar redes mosquiteiras, repelentes… Em relação às abelhas e às vespas, a prevenção passa por usar roupas pouco garridas e não usar perfumes, porque as abelhas são atraídas pelos cheiros e pelas cores fortes. E quem tem essa sintomatologia deve ir ao alergologista, porque na maioria das vezes deve fazer-se acompanhar de uma injecção auto-aplicável, para poder aplicar a si própria numa situação de emergência, para então ir imediatamente a um centro médico. O nosso organismo é muito particular e todos nós reagimos de maneiras diferentes. È por isso que nós dizemos que não tratamos doenças, mas sim tratamos pessoas. E cada caso é um caso. Existem orientações, mas não há regras rígidas para tratar nada, muito menos na parte alergológica.


 


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